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Investigadores portugueses descrevem nova doença que ameaça a lebre-ibérica

05.05.2020

A lebre-ibérica, a única espécie de lebre que ocorre em Portugal, enfrenta uma nova ameaça, o Herpesvirus LeHV-5, descobriu uma equipa de investigadores portugueses.

 

Esta será a primeira descrição de um herpesvirus em lebre-ibérica (Lepus granatensis), a única espécie de lebre existente em Portugal, e cujo território se limita à Península Ibérica.

“Até à data, nunca havia sido descrito nenhum herpesvirus em qualquer espécie de lebre no mundo”, escrevem, em comunicado, os investigadores do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV I.P.), da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV-UL), do Instituto de Medicina Molecular (IMM) e do Royal Brompton & HarefieldNHS Foundation Trust.

 

Lebre adulta

 

Num artigo científico publicado a 17 de Abril na revista PLOS ONE, os investigadores descreveram a deteção e identificação do Herpesvirus LeHV-5, associado a patologia cutânea e reprodutiva.

A doença foi detectada durante a necropsia feita a lebres-ibéricas em 2018 e 2019. “Além da mixomatose também foram observadas lesões externas inesperadas”, escrevem os cientistas no artigo.

Por enquanto, ainda não se conhece qual o impacto da infecção por este herpesvírus na reprodução e mortalidade da lebre-ibérica. No entanto, os investigadores acreditam que “poderá agravar o declínio das populações selvagens” causado por uma outra doença, a mixomatose.

 

Lebre adulta

 

Na verdade, há cerca de um ano foi publicado um artigo científico que alertava para o facto desta espécie estar a perder a batalha contra uma nova estirpe do vírus que já dizimou as populações de coelho-bravo, a Mixomatose.

Desde essa altura, dizem estes investigadores, “a mixomatose foi responsável por mortalidade muito expressiva nas populações silvestres, originando reduções estimadas entre 70 e 90% e levando a que, em 2019, a grande maioria das Associações de Caçadores decidisse interditar a caça a esta espécie para fomentar a sua recuperação”.

A mortalidade registada nesta espécie, com associação clara das duas doenças (mixomatose e herpesvirose, ambas causadas por vírus de DNA), foi demonstrada em vários animais.

A lebre-ibérica é uma das duas espécies de leporídeos existentes em Portugal. Juntamente com o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), a lebre-ibérica é uma presa chave dos ecossistemas mediterrânicos. A diminuição das suas populações já foi associada à diminuição do lince-ibérico e da águia-imperial-ibérica, salientam os investigadores.

 

Lebre juvenil

 

Contrariamente ao que acontecia com o coelho-bravo, até recentemente a lebre-ibérica não era afectada por doenças virais. Era considerada naturalmente resistente à mixomatose. Contudo, durante o Verão e Outono de 2018 foram registados surtos de mixomatose em Espanha e Portugal, respectivamente.

Agora, chega mais uma má notícia para esta espécie, o Herpesvirus LeHV-5.

Os investigadores acreditam que a associação destas duas doenças “poderá constituir uma grande ameaça à preservação desta espécie”.

Enquanto isso, continuam a tentar perceber, e aprofundar, o potencial patogénico dos dois vírus, que não apresentam quaisquer riscos para o homem.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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