Uma equipa de mais de 100 cientistas de todo o mundo descobriu que as alterações climáticas estão a afectar negativamente a reprodução das grandes aves e das aves migradoras. Por outro lado, as aves mais pequenas e sedentárias parecem sair a ganhar, revela novo estudo.
O estudo, publicado a 1 de Maio num artigo na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foi feito por 100 investigadores, entre eles os portugueses Inês Catry (CIBIO/BIOPOLIS), Rita Covas (CIBIO/BIOPOLIS), Verónica Neves (OKEANOS, Universidade dos Açores) e Jaime A. Ramos (MARE, Universidade de Coimbra).
Este trabalho, coordenado por Lucyna Halupka da Universidade de Wroclaw (Polónia), confirma que o aumento das temperaturas globais do planeta afectou negativamente a reprodução das aves migradoras e das grandes aves, enquanto que as espécies mais pequenas e sedentárias parecem estar a beneficiar.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores examinaram dados sobre a reprodução de 201 populações de 104 espécies de aves de todo o mundo entre 1970 e 2019. O estudo analisou a filogenia, a história de vida das espécies, os hábitos migratórios, a latitude, os impactos humanos directos e as alterações locais de temperatura ou precipitação.
Os resultados mostram que mais de 56% das populações de aves registaram uma tendência negativa na produção de crias, especialmente em aves grandes e migradoras, enquanto que 44% – representando maioritariamente aves pequenas e sedentárias – registaram uma tendência positiva.
Algumas das espécies com as maiores reduções na produção de crias incluem a cegonha-branca (ave grande e migradora), o quebra-ossos (ave grande, não migradora) e a andorinha-dos-beirais (ave pequena e migradora). Pelo contrário, as espécies de aves com aumento na produção de crias incluem o papa-moscas-de-colar, o gavião-da-Europa e o torcicolo.
Tudo parece indicar que aves não migradoras e pequenas poderão adaptar-se melhor às perturbações ecológicas resultantes das alterações climáticas, enquanto que a sobrevivência de grandes aves migradoras pode estar gravemente comprometida à medida que as temperaturas aumentam.
Os investigadores afirmam desconhecer, para já, as razões desta diferenciação mas acreditam que isto poderá acontecer porque as aves maiores tendem a ter menos crias, em geral, levam mais tempo a atingir a maturidade e têm mais tempo entre gerações.
Por outro lado, as aves mais pequenas tendem a dispersar o calor mais facilmente, o que poderá ajudá-las a regular a temperatura corporal de forma mais eficiente.
Além disso, as alterações climáticas podem ainda reduzir a disponibilidade de alimento e de água em algumas áreas e as aves mais pequenas podem estar mais bem equipadas para competir por recursos limitados.
No geral, os autores atribuem as alterações na produção de crias aos efeitos combinados do aquecimento global sobre as características ecológicas e de história de vida das espécies.