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Gaivota-de-patas-amarelas, com a plumagem característica a partir do quarto ano de idade. Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

Gaivotas dispersam sementes de plantas (incluindo exóticas) dentro das cidades

09.02.2022

As gaivotas são capazes de dispersar sementes de plantas (incluindo exóticas) em Barcelona através dos seus movimentos dentro e fora da cidade, revela um novo estudo internacional publicado na revista Science of the Total Environment.

A equipa de investigadores estudou os movimentos de 20 gaivotas-de-patas-amarelas (Larus michahellis), marcadas com dispositivos GPS. Esta é uma das espécies de gaivotas mais comuns na cidade de Barcelona, entre 2018 e 2019. Em Portugal, um estudo do final de 2021 concluiu que um terço das gaivotas-de-patas-amarelas já fazem ninho em vilas e cidades do nosso país.

Gaivota-de-patas-amarelas. Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

A gaivota-de-patas-amarelas é uma ave marinha com populações estáveis em zonas urbanas como Barcelona e está adaptada a explorar os recursos humanos.

O facto de se alimentar de presas situadas em diferentes posições da cadeia alimentar faz com que tenha um papel importante enquanto espécie que dispersa sementes. Esta investigação encontrou sementes de 27 espécies diferentes de plantas no trato digestivo destas gaivotas.

Os resultados deste estudo, publicado a 29 de Janeiro na revista cience of the Total Environment, indicam que mais de 1.000 sementes são dispersadas por dia pelas gaivotas dentro e fora dos limites da cidade de Barcelona. A maioria das sementes (95%) são transportadas dentro da cidade a distâncias médias de cerca de 700 metros. Os outros 5% podem ser transportadas até uma distância máxima de 35 quilómetros, além dos limites da cidade.

Das sementes que são dispersadas dentro da cidade, cerca de 30% são depositadas em zonas verdes urbanas, adequadas ao estabelecimento das sementes (zonas arbustivas, parques verdes e prados urbanos).

Por isso, o estudo sugere que “as gaivotas são vectores importantes de dispersão entre zonas verdes urbanas”, segundo um comunicado da Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC).

Segundo um comunicado desta Estação Biológica, as aves podem ingerir as sementes directamente ou ingerir outras aves mais pequenas que as tenham ingerido previamente. Estas sementes são depositadas em outros lugares depois de passarem pelo trato digestivo das aves.

No âmbito deste estudo, liderado pela EBD-CSIC e pelo Institut de Ciències Del Mar (ICM-CSIC), os investigadores concluíram que a maioria das sementes encontradas não tinham frutos carnudos e eram pequenas. Isto indica que as gaivotas as adquiriram através do consumo de outras espécies presa de menor dimensão, como pombos ou periquitos-de-colar, aves que são principalmente granívoras. Por outro lado também foram encontradas outras espécies de plantas com sementes maiores e frutos carnudos que, por isso, terão sido consumidas directamente pelas gaivotas.

“As aves podem ter um papel fundamental na dispersão de plantas, incluindo de espécies exóticas”, explica, em comunicado, Víctor Martín, investigador da EBD-CSIC.

No estudo foram identificadas sete espécies exóticas que são dispersadas por gaivotas, como a milhã-pé-de-galo (Echinochloa crus-galli), a Solanum elaeagnifolium e a palmeira-de-leque-mexicana (Washingtonia robusta).

“Se esta dispersão acontece nas cidades pode causar problemas ecológicos e económicos relacionados com a gestão de zonas urbanas verdes, em especial quando as plantas que se dispersam são espécies invasoras, o que afecta a biodiversidade local dos ecossistemas urbanos”, acrescenta o investigador Víctor Martín.

Os investigadores defendem que entender melhor o papel das aves na dispersão de plantas é importante para prever a expansão das espécies exóticas e para planear medidas de controlo.

“Esta investigação abre a porta a outros estudos sobre como as aves podem contribuir para a expansão de espécies exóticas nas cidades”, sublinha Raül Aymí, investigador do ICO (Institut Català d’Ornitologia).

Neste estudo colaboraram ainda investigadores da Agencia de Salut Publica de Barcelona e do Centro de Estudos Ecológicos da Hungria.


Agora é a sua vez.

Aprenda a identificar estas cinco gaivotas de Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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