A indústria mundial do chocolate está a causar a destruição a larga escala das florestas húmidas da África ocidental, revela hoje uma investigação do jornal britânico The Guardian.
Comerciantes de cacau estão a vender a marcas como a Mars e a Nestlé grãos cultivados de forma ilegal dentro de áreas protegidas na Costa do Marfim. Este país, de onde vem 40% do cacau a nível mundial, já perdeu mais de 80% das suas florestas húmidas desde 1960.
O que está a acontecer é que o cacau cultivado ilegalmente é misturado com cacau “limpo” e entra assim na cadeia de fornecimento de marcas que produzem as barras de chocolate Mars, Milka e os bombons Ferrero Rocher, por exemplo.
O The Guardian viajou pela Costa do Marfim e trouxe provas de que as florestas húmidas estão a ser abatidas para dar lugar a plantações de cacau. Além disso, neste artigo, denuncia que as autoridades locais são incentivadas a olhar para o outro lado.
Cerca de 70% do cacau a nível mundial é produzido por dois milhões de agricultores numa faixa que vai desde a Serra Leoa aos Camarões; a Costa do Marfim e o Gana são os maiores produtores e também as maiores vítimas da desflorestação. Segundo o jornal britânico, a Costa do Marfim é o país africano que tem o ritmo de desflorestação mais rápido e hoje apenas 4% do país tem cobertura florestal. Só em 2014 perdeu 328 mil hectares de floresta.
Hoje, a organização ambiental Mighty Earth publicou o relatório “O Lado Negro do Chocolate” sobre a desflorestação causada pelas plantações de cacau, onde alerta para o facto de, se nada for feito, em 2030 não haverá floresta naquele país.
“Em vários parques nacionais e em outras áreas protegidas, 90% ou mais de superfície foi convertida em plantações de cacau”, escreve a Mighty Earth. “Na Costa do Marfim, a desflorestação empurrou os chimpanzés para pequenas bolsas de floresta e reduziu a população de elefantes daquele país para entre 200 a 400 animais, quando chegou a ser de vários milhares.”
Contactadas pelo The Guardian, as maiores empresas chocolateiras admitem o problema da desflorestação para produção de cacau e dizem estar comprometidas a resolvê-lo. “Sabemos que o cacau sustentável é um desafio demasiado grande para uma empresa sozinha resolver. É por isso que estamos a criar parcerias com outros nesta indústria e tentar mudar as coisas a uma escala global”, disse Barry Parkin, responsável pela Sustentabilidade na Mars.