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Florestas africanas estão a desaparecer para saciar indústria do chocolate

13.09.2017

A indústria mundial do chocolate está a causar a destruição a larga escala das florestas húmidas da África ocidental, revela hoje uma investigação do jornal britânico The Guardian.

 

Comerciantes de cacau estão a vender a marcas como a Mars e a Nestlé grãos cultivados de forma ilegal dentro de áreas protegidas na Costa do Marfim. Este país, de onde vem 40% do cacau a nível mundial, já perdeu mais de 80% das suas florestas húmidas desde 1960.

O que está a acontecer é que o cacau cultivado ilegalmente é misturado com cacau “limpo” e entra assim na cadeia de fornecimento de marcas que produzem as barras de chocolate Mars, Milka e os bombons Ferrero Rocher, por exemplo.

O The Guardian viajou pela Costa do Marfim e trouxe provas de que as florestas húmidas estão a ser abatidas para dar lugar a plantações de cacau. Além disso, neste artigo, denuncia que as autoridades locais são incentivadas a olhar para o outro lado.

Cerca de 70% do cacau a nível mundial é produzido por dois milhões de agricultores numa faixa que vai desde a Serra Leoa aos Camarões; a Costa do Marfim e o Gana são os maiores produtores e também as maiores vítimas da desflorestação. Segundo o jornal britânico, a Costa do Marfim é o país africano que tem o ritmo de desflorestação mais rápido e hoje apenas 4% do país tem cobertura florestal. Só em 2014 perdeu 328 mil hectares de floresta.

Hoje, a organização ambiental Mighty Earth publicou o relatório “O Lado Negro do Chocolate” sobre a desflorestação causada pelas plantações de cacau, onde alerta para o facto de, se nada for feito, em 2030 não haverá floresta naquele país.

“Em vários parques nacionais e em outras áreas protegidas, 90% ou mais de superfície foi convertida em plantações de cacau”, escreve a Mighty Earth. “Na Costa do Marfim, a desflorestação empurrou os chimpanzés para pequenas bolsas de floresta e reduziu a população de elefantes daquele país para entre 200 a 400 animais, quando chegou a ser de vários milhares.”

Contactadas pelo The Guardian, as maiores empresas chocolateiras admitem o problema da desflorestação para produção de cacau e dizem estar comprometidas a resolvê-lo. “Sabemos que o cacau sustentável é um desafio demasiado grande para uma empresa sozinha resolver. É por isso que estamos a criar parcerias com outros nesta indústria e tentar mudar as coisas a uma escala global”, disse Barry Parkin, responsável pela Sustentabilidade na Mars.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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