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tubarão-anequim de perfil, dentro da água
Tubarão anequim fotografado ao largo dos Açores. Foto: Patrick Doll/Wiki Commons

EUA e União Europeia travam medidas de protecção dos tubarões mako

26.11.2019

Washington e Bruxelas bloquearam a adopção de um embargo internacional pedido pelos cientistas para as pescas deste tubarão, no encontro anual do ICCAT.

A proposta de pescas zero para os tubarões mako (Isurus oxyrinchus) do Atlântico Norte não conseguiu o consenso necessário para ser aprovada esta segunda-feira em Mallorca, Espanha, no último dia da reunião anual da International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas (ICCAT), organização de Estados-membros responsável pela conservação de atuns e de espécies semelhantes no Oceano Atlântico.

Um total de 10 países avançaram com esta proposta, que se baseia em dados dos cientistas do ICCAT: Senegal, Canadá, Gâmbia, Gabão, Panamá, Libéria, Guatemala, Angola, El Salvador e Egipto. Já outros seis Estados deram o seu apoio: Noruega, Guiné-Bissau, Uruguai, Japão, China e Taiwan.

Mas tanto a União Europeia (UE) como os EUA avançaram com propostas concorrentes, tornando-se “os principais obstáculos à adopção de protecções urgentemente necessárias para os tubarões mako”, afirmam os conservacionistas da Shark League for the Atlantic and Mediterranean, em comunicado. Apesar de Bruxelas não conseguir mais nenhum apoiante e os EUA serem acompanhados apenas pelo Curaçao, isso bastou para impedir que a proposta de pescas zero tivesse “luz verde”.

tubarão-anequim de perfil, dentro da água
Foto: Patrick Doll/Wiki Commons

O tubarão mako, também conhecido por tubarão-anequim, está classificado como Em Perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Pode atingir mais de quatro metros de comprimento e habita as águas temperadas e tropicais de todos os oceanos, incluindo águas portuguesas. Mas está fortemente ameaçado pela sobrepesca, pois é considerado um tubarão “particularmente valioso, procurado pela sua carne, barbatanas e por desporto”.

“Os makos são pescados por muitas nações em todo o mundo e no entanto não estão sujeitos a qualquer quota internacional de pescas”, nota a Shark League, coligação que junta várias organizações ambientais ligadas à conservação de tubarões e de raias.

Espanha é a maior responsável

No Atlântico Norte, “a Espanha é responsável por mais pescas de makos do que qualquer outro país”, sublinha a coligação. Mas Portugal também tem sido apontado como um dos grandes “campeões” na captura desta espécie.

Em termos globais, os dados relativos às descargas registadas de makos em 2018 apontam a União Europeia como a principal envolvida na pesca destes tubarões. Estados Unidos, Senegal e Canadá ocupam respectivamente o terceiro, quarto e quinto lugares.

Estes animais são especialmente vulneráveis à sobrepesca porque as fêmeas só atingem a maturidade sexual entre os 18 e 21 anos de idade. A juntar a isso, o período de gestação é longo – dura entre 15 e 18 meses – e a espécie só se costuma reproduzir de três em três anos.

“Os cientistas do ICCAT estimam que esta população pode levar quatro ou cinco décadas para recuperar, mesmo que a pesca pare. A falta de consenso permite que continue o ‘status quo’ das pescas em níveis insustentáveis.” A preocupação dos conservacionistas estende-se ao Atlântico Sul, onde “os makos estão num percurso semelhante”.

Mais limites para o tubarão-azul

Em contrapartida, os participantes na reunião do ICCAT aprovaram novos limites inovadores para o tubarão-azul (Prionace glauca), que “representam uma estreia a nível mundial”. “Limites baseados na ciência para a tonelagem permitida no que respeita às descargas de tubarão-azul [nas lotas] vão ser estabelecidos, tanto para o Atlântico Norte como para o Atlântico Sul.”

Por outro lado, um número recorde de participantes – 33 dos 47 presentes no encontro – apoiaram uma proposta para se reforçar a proibição do ICCAT no que respeita ao ‘finning’.

Em causa está o corte das barbatanas de tubarões, quando estes são pescados, e o abandono do resto do corpo no mar – muitas vezes com os animais ainda vivos mas sem hipóteses de sobrevivência. No entanto, “tal como têm feito repetidamente no passado, o Japão e a China bloquearam esta medida.”


Saiba mais.

Recorde cinco factos sobre as espécies de tubarões que habitam o Oceanário de Lisboa, neste artigo da Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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