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Tecelão-de-sobrancelha-branca. Foto: Derek Keats/WikiCommons

Estudo descobre que as filhas destes tecelões ajudam mais os pais do que os filhos

25.10.2024

Os tecelões-de-sobrancelha-branca (Plocepasser mahali) machos ajudam menos os seus pais do que as fêmeas porque estão muito ocupados a procurar novos territórios para viver e se reproduzir, descobriu um novo estudo da Universidade britânica de Exeter.

O estudo, publicado na revista PLOS Biology, avaliou o comportamento cooperativo e os padrões de movimento do tecelão-de-sobrancelha-branca (Plocepasser mahali) no deserto de Kalahari, situado na África Austral, abrangendo partes do Botsuana, Namíbia e África do Sul. 

Estas aves vivem em grupos familiares nos quais apenas um casal dominante se reproduz; os seus descendentes, em especial as fêmeas, ajudam a alimentar as crias mais novas.

O novo estudo quis compreender por que razão em muitas sociedades de animais um sexo tende a investir mais na ajuda à família do que o outro.

“As fêmeas dos tecelões-de-sobrancelha-branca contribuem mais para o cuidado das crias mais novas do que os machos e também permanecem mais tempo nos seus grupos familiares do que os machos”, comentou, em comunicado, Pablo Capilla-Lasheras, coordenador do estudo enquanto doutorando na Universidade de Exeter e hoje a trabalhar no Instituto Ornitológico da Suíça.

“Quisemos compreender porque surgem estas diferenças entre sexos no reino animal.”

Segundo Pablo Capilla-Lasheras, “a hipótese mais provável é que o sexo que vive mais tempo na família coopera mais porque ganha com os benefícios desta cooperação a mais longo prazo”. Isto é, “o sexo que fica na sua família mais tempo poderá receber mais ajuda dos membros da família que já ajudaram no passado do que o sexo que sai do grupo mais cedo”.

Durante mais de uma década de trabalho de campo e de monitorização do comportamento cooperativo destas aves e dos seus movimentos, a equipa de investigadores sugere que, afinal, esta não é a razão.

“As nossas conclusões apontam para uma explicação alternativa que tem chamado muito menos atenção”, comentou Andrew Young, que lidera o projecto dedicado a estas aves no deserto de Kalahari.

“Em vez disso, os machos ajudam menos porque passam mais tempo a prospectar oportunidades de outros locais para viver e se reproduzir. Esses esforços acabam por compensar o menor investimento na sua família.”

Com base nestas conclusões, a equipa sugere que esta hipótese pode oferecer uma explicação mais geral para a evolução das diferenças entre sexos a nível da cooperação no reino animal do que a visão “quanto mais tempo ficares, mais irás beneficiar de teres ajudado”.

No fundo, acrescentam os autores, “este é um desafio universal que todos os organismos enfrentam, incluindo nós próprios; nunca há tempo suficiente ou energia disponível para fazer tudo ao mesmo tempo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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