O leopardo (Panthera pardus) é um dos grandes felinos mais reconhecidos por todo o mundo, mas os cientistas descobriram agora que cerca de 75% do seu território histórico está hoje perdido.
Um estudo publicado no jornal científico PeerJ analisou o território historicamente ocupado pelas nove subespécies de leopardo. Em 1750, estas ocupavam cerca de 35 milhões de quilómetros quadrados em África, na Ásia e no Médio Oriente, mas desde então, essa área reduziu-se para 8,5 milhões de quilómetros quadrados, colocando em risco o futuro da espécie.
“O leopardo é famoso por ser um animal esquivo, provavelmente a razão pela qual se demorou tanto tempo a reconhecer o seu declínio global. Os nossos resultados desafiam a ideia generalizada, em muitas zonas, de que os leopardos continuam relativamente abundantes e não estão seriamente ameaçados”, nota em comunicado o principal autor do estudo, Andrew Jacobson, da Zoological Society of London, e também membro do University College London e da National Geographic Society’s Big Cats Initiative.
Embora não esteja tão ameaçado como o tigre, por exemplo, os cientistas sublinham que o leopardo enfrenta sérias ameaças. Aliás, três das nove subespécies conhecidas já desapareceram quase completamente.
A situação é mais grave em várias regiões da Ásia, em especial na maior parte da Península Arábica e em vastas áreas da China e do Sudeste Asiático, onde quase 98% do território histórico do leopardo não existe mais.
Em África, as ameaças são especialmente grandes no Norte, com perdas de 99% do território, e nas regiões a Ocidente, onde este ‘grande gato’ perdeu 95% do habitat histórico. No Sul do continente, cerca de 49% do habitat ainda subsiste.
Embora não existam estimativas confiáveis sobre o número de leopardos, calcula-se que subsistem pouco mais de 100.000 animais em África e talvez pouco menos de 10.000, na Ásia, indica ainda uma notícia do The Guardian.
“A natureza secreta do leopardo, em conjunto com a aparição ocasional e completamente às claras em mega-cidades como Mumbai e Joanesburgo perpetuam a ideia errada de que estes grandes felinos continuam a prosperar na natureza – quando na verdade, o nosso estudo salienta que eles estão cada vez mais ameaçados”, sublinhou por seu turno Luke Dollar, co-autor do estudo e membro da National Geographic Society’s Big Cats Initiative.
O leopardo é conhecido por se adaptar melhor a viver em paisagens urbanizadas do que outros grandes felinos – desde que tenha abrigo, presas selvagens para caçar e não seja perseguido por habitantes locais.
No entanto, alertam os cientistas, as ameaças são muitas: a perda de habitat para as culturas e para a criação de gado doméstico, além de conflitos com os criadores de gado, juntaram-se ao comércio ilegal de peles e à caça de troféus.
Os autores do estudo apontam também o dedo à falta de pesquisas científicas sobre algumas das subespécies, três das quais “foram objecto de menos do que cinco estudos publicados durante os últimos 15 anos”, sublinha Andrew Jacobson. Uma destas, o leopardo de Java, está hoje classificada como Em Perigo Crítico de extinção.
Ainda assim, nalgumas regiões as populações de leopardo parecem ter estabilizado, graças a medidas contra a caça ilegal e a criação de áreas protegidas, nomeadamente nas Montanhas do Cáucaso e na zona entre o Extremo Oriente da Rússia e o Nordeste da China.
Josph Lemeris Jr, outro co-autor do estudo, opta por deixar uma nota de esperança, com um alerta no final: “Os leopardos têm uma dieta alargada e são extraordinariamente adaptáveis. Por vezes, acabar com as acções persecutórias dos governos ou de populações locais é o suficiente para dar início à recuperação, mas como muitas populações ultrapassam fronteiras de vários países, a cooperação política é crítica.”
A análise agora divulgada demorou cerca de três anos e percorreu mais de 1300 informações, relativas a mais de 2.500 localizações, sobre o território histórico e actual do leopardo.