Em 2018, os países europeus que se juntaram para trazer de volta uma espécie de abutre, o quebra-ossos (Gypaetus barbatus), saldou-se em 2018 pela libertação de 13 aves. As últimas duas foram reintroduzidas na Suíça no domingo passado.
Fredueli e Finja, um macho e uma fêmea juvenis, foram libertados a 17 de Junho no Refúgio de Vida Selvagem suíço Huetstock, perto de Melchsee-Frutt, segundo a Vulture Conservation Foundation (VCF).
Os dois nasceram no centro de reprodução em cativeiro de Valcallent (Espanha) que faz parte da rede europeia de 38 centros dedicada a esta espécie, coordenada pela fundação.
Depois de fazerem a longa viagem desde Espanha, os quebra-ossos foram recebidos por mais de 250 apaixonados por abutres que se reuniram em Tannalp para presenciar a sua libertação. Mas antes de serem devolvidos à natureza, os técnicos conservacionistas colocaram nestes dois abutres transmissores GPS para conseguirem monitorizar os seus movimentos.
Os quebra-ossos, um dos maiores abutres do Velho Mundo, foram dizimados da Suíça no século XIX. Actualmente, a população de quebra-ossos na Suíça começa lentamente a crescer. Desde 2015, a VCF e a Fundação suíça ProBartgeier já libertaram perto de Melchsee-Frutt sete quebra-ossos : três em 2015, dois em 2016 e dois em 2017. Desses sete, dois morreram. Senza caiu de um penhasco pouco depois de ter sido libertada e Alois morreu, provavelmente, como resultado da colisão com uma linha eléctrica.
Os quebra-ossos suíços fazem parte da população selvagem dos Alpes, apoiada desde 1986 por um projecto de reintrodução da espécie. Actualmente, “a composição genética da população reintroduzida nos Alpes ainda é menos diversa do que seria esperado de uma população com este tamanho (cerca de 50 casais reprodutores)”, salienta a VCF. Todas as aves reintroduzidas têm origem num reduzido número de linhas genéticas de animais fundadores.
Para tentar resolver esta questão, a rede dos 38 centros monitoria a informação genética das aves para garantir que os abutres libertados são geneticamente diversos. Por exemplo, tanto Finja como Fredueli pertencem a linhas genéticas que não estão representadas na população selvagem alpina.
“As reintroduções nos Alpes ainda continuam para aumentar a diversidade genética” da espécie, explica a Fundação. “Os indivíduos libertados foram escolhidos um a um para incluir linhas genéticas raras.”
O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha. Em Portugal está dado como extinto. Mas em Maio deste ano, a VCF revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve. A última vez que alguém tinha visto esta espécie em Portugal terá sido no final do século XIX.
Em 2017 foram reintroduzidas na natureza 18 crias de quebra-ossos no âmbito de quatro projectos de conservação da espécie: seis na Andaluzia, duas na Córsega, quatro em Grands Causses/Massif Central e seis nos Alpes/Pré-Alpes.
[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:
Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.
Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.
O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.
Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.
Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.