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Esta foi a borboleta que “invadiu” o relvado na final do Euro 2016

11.07.2016

Os jogadores portugueses e franceses e os árbitros não estiveram sozinhos nos relvados do Stade de France, em Paris, na noite da final do Campeonato Europeu de Futebol 2016. Milhares de borboletas nocturnas da espécie Y de Prata, em plena migração, quiseram ver o jogo dentro do campo.

 

A pequena Y de Prata (Autographa gamma) passou a fazer parte da História na noite em que Portugal se sagrou campeão europeu de futebol frente à França.

Durante os 120 minutos do jogo, as traças foram uma presença constante. Havia borboletas na cara do capitão da equipa portuguesa, Cristiano Ronaldo, quando, lesionado, se sentou no relvado, mas também nas redes das balizas, nos casacos dos selecionadores e a esvoaçar rente à cabeça dos jogadores em pleno relvado.

 

 

Acontece que a noite do jogo coincidiu com a época de migração em massa desta espécie de Sul para Norte, um fenómeno que não acontece todos os anos mas que não é raro, explicou hoje à Wilder Albano Soares, do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. Estas borboletas estarão em migração para se reproduzirem mais a Norte. “Tem tudo a ver com a reprodução. Muitas espécies têm este tipo de resposta a condições climáticas favoráveis, que se traduzem também em maior disponibilidade alimentar”, acrescentou. O alcance destas migrações podem ser de centenas de quilómetros e as borboletas nocturnas que migram da Península Ibérica podem chegar ao Reino Unido, por exemplo.

“As luzes do estádio podem ter concentrado e tornado mais visível o fenómeno”, acrescentou o especialista. Tanto mais que as luzes terão sido deixadas ligadas na noite anterior. Segundo disse Richard Fox, da Butterfly Conservation, ao jornal britânico The Independent, “as traças terão sido atraídas pelas luzes no sábado à noite e estiveram quietas no relvado todo o dia de domingo. Quando todas aquelas pessoas entraram em campo, atrás de uma bola, tiveram de sair da frente e começaram a voar por todo o estádio”.

 

 

A Y de Prata é uma das 2.500 espécies de borboletas nocturnas que ocorrem em Portugal e é considerada comum. Tem uma envergadura de asa de cerca de 40 milímetros e a sua característica distintiva é a mancha branca em forma de Y nas asas (o Y é o símbolo para a letra grega gamma, daí o nome científico da espécie). Em Portugal, os “adultos podem ser encontrados durante praticamente todo o ano”, disse Albano Soares.

Os ovos são depositados nas folhas de uma grande variedade de plantas comuns, das quais a lagarta se irá alimentar. Já em borboleta, é comum observá-la a alimentar-se do néctar das flores do campo durante o Verão ou a descansar, muitas vezes de cabeça para baixo. Segundo o Guia de Campo para as Borboletas e outros Insectos da Bretanha, esta espécie de voo veloz é um migrador regular entre o Continente e as ilhas britânicas.

Albano Soares lembra-se de ver esta traça em grandes quantidades em Portugal, “mesmo durante o dia e em locais com pouca luz”. “As movimentações massivas desta espécie também estão registadas em Portugal, como o que aconteceu em 2006”. Nesses momentos “são avistados centenas ou milhares de exemplares em praticamente todo o lado durante uns dias”.

E não há razões para alarmes perante migrações em massa de Y de Prata, perfeitamente inofensivas. Ainda assim, estas migrações “podem causar danos em algumas colheitas, como as couves (que fazem parte do menu da espécie) mas são sempre relativamente pequenos.” Por um lado, “estas migrações não acontecem todos os anos e por outro as lagartas alimentam-se de um vasto número de plantas, muitas delas selvagens, o que torna a pressão sobre as nossas culturas mais suportável”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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