Com a erradicação dos ratos-pretos da Berlenga, já há condições para a nidificação de uma espécie ameaçada, os roques-de-castro (Hydrobates castro). Na ilha nasceu agora uma cria, pela primeira vez desde que há registo.
“Esta é a prova viva de que podemos fazer a diferença”, festeja Joana Andrade, coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e do Life Berlengas.
Este projecto co-financiado pela União Europeia realizou vários trabalhos de conservação durante os últimos quatro anos, incluindo a erradicação de ratos-pretos e a construção de ninhos artificiais para várias espécies.
Foi num dos 20 ninhos artificiais para roques-de-castro instalados na ilha principal do arquipélago, ao largo de Peniche, que nasceu agora uma primeira cria desta espécie ameaçada.
“Poucas pessoas têm a sorte de ver um roque-de-castro”, indica a SPEA em comunicado, uma vez que esta pequena ave “passa a maior parte da vida no mar”. “Quando vem a terra para se reproduzir, continua a ser esquiva. Faz o ninho em cavidades em escarpas inacessíveis, ou em fendas nas rochas em ilhas desertas, para se manter a salvo dos predadores.”
Foi no Outono passado que um casal da espécie decidiu nidificar pela primeira vez na Berlenga, pelo menos desde que há registos históricos, aproveitando um dos vasos de cerâmica onde tinham sido instalados os ninhos artificiais.
Para atrair estas aves para a ilha, a equipa usou gravações com chamamentos que imitam os sons típicos de uma colónia desta espécie. Dentro dos ninhos, instalaram também sacos de tecido usados em campanhas de anilhagem, que conservavam o cheiro típico desta espécie.
“Não estávamos à espera de que acontecesse tão depressa”, disse à Wilder Joana Andrade em Novembro passado, quando anunciaram a nidificação de um primeiro casal na ilha.
Escuros e com uma faixa branca no dorso, os roques-de-castro estão classificados como espécie em situação Vulnerável. Em Portugal, eram conhecidos até agora apenas na Madeira e Açores e ainda nos Farilhões, um grupo de pequenos ilhéus no arquipélago das Berlengas.
Agora, os próximos tempos vão ser decisivos para que estas aves continuem a nidificar na ilha principal do arquipélago. Joana Andrade quer acreditar que sim: “Esperamos que esta cria seja a primeira dr muitas. O sucesso da espécie na Berlenga depende de todos: visitantes, autoridades, operadores turísticos, pescadores… todos podemos ajudar estas aves a vingar.”
O Life Berlengas termina em Junho deste ano. Além da SPEA, que é coordenadora, são parceiros o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Peniche e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A Escola Superior de Tecnologia e do Mar e o Instituto Politécnico de Coimbra são observadores.
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Conheça mais sobre os roques-de-castro no Atlas das Aves Marinhas de Portugal, aqui.
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