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Foto: Juan C. Adam

Esta ave da ilha da Madeira depende do futuro da floresta Laurissilva

11.01.2017

A campanha de crowdfunding lançada em Novembro pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), que termina agora, angariou 3.100 euros, “bem longe da meta ambicionada”. A Wilder falou com a associação sobre o futuro deste projecto.

 

A meta desta campanha de angariação de fundos eram 55.000 euros, assegurando desta forma a continuação das acções do projecto LIFE Fura-bardos, iniciado na ilha da Madeira em 2013 e financiado pela União Europeia até ao final do próximo mês de Junho.

Em causa está uma subspécie considerada prioritária, incluída no anexo I da Directiva Aves, pelo que é alvo de medidas de conservação especial que dizem respeito ao seu habitat: a floresta Laurissilva.

“O principal objectivo deste projecto foi a conservação de uma subespécie prioritária através da recuperação e protecção do seu habitat natural – a floresta Laurissilva da Madeira, que apresenta características específicas e uma biodiversidade excepcional, com um valor biológico inestimável”, explicou à Wilder Cátia Gouveia, coordenadora da SPEA Madeira e do LIFE Fura-bardos.

 

Foto: Juan C. Adam

 

Desde sempre que esta ave de rapina diurna tem estado ligada à floresta Laurissilva, habitat que em Portugal subsiste apenas nos arquipélagos da Madeira e Açores. É nas árvores de grande porte daquela floresta, na ilha da Madeira, que constrói os seus ninhos, mas caça também nos campos agrícolas ali próximos.

Apesar de terem ficado longe da meta, os responsáveis pelo LIFE fura-bardos prometem que não vão baixar os braços. “A nossa equipa está motivada em assegurar a continuidade do projecto, mesmo após o financiamento do programa LIFE, com a procura activa de fundos e potenciais empresas ou entidades públicas que queiram apoiar este trabalho.”

Desde o início, o projecto já contou com cerca de 60 técnicos e 20 voluntários e estagiários, que tiveram em mãos “o controle de espécies invasoras em 64 hectares de floresta e a limpeza de 36 hectares de floresta ardida, posteriormente reflorestada”, através da produção de “350 kg de sementes que originaram cerca de 60.000 plantas nativas”.

Ao mesmo tempo, tentou-se saber mais sobre esta espécie ainda pouco conhecida, para a qual as últimas estimativas apontavam uma população de 1.000 a 2.500 aves. Passados três anos já se conhecem cerca de uma centena de ninhos de fura-bardos e os dados recolhidos estão a acabar de ser analisados. “Estes dados serão cruciais para definir as acções futuras de conservação desta espécie”, indica a coordenadora.

Cátia Gouveia ressalva que não é só o fura-bardos que está em jogo: a recuperação das áreas de floresta Laurissilva da Madeira vai beneficiar também “numerosas outras espécies de aves, invertebrados e plantas, listadas nas diretivas europeias”.

Mas há ainda muito trabalho a fazer. “Apoiar a manutenção das áreas de floresta nativa, livres de plantas invasoras e protegidas dos incêndios, apoiar a produção de plantas nativas para continuar a reflorestar áreas do projecto e a monitorização dos 98 ninhos encontrados para a espécie”, enumera.

Nos planos da SPEA está ainda continuar o programa de educação ambiental, que até agora chegou a 3.000 crianças da região.

O projecto estende-se a cinco ilhas das Canárias onde ocorre o fura-bardos, onde a Sociedade Espanhola de Ornitologia é parceira da SPEA e está também envolvida na busca de financiamento para continuar o trabalho.

 

Foto: Juan C. Adam

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se desejar contribuir para a continuidade dos trabalhos para a conservação do fura-bardos e da floresta Laurissilva na ilha da Madeira, Cátia Gouveia explica que eventuais donativos podem ser transferidos para o IBAN do Life Fura-bardos.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

E se desejar saber mais sobre o fura-bardos, pode assistir a uma série de quatro documentários que desvendam os detalhes da ecologia desta ave e da floresta Laurissilva, que estreou esta semana com o primeiro episódio, aqui.

Se estiver na ilha da Madeira, pode ainda procurar esta ave, com a ajuda das descrições de Cátia Gouveia, que convida todos os interessados a deslocarem-se à sede da SPEA na região. “Teremos o maior gosto em desvendar alguns dos melhores ‘spots’ para observação destas magníficas aves.”

“O fura-bardos é uma espécie territorial que inicia a sua reprodução em Fevereiro, com a preparação dos ninhos. A partir desta altura, as aves tendencialmente ficam mais perto do seu território de nidificação. Entre Maio e Junho eclodem as primeiras crias, as quais, nos primeiros voos, vocalizam muito, tornando-se mais facilmente visíveis.

Embora difícil de observar, devido ao seu comportamento esquivo, o fura-bardos é facilmente reconhecível. Tem cerca de 28 a 37 cm de comprimento e 60 a 80 cm de envergadura, asas curtas, largas e arredondadas, cauda comprida e patas amarelas. O macho é mais pequeno (137g) e tem o abdómen castanho-avermelhado, sendo a fêmea maior (234g) e o seu abdómen cinzento-acastanhado.”

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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