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Tartaranhão-caçador. Foto: Dennis Jacobsen/Shutterstock

Espanha escolhe tartaranhão-caçador como Ave do Ano 2023

11.01.2023

O tartaranhão-caçador (Circus pygargus), que em Portugal está Em Perigo de extinção, foi eleito Ave do Ano 2023 em Espanha, por votação popular, revelou hoje a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

Depois de uma votação aberta e participativa, o tartaranhão-caçador foi eleito como Ave do Ano com 3.187 votos, seguido do abutre-do-Egpito (Neophron percnopterus), com 2.355 votos, e do cortiçol-de-barriga-branca (Pterocles alchata), com 2.105 votos.

Tartaranhão-caçador. Foto: Dennis Jacobsen/Shutterstock

As três espécies candidatas desde ano estão ameaçadas, salientou a SEO/Birdlife. Na verdade, a iniciativa Ave do Ano pretende alertar para espécies cujas populações estão em declínio e a enfrentar graves ameaças à sua sobrevivência.

O tartaranhão-caçador, classificada em Espanha como espécie Vulnerável, é um símbolo da singularidade e valor ecológico dos ambientes agrícolas onde vive. “Poucas rapinas estão tão ligadas às actividades humanas como o gracioso tartaranhão-caçador, uma espécie que, em Espanha, depende muito de grandes extensões cultivadas de cereal”, como trigo e cevada, explicou a organização em comunicado.

Agora, notou Asunción Ruiz, directora executiva da SEO/Birdlife, “vamos chamar a atenção dos políticos, agricultores e cidadãos para a importância de conservar os nossos campos com vida”.

A responsável defendeu a necessidade de encontrar soluções conjuntas para evitar a destruição dos ninhos e apoiar os sistemas de exploração agrícola mais respeitosos da biodiversidade. “Devemos garantir políticas e ajudas que conservem os tartaranhões e protejam os agricultores que os têm nas suas terras.”

Tartaranhão-caçador. Foto: Tatavasco Imagenes

Esta rapina migradora, que passa os Invernos em África, pode ser vista na Península Ibérica a sobrevoar os amplos campos abertos desde a Primavera até ao final do Verão.

É uma “espécie que representa algo extremamente importante: a protecção legal de uma espécie não é suficiente. A mensagem que nos dá o tartaranhão-caçador é que não basta proteger, é preciso actuar para conservar. E que conservar é uma oportunidade para assegurar o futuro das comunidades locais que vivem no, e do, campo”.

As principais ameaças a esta espécie são a intensificação agrária, que leva à destruição dos seus ninhos, e o uso de químicos na agricultura, que mata as suas presas.

Entre 2006 e 2017, a espécie perdeu cerca de 1.500 casais em Espanha, o que representa um declínio de entre 23 e 27% em apenas uma década.

Dentro da sua área de distribuição em Espanha, os maiores declínios registam-se na Galiza, Andaluzia, Extremadura, Madrid ou Euskadi.

Segundo o último censo a esta espécie, Espanha é o país europeu mais importante para esta ave a nível numérico, seguido de França e Polónia.

Cria de tartaranhão-caçador. Foto: Antonio José Gonzalez López

Durante 2023, a SEO/Birdlife vai pedir às comunidades autónomas que adoptem medidas agro-ambientais específicas para zonas de interesse para esta espécie. Além disso, vai trabalhar para que não se instalem projectos eólicos ou fotovoltaicos ou novas linhas eléctricas em territórios considerados cruciais para a espécie.

Além disso, será revista a situação actual da espécie à escala autonómica para pedir as alterações quando for preciso, como será o caso da Extremadura. “Nesta comunidade, os resultados do último censo nacional (2017) alertam que deveria passar de Sensível a Em Perigo de extinção por causa do seu notável declínio”, considerou a SEO/Birdlife.

Desde 1988 que a SEO/Birdlife organiza a iniciativa Ave do Ano para chamar a atenção para a situação delicada de algumas espécies da avifauna espanhola.

Conheça aqui o que a organização portuguesa Palombar tem feito para conservar esta espécie em Miranda do Douro.


Saiba mais.

Cinco factos sobre o tartaranhão-caçador:

  • É a mais pequena das águias europeias. O macho tem plumagem cinzento-azulada, asas muito compridas e estreitas, corpo esguio e cauda comprida e estreita, de coloração negra. Em voo, distingue-se uma banda preta nas penas secundárias. A fêmea e os juvenis têm uma plumagem de tons castanhos-arruivados.
  • Esta é uma espécie exímia na arte da caça e da predação e não é por acaso que os adjectivos “caçador” e “caçadeira” integram os seus nomes comuns. Com movimentos ágeis, rápidos, silenciosos e precisos tem uma grande habilidade para caçar presas vivas de pequenas dimensões: aves, pequenos mamíferos, insetos e lagartos.
  • O tartaranhão-caçador é uma espécie nidificante estival, pelo que só está em Portugal a partir de meados de Março até Setembro. Esta espécie passa o Inverno em África.
  • Gosta de áreas predominantemente desarborizadas, com solos secos ou húmidos e associadas a zonas agrícolas, principalmente culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. Na região mediterrânica, estima-se que 90% dos casais nidificam no interior de searas.
  • Os principais factores de ameaça são a actividade da ceifa, intensificação da agricultura, abandono agrícola, utilização de agroquímicos, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, perturbação provocada pelas actividades humanas, abate ilegal, pilhagem e destruição de ninhos e aumento de predadores de ovos e crias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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