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Foto: Jan Svetlik

Espanha: Codorniz deve entrar para lista de espécies ameaçadas, pede SEO/Birdlife

28.12.2020

O Ano da Codorniz está prestes a terminar com um “alarmante declínio” desta ave. Por isso, a Sociedade Espanhola de Ornitologia pediu hoje que a espécie entre para o Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas de Espanha.

A 24 de Janeiro deste ano, a codorniz-comum (Coturnix coturnix) foi a espécie escolhida como Ave do Ano 2020 em Portugal e Espanha.

Passados quase 12 meses, a “situação da espécie é alarmante”, alerta, em comunicado, Ana Carricondo, coordenadora de Programas de Conservação da SEO/Birdlife.

Actualmente estão contabilizadas em Espanha apenas 225.000 codornizes. A população registou um declínio de 61% nos últimos 20 anos, segundo dados dos censos feitos pela SEO/Birdlife entre 1998 e 2019.

Em Portugal, a área de distribuição desta espécie “diminuiu 30% na última década, como resultado de alterações nas práticas agrícolas”, de acordo com dados mais recentes divulgados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

“A situação da espécie é alarmante. O declínio é tão grave que poderia cumprir os critérios de ameaça que indica a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para ser catalogada como uma espécie Em Perigo” de extinção, comentou Ana Carricondo.

A SEO/Birdlife solicitou ao Ministério para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO) que a espécie seja incluída no Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas e que seja inscrita na categoria Em Perigo de extinção.

Os motivos para incluir a codorniz nesta categoria são, segundo a SEO/Birdlife, a difícil situação das suas populações, o facto de as ameaças que pesam sobre a espécie continuarem a afectá-la nos próximos anos e o declínio superior a 50% que se prevê para as próximas gerações.

Esta organização considera que, com a classificação da codorniz “seria dado o impulso necessário e a protecção legal para que as comunidades autónomas, com competência na sua protecção, possam elaborar os respectivos planos de recuperação da espécie e ponham em marcha medidas de conservação e de melhoria do habitat, além de eliminar a pressão cinegética”.

A principal ameaça que esta espécie sofre em Espanha é a alteração dos habitats agrícolas, dos quais a codorniz depende para se alimentar e para se reproduzir.

Mas os desafios não ficam por aqui. A “forte pressão cinegética” – com mais de um milhão de indivíduos caçados anualmente, muitos deles provenientes de soltas – e a contaminação genética – causada por antigas soltas de codorniz japonesa ou de híbridos com fins cinegéticos – são uma ameaça adicional.

A esta somam-se as alterações climáticas, que poderão já estar a afectar os padrões migratórios e o seu êxito reprodutor, e possíveis problemas nas zonas onde passam o Inverno.

Em Portugal, a codorniz tem estatuto de Pouco Preocupante.

“Localmente, pode ser abundante, nomeadamente em zonas de 
ervas altas. No entanto, de uma forma geral a codorniz não é uma 
ave muito comum”, segundo o portal Aves de Portugal.

Esta espécie “ocorre como invernante, sobretudo nas zonas 
húmidas do sul, mas é uma espécie maioritariamente estival, 
encontrando-se no nosso território principalmente entre Março e 
Outubro”.

“Distribui-se de forma esparsa de norte a sul do país, 
ocorrendo sobretudo em zonas agricultadas, tanto em planície 
como em planalto.” Alimenta-se de sementes silvestres, grãos de cereais e pequenos invertebrados.

Nos meses mais frios, a codorniz quase não ocorre em Espanha. “A sua presença é escassa e pontual”, segundo a SEO/Birdlife. Nesta época do ano é uma espécie muito difícil de detectar, já que não emite o seu canto característico e é possível que passe desapercebida.

A maioria das codornizes migra no início de Setembro e durante o Outono. Ainda assim, há alguns animais que ficam em Espanha no Inverno, como consequência das alterações climáticas.

A melhor altura do ano para ver esta espécie é a Primavera, quando regressa à Península Ibérica para se reproduzir.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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