Para um montado, quanto mais musgos e líquenes melhor. Agora, uma equipa de investigadoras estudou uma forma para proteger estes pequenos seres vivos que, por serem uma espécie de esponjas e reterem água e nutrientes no solo, ajudam a regenerar sobreiros.
Musgos e líquenes cobrem parte dos cerca de 737.000 hectares de montados registados em Portugal em 2010, pelo 6º Inventário Florestal Nacional. Ajudam a reter no solo água, carbono e azoto, regulam a temperatura do solo e protegem-no da erosão. Mas o pisoteio pelo gado pode danificá-los.
Pela primeira vez, uma equipa de investigadores estudou o impacto que o pastoreio tem nos musgos e líquenes que cobrem o solo dos montados, a chamada bio-crosta do solo. Num artigo publicado agora na revista Land Degradation & Development, os investigadores concluíram que em terrenos onde o pastoreio já não é permitido há, pelo menos, sete anos, os musgos e líquenes aumentam cinco vezes.
O estudo aconteceu na Companhia das Lezírias, a cerca de 50 quilómetros de Lisboa. Foram escolhidas três áreas com intensidades diferentes de pastoreio: uma área em que os animais pastam actualmente e outras duas em que o pastoreio já não é permitido há sete e 17 anos, respectivamente.
Nos terrenos sem pastoreio há sete anos, a bio-crosta aumenta cinco vezes, sobretudo em líquenes, chegando a cobrir 17% da superfície do solo. “Este aumento tem impactos elevados no funcionamento do ecossistema, uma vez que os líquenes podem absorver e reter água por mais tempo nas suas estruturas do que os musgos”, explica um comunicado do cE3c – Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Além disso, os líquenes conseguem reduzir a temperatura do solo em 1ºC a 15 centímetros de profundidade da superfície que cobrem, “o que pode influenciar o processo de germinação das sementes no solo”.
“No momento de avaliar os serviços dos ecossistemas do montado (as bio-crostas) devem ter um lugar tão importante como os outros elementos do ecossistema”, salientou Laura Concostrina-Zubiri, investigadora do cE3c e a principal autora do artigo.
“O pastoreio é uma actividade sócio-económica fundamental no montado. No entanto, pode pôr em perigo a regeneração do sobreiro de forma indirecta, devido aos seus efeitos prejudiciais na abundância e funções cumpridas pelas bio-crostas”, acrescentou a investigadora que, desde 2014, participa num projecto para compreender melhor o papel da diversidade de líquenes, musgos e cianobactérias no funcionamento dos ecossistemas em zonas áridas.
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