Satara é a segunda cria de quebra-ossos a nascer este ano na natureza na Andaluzia. Os seus pais, Tono e Blimunda, foram os primeiros da sua espécie a voltar a reproduzir-se em liberdade em mais de 30 anos na região.
A notícia foi confirmada ontem pela Junta da Andaluzia, que partilhou um vídeo nas redes sociais onde o casal alimenta a cria num ninho construído numa escarpa, no Parque Natural de Cazorla, Segura y Las Villas, em Jaén.
https://twitter.com/MedioAmbAND/status/1244943218657177600
Tono (macho de 2006) e Blimunda (fêmea de 2010) vivem em liberdade na Andaluzia e estão juntos desde 2013. Em Abril de 2015 saíram do anonimato por serem o primeiro casal de quebra-ossos (Gypaetus barbatus) a ter uma cria em liberdade desde 1983, ano em que a espécie se extinguiu na Andaluzia.
O quebra-ossos foi uma ave muito comum naquela região de Espanha até finais do século XIX. A última reprodução confirmada aconteceu em 1983 e o último quebra-ossos foi avistado em finais de 1986.
Agora, Tono e Blimunda voltam a dar notícias. Este casal, o primeiro formado com aves do Programa de Reintrodução do Quebra-ossos andaluz, teve este ano a cria Satara.
Satara é a segunda cria que nasceu em liberdade na Andaluzia nesta temporada. A primeira foi Savuti, filha de Marchena e Hortelano.
Desde 2006, conservacionistas estão a libertar quebra-ossos nos parques naturais das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas e na Serra de Cabril. O grande objectivo é criar uma população autónoma e estável da espécie na região. Um deles, a fêmea Bujaraiza, esteve em Portugal em Maio de 2015.
Todos os quebra-ossos libertados provêm da reprodução em cativeiro do Programa Europeu de Espécies Ameaçadas, nomeadamente do Centro de Reprodução de Guadalentín, gerido pela Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).
Nesta temporada reprodutora, seis casais daquele centro puseram 13 ovos, entre 8 de Dezembro de 2019 e 15 de Fevereiro de 2020. A primeira cria, Kobe, nasceu a 30 de Janeiro.
No ano passado, nasceram e sobreviveram sete crias naquele centro.
“A reprodução em cativeiro de quebra-ossos é essencial para a sua reintrodução na natureza”, segundo a VCF.
A área de distribuição histórica do quebra-ossos compreende quase todas as montanhas da Eurásia e Norte de África.
Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Não se conhecem registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso é de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.
Mas em Maio de 2018, a VCF revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.
[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:
Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.
Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.
O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.
Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.
Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.