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“Em poucas décadas, vamos ter veados selvagens na Serra da Estrela”

16.01.2017

Mais de 3.000 veados vivem em liberdade espalhados pela região da Serra da Lousã, fruto do sucesso na reintrodução destes animais, extintos naquela zona do país desde meados do século XIX. “Há um movimento claro de expansão desta população”, disse à Wilder o biólogo Carlos Fonseca, que desde o início está por trás deste programa de reintrodução, e acredita que estes veados em estado selvagem vão chegar à Serra da Estrela.

 

Coordenador da Unidade de Vida Selvagem, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, Carlos Fonseca faz também parte da equipa de investigadores que publicou agora um estudo científico sobre o estado actual da população de veados vermelhos (Cervus elaphus) na Serra da Lousã, no último número do International Journal of Biodiversity Science, Ecosystem Services & Management.

O estudo agora publicado indica que, neste momento, haverá cerca de 3.000 animais, não só no centro da Serra da Lousã, mas numa área muito mais vasta.

 

 

Estes veados, que descendem de um total de 120 exemplares reintroduzidos entre 1995 e 2004,  espalham-se hoje por mais de 90.000 hectares, num zona limitada a oeste pela faixa da autoestrada A1, a norte pelo Mondego e a sul pelo Zêzere – dois rios que “com o tempo deixarão de ser uma barreira para estes animais”, explicou Carlos Fonseca à Wilder.

Ainda assim, o coordenador da UVS sublinha que a expansão tem vindo a fazer-se principalmente ao longo da Cordilheira Central, no sentido Nordeste. E assim vai continuar, aqui “ajudada pela reduzida pressão humana – poucas aldeias com pouca gente – e pelo coberto contínuo de matos e de florestas”.

Como resultado da expansão dos veados da Serra da Lousã, “em poucas décadas vamos ter veados selvagens na Serra da Estrela”, acredita.

 

Carlos Fonseca, durante a monitorização de veados na Serra da Lousã. Foto: D.R.
Carlos Fonseca, durante a monitorização de veados na Serra da Lousã. Foto: D.R.

 

Desde meados do século XIX que os veados estavam extintos na Serra da Lousã, o que os investigadores atribuem principalmente a dois factores: a presença crescente do gado, que provocou “uma forte diminuição da mancha florestal”, à semelhança de outras serras, e por alguma perseguição directa da parte dos humanos.

Mas entre 1995 e 2004, o hoje Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, alguns municípios da região da Lousã e a Universidade de Aveiro aliaram-se num programa de reintrodução de 120 veados provenientes da Zona de Caça Nacional da Contenda e da Tapada de Vila Viçosa.

“Considerámos que tínhamos uma serra com uma série de habitats onde era importante abrigar outras espécies para além do javali, que já ali ocorria”, lembra o investigador, que ainda se recorda do dia em que assistiu à libertação do primeiro lote de animais, a 5 de Março de 1995.

Estes animais em estado selvagem foram libertados em especial nos concelhos de Lousã, Figueiró dos Vinhos, Penela, Miranda do Corvo, Góis, Castanheira de Pêra e Pampilhosa da Serra.

 

 

O veado passou a ser divulgado como um dos símbolos da região há pouco mais de uma década, procurado por turistas de natureza e também por fotógrafos profissionais, em especial na época da brama, destaca o coordenador da UVS.

O grande crescimento de animais fez com que a partir de 2007 se permitisse a caça da espécie na Serra da Lousã, mas de forma controlada, de acordo com um plano global de gestão desta população que estabeleceu quotas para cada uma das zonas cinegéticas.

Para o futuro, a monitorização de veados vai continuar, para que se percebam as tendências da população e para a recomendação de acções de gestão. Uma das preocupações dos investigadores vai ser gerir os conflitos provocados pela presença de veados nas culturas agrícolas.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Já conhece a brama dos veados? Saiba do que se trata, quando e onde acontece, neste artigo da Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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