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Em Portugal, há cerca de 8000 casais de gaivotas-de-patas-amarelas

01.04.2022
Gaivota-de-patas-amarelas, com a plumagem característica a partir do quarto ano de idade. Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

Os resultados definitivos do Censo Nacional da Gaivota-de-patas-amarelas já são conhecidos: Leiria, Setúbal e Faro são os distritos do país onde estas aves são mais numerosas.

Nestas contagens registaram-se 7.344 ninhos confirmados, 321 prováveis e 292 possíveis, estimando-se que em Portugal há actualmente entre 7.350 a 8.000 casais reprodutores de gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis) – uma das gaivotas mais comuns no país, em conjunto com a gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus). Há ninhos desta espécie por todo o litoral continental e mais a norte há até registos mais para o interior do país, em Vila Real.

Este foi o primeiro censo nacional da população nidificante desta gaivota e realizou-se principalmente em Maio do ano passado, mas também em Junho e Julho – meses em que estas aves se reproduzem e cuidam das crias.

“A população de gaivota-de-patas-amarelas está a diminuir mas apresenta agora uma distribuição mais abrangente”, indicou à Wilder o coordenador deste censo, Nuno Oliveira, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). “Até meados dos anos 90, o limite norte da área de distribuição desta espécie eram as Berlengas (arquipélago ao largo de Peniche), mas agora estende-se até Caminha, ocupando essencialmente ambiente urbano”, confirmou o mesmo responsável.

Cria de gaivota-de-patas-amarelas. Foto: Drow male / Wiki Commons

Com efeito, os dados provisórios divulgados em Setembro já apontavam para um peso considerável destas gaivotas em meio urbano, estimando-se que mais de um terço do total em Portugal Continental já fazem ninho em vilas e cidades. É no distrito do Porto que se encontram mais destas gaivotas urbanas, com 593 a 813 casais contados. A informação disponível na altura apontava para Leiria e Lisboa em segundo e terceiro lugares.

O “efeito Berlengas”

Mas os dados agora conhecidos, que incluem zonas fora do meio urbano – as áreas protegidas – mostram um retrato diferente: o distrito de Leiria mantém-se na dianteira do país, com 2.584 a 2.664 casais reprodutores.

Em causa está o “efeito Berlengas”: cerca de metade das gaivotas-de-patas-amarelas em Portugal Continental fazem ninho na maior ilha do arquipélago, ao largo de Peniche. Ainda assim, esse número tem diminuído de ano para ano, devido às acções de controlo populacional que ali se fazem desde 1994 e que hoje em dia incidem sobre as posturas. “Contaram-se cerca de 2.000 casais neste censo, quando havia cerca de 22.000 casais nos anos 90.” O resultado é que também a nível nacional os números estão a baixar.

A seguir ao distrito de Leiria, Setúbal surge como o segundo distrito com mais casais reprodutores estimados (1.181 a 1.206) – muito devido à presença em vilas e cidades, com 321 a 346 casais “urbanos”. Em terceiro está a região do Algarve (distrito de Faro), com 910 a 997 casais estimados – acima do Porto (593 a 813 casais) e de Lisboa (202 a 235).

Gaivota-de-patas-amarelas. Foto: Bengt Nyman/Wiki Commons

Por outro lado, comparando os dados do censo, e se retirássemos o “efeito Berlenga”, o número de gaivotas-de-patas-amarelas em Portugal Continental teria aumentado nos últimos 20 anos: em 2002, excluindo a população de gaivotas naquele arquipélago, havia entre 943 a 993 casais estimados; no ano passado, esse total era de 2.738 a 3.227.

Na origem deste aumento estão principalmente os aterros, que continuam a ser uma fonte de alimento para estas gaivotas, uma vez que “ainda há uma limitação muito grande na gestão” destes espaços. E também o “desperdício” gerado nas pescas, embora as regras tenham apertado nos últimos anos.

“Declínio acentuado” na Madeira

Já na Madeira, os resultados são bem diferentes: parece estar a acontecer um “declínio acentuado” da espécie no arquipélago. No total, contaram-se cerca de 52 a 55 casais no ano passado, quando em 2002 tinham sido estimados cerca de 4.000.

Quanto aos Açores, os números, ou pelo menos a área de distribuição, parecem estar a aumentar nas ilhas de São Miguel, Terceira e Pico – as únicas do arquipélago que continuam a ter aterros activos, adiantou Nuno Oliveira. Todas as ilhas tiveram resultados com números inferiores de gaivotas ao que tinha sido contado em 2004. Ainda assim, o número de participantes não foi suficiente para haver uma boa cobertura em toda a região, em especial em São Jorge e no Faial, e não há estimativas globais para o arquipélago.

Os trabalhos deste primeiro censo nacional aconteceram tanto em vilas e cidades como em áreas protegidas e estenderam-se a todo o país, incluindo as Regiões Autónomas, numa iniciativa conjunta da SPEA, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (áreas protegidas de Portugal Continental), do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (Madeira) e da Direção Regional dos Assuntos do Mar (Açores).

Ao todo, segundo os dados actualizados, participaram 116 observadores e 10 organizações. A estes somaram-se os registos enviados por 109 observadores no âmbito da iniciativa de ciência-cidadã “Conte gaivotas na sua cidade!”. Está previsto que o censo se continue a realizar nestes próximos anos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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