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Nigella arvensis. Foto: Stefan.lefnaer/Wiki Commons

Em França, 15% das espécies de plantas nativas estão em risco

28.01.2019

Cientistas avaliaram a situação de quase 5.000 espécies de plantas nativas registadas em França. Concluíram que 742 estão hoje ameaçadas ou quase ameaçadas.

 

Esta Lista Vermelha da Flora foi a primeira avaliação aprofundada do estatuto de conservação das plantas registadas na França metropolitana (excluindo territórios não europeus como Martinica ou Guadalupe), num total de 4.982 espécies.

Em causa esteve apenas a flora vascular, ou seja, plantas que dão flor, fetos e coníferas, todas elas com um sistema vascular que permite o transporte da seiva, o que exclui por exemplo os musgos.

“A análise fina das ameaças para este grupo extremamente rico e diversificado requereu mais de três anos de trabalho, a síntese de quase 30 milhões de dados sobre flora recolhidos pelos conservatórios botânicos e a mobilização de cerca de 40 especialistas em botânica”, nota um comunicado conjunto das entidades que coordenaram este trabalho sobre espécies ameaçadas em França. Os conservatórios botânicos são organismos científicos franceses estatais ou semi-estatais, destinados ao estudo e conservação de flora selvagem

Os resultados vão servir para “ajudar a reordenar as prioridades e a prosseguir com as estratégias de preservação da biodiversidade, tanto à escala nacional como à escala local.”

No total, os botânicos franceses detectaram 421 espécies de plantas ameaçadas e outras 321 quase ameaçadas, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Mas não se ficaram por aqui: constataram também quais são as maiores ameaças à sobrevivência da flora vascular, com destaque para “a modificação dos habitats naturais, a urbanização crescente e a artificialização de terras, tal como o abandono e intensificação de determinadas práticas agrícolas.”

 

planta de pequenas flores roxas
Eryngium viviparum. Foto: Hugues Tinguy

 

Exemplos? Espécies como a pequena Eryngium viviparum, classificada como Criticamente em Perigo de extinção – tal como acontece em Portugal – estão ameaçadas pelo desaparecimento de zonas húmidas no país, drenadas para uso agrícola ou para a construção de mais áreas urbanas.

Por outro lado, a diminuição de pastagens, devido às mudanças que se têm feito sentir na agricultura, está a colocar em risco de desaparecimento várias espécies. Entre elas, a delicada Spiranthes aestivalis, considerada Vulnerável (tal como em Portugal, aliás).

 

planta com pequenas flores brancas
Spiranthes aestivalis. Foto: Olivier Delzons

 

Outras plantas, conhecidas em França como ‘messicoles’ (de ‘moisson’, que significa ‘colheita’ em português), estão tipicamente associadas aos campos de cereais de Inverno – trigo, aveia, cevada. “Estão hoje fortemente afectadas pela intensificação agrícola e pelo uso excessivo de herbicidas não específicos”, como são os casos da Turgenia latifolia (Em Perigo) e da Nigella arvensis (Criticamente em Perigo).

Por classificar ficam ainda 373 espécies, 7% do total, por falta de conhecimento ou de dados fiáveis.

 

Nigella arvensis. Foto: Stefan.lefnaer/Wiki Commons

 

No centro dos ecossistemas

“O mundo vegetal está no centro do funcionamento dos ecossistemas e dos serviços que estes nos prestam”, sublinha o comunicado. “É dele que obtemos aquilo de que nos alimentamos, vestimos, com que nos abrigamos e cuidamos. A médio ou longo prazo, a erosão crescente da diversidade florística afecta necessariamente a nossa economia, a nossa alimentação, a nossa saúde e mais amplamente o nosso bem-estar.”

Ainda assim, ressalvam, estão em curso muitas acções para a melhoria do conhecimento e da conservação das espécies e dos habitats mais ameaçados em França, incluindo o lançamento de planos nacionais de acção para proteger plantas como a Eryngium viviparum. Outras iniciativas incluem o desenvolvimento de bancos de sementes e o cultivo de espécies mais ameaçadas.

Para o próximo semestre, estão previstas várias acções de comunicação e sensibilização, lançadas por conservatórios botânicos franceses: “difusão de vídeos e de dados-chave nas redes sociais, apelo ao envolvimento dos cidadãos, uma exposição itinerante, visitas no terreno abertas ao público até meados de Junho.”

O trabalho agora concluído resultou da colaboração entre quatro entidades: o comité francês da UICN, a FCBN – Federação e rede de conservatórios botânicos franceses, a Agência Francesa para a Biodiversidade e o Museu Nacional de História Natural.

Já em Portugal, as conclusões da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental apontam para o desaparecimento provável de 24 espécies de plantas nativas, tal como foi divulgado em Novembro passado. Perto de outras 380 espécies estão actualmente ameaçadas.

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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