Ao longo de um ano, mais de 20 cientistas ligados ao Livro Vermelho dos Peixes analisaram 200 locais em diferentes rios portugueses, de Norte a Sul do país.
Em causa está o projecto para a revisão e elaboração do novo Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Migradores Diádromos, que está a avaliar o risco de extinção e o estado de conservação de peixes nativos em Portugal Continental e a analisar também como estão a progredir várias espécies invasoras.
Este projecto foi lançado publicamente em Janeiro de 2019 e uma das principais tarefas é actualizar o risco de extinção de peixes de água doce (dulaquícolas) e migradores. Os últimos dados disponíveis dizem respeito ao Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado já há quase 20 anos, em 2005, e indicavam oito espécies Criticamente em Perigo de extinção, incluindo o salmão-do-Atlântico e o pequeno saramugo.
Neste último ano “foram amostrados cerca de 20.000 peixes pertencentes a 48 espécies, 12 das quais não nativas”, anunciou entretanto em comunicado a equipa, que nesta fase incluiu cientistas da Universidade de Évora, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Bragança, e contou também com o apoio do MARE – Centro de Ciências do Mar do Ambiente.
“Entre as mais de quatro dezenas de espécies nativas amostradas encontram-se por exemplo o bordalo (Squalius alburnoides), a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum), o salmão-do-atlântico (Salmo salar), o escalo-do-arade (Squalius aradensis), o barbo-comum (Luciobarbus bocagei) e a enguia-europeia (Anguilla anguilla), entre muitas outras”, indicou à Wilder Luís do Carmo Gomes, da equipa de apoio à comunicação do projecto.
Quanto aos peixes invasores, entre as 12 espécies amostradas ao longo do último ano, contam-se a gambúsia (Gambusia holbrooki), a perca-sol (Lepomis gibbosus), o peixe-gato-negro (Ameiurus melas) e o chanchito (Australoherus facetus).
Mas como é que se fizeram as amostragens? Os investigadores recorreram a vários métodos, incluindo a pesca eléctrica, o uso de redes e também a realização de inquéritos. Aos dados recolhidos, juntaram informação sobre os locais amostrados – “as características físico-químicos da água, a qualidade da mata ribeirinha e a diversidade de habitats aquáticos, entre outros aspetos.”
Preencher “múltiplas lacunas”
Quanto aos 200 locais de amostragem, a equipa seleccionou os que vão ajudar a preencher as “múltiplas lacunas” de informação sobre diferentes espécies, detectadas em fases anteriores do projecto. Por exemplo, “a insuficiência de dados referentes à sua ocorrência em Sítios de Importância Comunitária (parte da Rede Natura 2000) e à distribuição nacional quer de espécies diádromas quer de espécies dulciaquícolas recentemente descritas”, explicou Luís do Carmo Gomes.
Próximos passos? “Actualizar a base de dados que será utilizada para determinar o risco de extinção das espécies no âmbito do Livro Vermelho e introduzir toda a informação recolhida numa plataforma informática online sobre a distribuição das espécies piscícolas que ocorrem em Portugal (SNIPAD).”
Os resultados finais do projecto vão ser conhecidos apenas dentro de alguns meses, no lançamento do novo Livro Vermelho e na apresentação pública do SNIPAD, que estão actualmente previstos para Abril do próximo ano.
Saiba mais.
Recorde os quatro peixes que estão a desaparecer dos rios portugueses e descubra o novo guia dos peixes de água doce e migradores.