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Salmão-do-alântico. Foto: E. Peter Steenstra/USFWS

Do salmão à enguia, investigadores andaram em busca de 48 peixes em Portugal

15.06.2021

Ao longo de um ano, mais de 20 cientistas ligados ao Livro Vermelho dos Peixes analisaram 200 locais em diferentes rios portugueses, de Norte a Sul do país.

Em causa está o projecto para a revisão e elaboração do novo Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Migradores Diádromos, que está a avaliar o risco de extinção e o estado de conservação de peixes nativos em Portugal Continental e a analisar também como estão a progredir várias espécies invasoras.

Este projecto foi lançado publicamente em Janeiro de 2019 e uma das principais tarefas é actualizar o risco de extinção de peixes de água doce (dulaquícolas) e migradores. Os últimos dados disponíveis dizem respeito ao Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado já há quase 20 anos, em 2005, e indicavam oito espécies Criticamente em Perigo de extinção, incluindo o salmão-do-Atlântico e o pequeno saramugo.

Neste último ano “foram amostrados cerca de 20.000 peixes pertencentes a 48 espécies, 12 das quais não nativas”, anunciou entretanto em comunicado a equipa, que nesta fase incluiu cientistas da Universidade de Évora, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Bragança, e contou também com o apoio do MARE – Centro de Ciências do Mar do Ambiente.

“Entre as mais de quatro dezenas de espécies nativas amostradas encontram-se por exemplo o bordalo (Squalius alburnoides), a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum), o salmão-do-atlântico (Salmo salar), o escalo-do-arade (Squalius aradensis), o barbo-comum (Luciobarbus bocagei) e a enguia-europeia (Anguilla anguilla), entre muitas outras”, indicou à Wilder Luís do Carmo Gomes, da equipa de apoio à comunicação do projecto.

Barbo. Foto: Javi Guerra Hernando/Wiki Commons

Quanto aos peixes invasores, entre as 12 espécies amostradas ao longo do último ano, contam-se a gambúsia (Gambusia holbrooki), a perca-sol (Lepomis gibbosus), o peixe-gato-negro (Ameiurus melas) e o chanchito (Australoherus facetus).

Mas como é que se fizeram as amostragens? Os investigadores recorreram a vários métodos, incluindo a pesca eléctrica, o uso de redes e também a realização de inquéritos. Aos dados recolhidos, juntaram informação sobre os locais amostrados – “as características físico-químicos da água, a qualidade da mata ribeirinha e a diversidade de habitats aquáticos, entre outros aspetos.”

Preencher “múltiplas lacunas”

Quanto aos 200 locais de amostragem, a equipa seleccionou os que vão ajudar a preencher as “múltiplas lacunas” de informação sobre diferentes espécies, detectadas em fases anteriores do projecto. Por exemplo, “a insuficiência de dados referentes à sua ocorrência em Sítios de Importância Comunitária (parte da Rede Natura 2000) e à distribuição nacional quer de espécies diádromas quer de espécies dulciaquícolas recentemente descritas”, explicou Luís do Carmo Gomes.

Próximos passos? “Actualizar a base de dados que será utilizada para determinar o risco de extinção das espécies no âmbito do Livro Vermelho e introduzir toda a informação recolhida numa plataforma informática online sobre a distribuição das espécies piscícolas que ocorrem em Portugal (SNIPAD).”

Os resultados finais do projecto vão ser conhecidos apenas dentro de alguns meses, no lançamento do novo Livro Vermelho e na apresentação pública do SNIPAD, que estão actualmente previstos para Abril do próximo ano.


Saiba mais.

Recorde os quatro peixes que estão a desaparecer dos rios portugueses e descubra o novo guia dos peixes de água doce e migradores.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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