Uma equipa internacional de cientistas descobriu que as águias-harpia, também conhecidas por gaviões-reais, têm dificuldade em alimentar as crias nas áreas desflorestadas da Amazónia.
O estudo, liderado pela Universidade de KwaZulu-Natal, África do Sul, e da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, foi publicado esta semana na revista Scientific Reports.
Os investigadores seguiram 16 ninhos de águias-harpia na floresta amazónica do estado de Mato Grosso, no Brasil, com recurso a câmaras e através da análise dos fragmentos de ossos de presas que encontraram. Desta forma, descobriram a que espécies pertenciam as presas caçadas por estas águias, quantas vezes eram alimentadas as crias e qual era o peso desses alimentos.
A equipa recorreu também a mapas e a imagens por satélite de alta resolução para estimar os níveis de desflorestação e qual era a situação em redor de cada um dos ninhos.
A harpia (Harpia harpyja) é uma das maiores águia do mundo. Pode atingir uma envergadura de 2,2 metros e um peso de nove quilos e é também um dos predadores de topo da Amazónia. Pode ser encontrada em vários países da América Central e América do Sul, mas um estudo anterior, em 2019, concluiu que a perda de distribuição desta espécie já chega a mais de 40%.
Agora, os investigadores descobriram que estas águias se alimentam principalmente de mamíferos que vivem nas copas das árvores da floresta, como macacos e preguiças. O problema é que o número desses animais está a descer devido à perda de habitat.
No entanto, em vez de mudarem para outro tipo de presas nas áreas que estão desflorestadas, as aves alimentam as crias menos vezes e em menor quantidade. Assim, as pequenas harpias morrem de fome nas zonas da Amazónia com menos árvores, nomeadamente em paisagens onde 50 a 70% do território foi desflorestado. Nas áreas afectadas em mais de 70% pela falta de árvores, os cientistas não encontraram qualquer ninho.
“Considerando que as águias-harpia têm o ciclo de vida mais lento de todas as aves, as suas hipóteses de se adaptarem a paisagens de floresta fragmentada está próxima do zero”, nota o autor principal do artigo, Everton Miranda, investigador na Universidade de KwaZulu-Natal, citado em comunicado. “Reter a conectividade dentro da floresta, translocar os juvenis e suplementar as crias com mais alimentos são iniciativas críticas se quisermos que persistam nestas paisagens modificadas pelos humanos.”
As áreas com mais de 50% de desflorestação não são apropriadas para as águias-harpia criarem com sucesso, concluiu a equipa, que estima que cerca de 35% do norte do Mato Grosso já não é adequado à reprodução desta espécie.