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Fetos arbóreos de grandes dimensões na ilha de São Jorge. Foto: José Luís Ávila Silveira/Pedro Noronha e Costa

Descobertos na ilha da Madeira fósseis de árvore já extinta

29.01.2019

A planta Eurya stigmosa, uma pequena árvore já extinta da família do chá (Theaceae), vivia na ilha da Madeira há 1,3 milhões de anos, descobriu uma equipa de investigadores.

 

Os peritos – Carlos A. Góis-Marques, Ria L. Mitchell, Lea de Nascimento, José María Fernández-Palacios, José Madeira e Miguel Menezes de Sequeira – descobriram os fósseis de sementes desta pequena árvore ou arbusto em sedimentos na região de Porto da Cruz, no concelho de Machico. Este é o primeiro fóssil de uma árvore extinta encontrada na ilha da Madeira.

 

Imagens por microscopia de varrimento das sementes. Imagem: CAGM

 

“As ilhas são sítios muito estudados por biólogos para compreender fenómenos evolutivos e ecológicos”, explica Carlos A. Góis-Marques numa nota da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). “Contudo, pouco se sabe sobre como seria a sua biodiversidade no passado. Havia uma lacuna de conhecimento importante e os fósseis são uma prova irrefutável do passado biológico.”

Depois de fazerem datações radiométricas, os investigadores descobriram que “esta árvore estaria ainda presente na ilha da Madeira há 1.3 milhões de anos, embora já em situação de refúgio, juntamente com várias plantas que hoje em dia constituem a Floresta Laurissilva”, segundo um comunicado da FCUL.

A floresta Laurissilva da ilha da Madeira, estende-se por 15.000 hectares e representa 20% do total da ilha. É uma floresta com características subtropicais, húmida, e terá ocupado vastas extensões do Sul da Europa e da bacia do Mediterrâneo. Mas As últimas glaciações levaram ao seu desaparecimento no continente europeu e hoje sobrevive apenas nos arquipélagos atlânticos dos Açores, da Madeira e das Canárias.

A planta Eurya stigmosa teria, no passado, uma distribuição mais ampla, sendo comum na Europa até há 2.5 milhões de anos. Actualmente podem encontrar-se plantas aparentadas na América Central e do Sul, Ásia Ocidental e nas ilhas do Pacífico. Com o tempo, esta espécie passou a apenas sobreviver em pequenos refúgios, até se extinguir.

Segundo o estudo – publicado na revista Science Direct a 19 de Janeiro e será um dos destaques do volume de 15 de Fevereiro da Quaternary Science Reviews -, este registo de Eurya stigmosa na ilha da Madeira vem aumentar a área de ocorrência conhecida da espécie à região da Macaronésia.

Desconhecem-se as causas da sua extinção na ilha da Madeira. Os investigadores acreditam que o seu desaparecimento pode estar ligado a alterações climáticas passadas, mais concretamente às glaciações do Pleistoceno. No entanto, acrescentam, não podem se pode descartar a possibilidade de ter sobrevivido até ao povoamento da ilha da Madeira, tendo sido extinta por acção do Homem.

Este estudo põe em evidência a “fragilidade dos ecossistemas insulares, e portanto da Floresta Laurissilva, que evoluiu isolada ao longo de milhões de anos, na ausência de grandes herbívoros e das mais diversas atividades humanas”.

A médio prazo, Carlos A. Góis-Marques quer continuar a “estudar os fósseis até agora recolhidos por nós e encontrar mais locais com fósseis de plantas na ilha da Madeira e dos Açores”.

 

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Esta publicação resulta dos trabalhos de investigação de Carlos A. Góis-Marques, realizados no laboratório do Grupo de Botânica da Madeira da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade da Madeira. Carlos Góis-Marques é aluno de doutoramento em Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto Dom Luiz, realizando a sua tese sob orientação dos professores José Madeira, Miguel Menezes de Sequeira e José M. Fernández-Palácios. O doutoramento é financiado pela ARDITI – Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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