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Coruja agora descoberta caçava como os falcões há 55 milhões de anos

30.07.2020

Uma espécie de coruja que viveu na America do Norte durante o Eoceno, agora descrita por paleontologistas, usava os pés e as garras para caçar mamíferos de tamanho médio.

 

Esta grande coruja recorria à técnica de caça usada pelos falcões e por outras aves de rapina diurnas, ao contrário das actuais aves de rapina nocturnas, que usam apenas o bico para matarem as presas. Tanto mochos como corujas pertencem à mesma família, Strigidae, e os nomes diferentes são apenas uma questão de terminologia.

A nova espécie para a ciência, que dá também origem a um novo género, foi baptizada de Primoptynx poliotaurus e descrita num artigo publicado pelo Journal of Vertebrate Paleontology.

O esqueleto tinha sido escavado há 30 anos no estado americano do Wyoming, na região da Bighorn Basin, e é considerado um dos fósseis de mochos mais completos do Paleogénico, indica um comunicado do grupo editorial da revista científica.

 

Esqueleto do novo Primoptynx poliotaurus. Crédito: Senckenberg Research Institute

 

O Paleogénico foi o período geológico que se seguiu à extinção dos dinossauros não-aviários, há 66 milhões de anos. Calcula-se que o fóssil agora descrito tenha entre 54,5 e 55 milhões de anos, correspondendo à época do Eoceno, um dos períodos em que se dividiu o Paleogénico.

O Primoptynx poliotaurus media cerca de meio metro e pertencia a um grupo de aves de rapina nocturnas próximas da família já extinta dos Protostrigidae. “Os pés são diferentes dos mochos e corujas de hoje”, disse Thierry Smith, do Royal Belgian Institute of Natural Sciences, paleontologista e co-autor do estudo, em que participaram também cientistas do Senckenberg Research Institute, em Frankfurt, e da Universidade do Michigan.

“Os mochos e corujas actuais têm quatro dedos dos pés com garras de igual tamanho, que usam para apanhar presas relativamente pequenas e matá-las com os bicos. O Primoptynx tinha o primeiro e segundo dedos mais compridos, como vemos nos falcões”, explicou o investigador. “Esses dedos mais desenvolvidos são usados para derrubar as presas, que são perfuradas pelas garras. Por isso, era uma coruja que caçava mamíferos de tamanho médio, como um falcão.”

O fóssil também mostra que no início do Eoceno, que terá começado há cerca de 56 milhões de anos, “já havia muitas espécies de aves de rapina nocturnas de tamanhos distintos que ocupavam nichos ecológicos diferentes” na América do Norte, acrescenta o comunicado. Desde o pequeno Eostrix gulottai, que media apenas 12 centímetros, até à nova ave agora descoberta, com quase 60 centímetros de comprimento.

 

Em paralelo com os mamíferos

“O sucesso destas aves desenvolve-se em paralelo com o dos mamíferos, que se tornaram muito diversos depois da quinta extinção, que varreu os dinossauros da face da Terra. A extinção posterior do Primoptynx poliotaurus e de outros proto-mochos e proto-corujas – os primeiros que existiram – poderá dever-se ao surgimento das aves de rapina diurnas no final do Eoceno.” Esta época geológica terminou há cerca de 33,9 milhões de anos.

As descobertas ligadas à evolução destas aves são muito raras e costumam resumir-se a ossos individuais e fragmentos. O fóssil mais antigo atribuído a este grupo tem cerca de 60 milhões de anos e é um osso da perna.

No caso do fóssil agora descrito, foram encontrados todos os ossos principais com excepção do crânio, que indicam que se tratava de uma grande ave. “Tinha o tamanho aproximado de uma coruja-das-neves”, descreveu Geral Mayr, do Senckenberg Research Institute e do Museu de História Natural, outro dos co-autores do estudo.

 

Coruja-das-neves. Foto: Frank Vassen

 

“Não é claro porque é que os mochos e as corujas mudaram a sua técnica de caça ao longo da sua evolução. Assumimos todavia que deve estar relacionado com a generalização das aves de rapina diurnas há cerca de 34 milhões de anos”, acrescentou o investigador.

“A competição por presas com aquelas aves de rapina poderá ter levado a uma especialização alimentar, conduzindo possivelmente aos hábitos nocturnos destas aves carismáticas.”

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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