Uma floresta de carvalhal alvarinho e negral com cerca de 10 hectares, relíquia da floresta natural, está em risco de desaparecer no concelho de Seia. As associações Quercus e Amigos da Serra da Estrela juntaram-se para denunciar o corte raso destas árvores.
O carvalhal – situado numa encosta do rio Seia, próximo de Sameice – terá começado a ser cortado por um empreiteiro nesta segunda-feira, disse hoje à Wilder Domingos Patacho, coordenador do grupo de trabalho de florestas da Quercus.
“É um carvalhal natural bastante interessante do ponto de vista ecológico mas está numa área sem estatuto de protecção”, acrescentou. Ainda assim, aquela zona do rio Seia faz parte do corredor ecológico regional, pelo que foi alertado o Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR (Sepna) e o Município de Seia “para uma atuação no âmbito das suas competências”.
O corte raso dos carvalhos, muitos de grande porte, foi detectado pela associação cultural Amigos da Serra da Estrela e, segundo Domingos Patacho, estará ainda em curso. “Este carvalhal está numa área que não ardeu nos incêndios deste ano. É um importante refúgio para a biodiversidade, desde as aves às plantas, os seus carvalhos retêm na madeira o carbono que sequestram da atmosfera, ajudam a manter o ciclo da água e a qualidade dos solos, defendendo-os da erosão”, salientou.
Além disso, estas árvores ardem mais lentamente em caso de incêndio, o que ajuda a tornar mais lenta a propagação das chamas. “São árvores menos combustíveis do que eucaliptos ou pinheiros e pode até acontecer que o incêndio morra na sua folhada.”
Mas, “os carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur (Carvalho alvarinho ou roble) e Quercus pyrenaica (Carvalho negral), (habitat natural 9230 da Diretiva Habitats), são ameaçados pelo corte raso frequentemente para lenha, apesar da madeira ter qualidade para fins mais nobres, que poderá ser valorizada”, escreve a Quercus em comunicado divulgado hoje.
Contrariamente ao sobreiro, os carvalhos não são árvores de espécies protegidas e têm vindo a perder terreno para outro tipo de árvores com maior rendimento, como os eucaliptos e os pinheiros, e para a agricultura. Também são cortados para lenha. Estima-se que estejam reduzidos a 2% da área florestal nacional e a cerca de 0,7% da área total de Portugal. “Hoje os carvalhais estão muito fragmentados”, disse Domingos Patacho. “Existem especialmente no Norte e no Centro do país, principalmente em zonas serranas, em encostas com declive e sem interesse agrícola ou de construção.”
Na opinião deste especialista, uma medida eficaz para conservar os carvalhais de Portugal seria a criação de políticas públicas de apoio aos proprietários para fazerem a sua manutenção e conservação, já que é mais difícil tirarem rendimento directo. “Apesar de se falar disso, a verdade é que ainda não existem medidas para manter os carvalhais.”
A Quercus defende ainda a criação de legislação específica para proteger estas árvores, à semelhança do que foi feito para o sobreiro (Quercus suber), espécie protegida pela legislação portuguesa desde 2001. Para isso tem a decorrer desde Outubro do ano passado uma petição para a proteção dos carvalhais que, até ao momento, reúne 4.829 assinaturas.