Durante o ano passado, as equipas que fazem o censo ao milhafre-real (Milvus milvus) na Andaluzia confirmaram a presença de 56 casais reprodutores naquela região. Em Portugal, a população residente da espécie está Criticamente em Perigo.
Dos 56 casais confirmados, 53 foram observados no Espaço Natural de Doñana – 22 na Reserva Biológica de Doñana e 31 em outras áreas do parque nacional e do parque natural – e três no Parque Natural Sierra de Aracena e Picos de Aroche, revelou ontem a Junta da Andaluzia em comunicado.
A população tem vindo a crescer ligeiramente, desde que em 2005 foram contados 32 casais. Ainda assim, dentro do Espaço Natural de Doñana apenas seis casais conseguiram ter crias que sobreviveram até começarem a voar.
“Apesar de o número de casais reprodutores ter aumentado em 10 em relação a 2014, ano em que se contabilizaram 46, os parâmetros reprodutores da espécie são baixos”, segundo a Junta da Andaluzia.
A situação é explicada, principalmente, pela falta de chuva nos últimos cinco anos. “Isso fez com que a zona húmida permanecesse praticamente seca durante a temporada de reprodução”. Além da falta de chuva, os responsáveis falam ainda da alta taxa de mortalidade dos adultos e de uma elevada presença de indivíduos pouco experientes nos casais, o que pode aumentar o fracasso reprodutor.
A tudo isto há a acrescentar “a elevada mortalidade não natural associada à ingestão de iscos envenenados destinados ao controlo ilegal de predadores”. Em Junho, a organização WWF começou a seguir dois milhafres-reais para melhorar o conhecimento sobre os impactos dos venenos nesta espécie.
Em Portugal, o milhafre-real está classificado como Criticamente em Perigo, no Livro Vermelho dos Vertebrados (2005) e em 2003 estimava-se que a população reprodutora residente fosse de apenas 50 a 100 casais. Está em declínio acentuado desde há várias décadas como nidificante e tornou-se bastante raro. No Inverno, o país recebe as aves vindas da Europa Central e do Norte.
O milhafre-real é uma espécie com uma dieta muito variada que inclui roedores, aves pequenas, anfíbios, répteis, peixes e restos de cadáveres de animais pequenos. “Em certa medida, ajuda a limpar os campos e as zonas abertas da Andaluzia”, segundo a Junta. “Ao ser muito vulnerável aos tóxicos também é um verdadeiro bioindicador dos ecossistemas andaluzes dentro da sua área de distribuição”, acrescenta.