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Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Simonetta_78/Pixabay

Como é que a biodiversidade nos traz felicidade?

06.01.2021

Um novo estudo científico concluiu que a diversidade de aves onde se vive é tão importante para a satisfação com a vida como os rendimentos.

A pesquisa foi feita por cientistas do Centro de Pesquisa Climática e de Biodiversidade Senckenberg, do Centro Alemão para a Pesquisa em Biodiversidade Integrativa (iDiv) e da Universidade de Kiel, na Alemanha, e os resultados foram publicados recentemente na revista Ecological Economics.

A influência positiva da natureza na saúde mental já tem sido documentada através de vários estudos locais. O que a equipa fez foi investigar essa questão numa escala europeia. Para isso, analisaram os dados do Inquérito de qualidade de vida na Europa de 2012 para compararem o sentimento de satisfação pessoal de mais de 26.000 adultos em 26 países europeus, explicam em comunicado.

Chapim-real. Foto: Sylvain Haye/Wiki Commons

Já a variedade de espécies foi analisada a partir de informação sobre as aves, no primeiro Atlas Europeu das Aves Nidificantes, e ainda sobre mamíferos e megafauna, na União Internacional para a Conservação da Natureza, e sobre árvores, numa base de dados sobre as florestas europeias.

No final, a equipa concluiu que a riqueza de aves num local é um factor importante para o bem-estar mental de quem ali vive. “De acordo com os nossos resultados, os europeus mais felizes são aqueles que contactam com inúmeras espécies diferentes de aves na sua vida diária, ou que vivem em paisagens quase naturais que abrigam muitas espécies”, indica o autor principal do artigo, Joel Methorst, investigador no centro Senckenberg e no iDiv.

Os investigadores acreditam que as aves são um bom indicador da diversidade de fauna e flora, uma vez que estão entre os elementos naturais mais visíveis, em especial nos ambientes urbanos. “Além do mais, as suas canções podem ser ouvidas mesmo que as aves não sejam visíveis e muitas são populares e as pessoas gostam de as observar”, acrescentam no comunicado.

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Toutinegra-de-barrete. Foto: Markel Olavo/Creative Commons

Por outro lado, notam que é comum haver muitas espécies diferentes de aves em locais onde as paisagens são mais diversas e quase naturais, com muitos espaços verdes e corpos de água.

A equipa comparou também outras informações sobre os inquiridos e concluiu que “a diversidade aviária é tão importante para a satisfação com a vida como o rendimento”, indica Katrin Böhning-Gaese, directora do centro Senckenberg e também ligada ao iDiv.

Por exemplo, o nível de satisfação cresce ao mesmo nível quando qualquer um destes dois factores aumenta 10%, explicam os cientistas. Assim, ter mais 14 espécies diferentes de aves na vizinhança de onde se mora equivale a um aumento de 124 euros por mês, baseado num rendimento médio mensal de 1.237 euros na Europa.

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Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

No entanto, a equipa chama também a atenção para os efeitos negativos na saúde mental que pode ter o “declínio dramático” das populações de aves que está a acontece hoje em muitas paisagens agrícolas da Europa. Assim, isso significa que “o bem-estar humano também vai sofrer com uma natureza mais pobre”, avisa Joel Methorst. “A conservação da natureza não só assegura a base material para a vida, mas também constitui um investimento no bem-estar de nós todos.”


Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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