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crias de tartaruga marinha
Tartarugas marinhas recém-nascidas avançam em direcção ao mar. Foto: UA

Cientistas portugueses ajudam a conservar tartarugas marinhas em Angola

27.02.2020

O projecto Cambeú, que tem a parceria de uma equipa da Universidade de Aveiro, actua em praias angolanas da província de Benguela onde as tartarugas marinhas vêm desovar.

 

O objectivo é ajudar a conservar estas tartarugas, que “estão hoje muito ameaçadas pela poluição, caça furtiva e por recentes alterações dos habitats”, indica uma nota da Universidade de Aveiro (UA), enviada à Wilder.

O projecto quer também conhecer melhor a biologia das espécies que procuram o litoral angolano, onde têm sido avistadas a tartaruga olivácea (Lepidochelys olivacea), tartaruga de couro (Dermochelys coriacea) e tartaruga verde (Chelonia mydas).

No que respeita às praias de desova, algumas das conhecidas situam-se em Cabinda, Luanda, Namibe e Benguela. Foi nesta última província, numa praia do Lobito, que o projecto começou, quando Luz Le Corre e Jean-Marie Le Corre decidiram meter mãos à obra para salvar dos caçadores uma tartaruga e os seus ovos, durante a noite. O resgate desse ninho, em 2016, representou 56 crias que chegaram ao mar.

“Como [os caçadores] estavam à espera para roubar os ovos, decidimos guardá-los em casa numa caixa para eclodirem, enquanto organizávamos a protecção da praia para impedir outras caçadas”, é explicado na página do Facebook. “Envolvendo amigos e a população local, o projecto tornou-se rapidamente muito maior, com mais de 1.200 tartarugas bebés lançadas no segundo ano e numerosa mães salvas da caça.”

Em Angola, a época de nidificação vai de Setembro a Março. Nos últimos anos, com a ajuda de parcerias, biólogos e um grupo de voluntários, esta iniciativa conseguiu assegurar a eclosão de 12 ninhos na temporada de 2018/2019, que representaram mais de 1.100 pequenas tartarugas, passando para um total de 106 ninhos em 2019/2020.

 

crias de tartaruga marinha
Tartarugas marinhas recém-nascidas avançam em direcção ao mar. Foto: UA

 

Em causa está “a possível libertação, até ao final da temporada, de mais de 10.000 tartaruguinhas da espécie mais frequente, a olivácea”, acrescenta a UA. “A intervenção dos investigadores trouxe indicações preciosas aos trabalhos no terreno sobre as técnicas a usar para garantir mais eficácia na eclosão dos ovos.”

 

O que há por saber?

Ao mesmo tempo, os cientistas envolvidos no projecto procuram descobrir mais dados sobre as tartarugas marinhas em Angola. Por exemplo? Onde é que desovam e qual é a importância destas populações, adianta Mário Pereira, professor no Departamento de Biologia da UA e um dos coordenadores científicos do projecto.

Além dos trabalhos de conservação e investigação, o projecto Cambeú está também a desenvolver acções na área da educação ambiental e da sensibilização dos moradores locais para a necessidade de proteger estes animais.

Apenas uma entre cada 1000 crias de tartaruga que chegam ao oceano acabam por sobreviver, estima Mário Pereira, que nota que “as ameaças naturais e antropogénicas (causadas por humanos) contribuem para esse reduzido número”.

Por outro lado, segundo o professor da UA, sabe-se que as tartarugas marinhas têm tendência para desovar nos locais onde eclodiram, mas isso acontece apenas mais de 10 anos depois, quando atingem a maturidade. “Como tal, qualquer interrupção do trabalho realizado antes de chegar à idade de reprodução poderá inviabilizar os esforços associados à conservação daquelas espécies chave.”

 

Equipa de investigação ligada ao projecto. Foto: UA

 

As alterações climáticas são outra das ameaças ao futuro das tartarugas e por isso são um dos actuais temas de investigação nos trabalhos da equipa. Por exemplo, a subida da temperatura dos ninhos pode levar ao aumento do número de fêmeas por ninho  ou mesmo levar à sua inviabilização, indica Rita Anastácio, investigadora ligada ao projecto, doutorada pela UA.

O projecto Cambeú tem como parceiros, além da Universidade de Aveiro, também o Instituto Jean Pieaget Benguela, SOBA Catumbela, SINPROF e a Amphibia-Nature.org.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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