Com recurso a tecnologia de mapeamento por satélite, dois cientistas do British Antarctic Survey descobriram novas colónias de pinguim-imperador na Antártida, mas as preocupações sobre o futuro da espécie não desapareceram.
O anúncio foi feito esta quarta-feira em comunicado pela instituição britânica, que se dedica à investigação científica nas regiões polares. As 11 colónias incluem três de que já se suspeitava, mas que estavam até agora por confirmar. O total de colónias de pinguim-imperador na Antártida sobe assim para 61.
A equipa do British Antarctic Survey (BAS) publicou os resultados esta semana na revista científica Remote Sensing in Ecology and Conservation, num artigo que descreve como analisou as imagens obtidas pela missão Copérnico da ESA – Agência Espacial Europeia, com recurso aos dois satélites Sentinel-2.
Os dois investigadores analisaram imagens disponíveis de forma gratuita no âmbito do projecto Sentinel Playground, da ESA, relativas aos anos de 2016, 2018 e 2019. Localizaram as colónias a partir das manchas castanhas de guano que mancham o gelo, ou seja, as marcas deixadas pelos excrementos destas aves.
Nalguns casos, as colónias foram localizadas a mais de 30 quilómetros de costa, instaladas em gelo que se formou em redor de glaciares, um achado “importante” pois representa um outro habitat possível para reprodução.
Desde há 10 anos que cientistas do BAS estavam a trabalhar na pesquisa de novas colónias de pinguins-imperador. Uma tarefa complicada porque a espécie “necessita de gelo para se reproduzir e procura áreas muito difíceis de estudar, remotas e muitas vezes inacessíveis, com temperaturas tão baixas como 50ºC negativos”, explica a instituição britânica.
Para Peter Fretwell, autor principal do artigo científico e geógrafo no BAS, “esta é uma descoberta excitante”. No entanto, apesar de serem boas notícias, ressalvou, “as colónias são pequenas e por isso a contagem da população eleva-se apenas em 5 a 10%, para pouco mais de meio milhão de pinguins.”
Mais preocupante ainda é o impacto que terá o aumento de temperaturas na região. Esta é a única ave que depende do gelo marinho sazonal da Antártida para se reproduzir, durante o tempo de incubação dos ovos e enquanto as crias se desenvolvem, entre Abril e Dezembro.
Também é importante que o gelo se aguente estável durante o período da mudança anual da plumagem, entre Janeiro e Março, quando os pinguins mudam todas as penas em poucas semanas e estas deixam de ser à prova de água, impedindo-os de entrar no mar.
Se o gelo marinho começar a derreter antes do que é suposto por estar mais calor, tanto os adultos como as crias podem ficar em maus lençóis.
Declínio de pelo menos 31%
Segundo a equipa, muitas das novas colónias estão situadas em áreas onde as alterações climáticas se deverão sentir primeiro. E por isso, estão condenadas a desaparecer, ou quase, no final do século.
“Precisamos de vigiar esses locais cuidadosamente, pois as alterações climáticas vão afectar esta região”, avisa pela área de Biologia da Conservação no BAS e co-autor do artigo, Phil Trathan, que estuda pinguins há 30 anos.
Para já, as previsões avançadas por outros estudos científicos não são animadoras e apontam para grandes perdas das populações de pinguins-imperador no final deste século. Até lá, se tudo continuar como até agora, calcula-se que 80% das colónias irão perder mais de 90% dos pinguins, quando metade do gelo da Antártida derreter.
Mesmo numa perspectiva mais optimista, se o aquecimento da temperatura mundial se limitar a 1,5ºC, acredita-se que o número de pinguins-imperador deverá cair cerca de 31% no espaço de três gerações, lembram os dois cientistas.
Em Outubro passado, um estudo publicado na revista Biological Conservation pediu a revisão do estatuto de ameaça da espécie, agora classificada como Quase Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza.
Os investigadores defenderam que o pinguim-imperador deve passar para a categoria Vulnerável, um degrau acima da categoria actual, pois “num mundo que está a aquecer há uma elevada probabilidade de que [o gelo marinho] vá diminuir.” “Sem o gelo, [os pinguins] terão pouco ou nenhum habitat para se reproduzirem”, alertaram.