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Feto da espécie Tmesipteris oblanceolata. Foto: Pol Fernandez

Cientistas revelam que este pequeno feto tem o maior genoma de todos os organismos da Terra

03.06.2024

Uma equipa de investigadores dos Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido, e do IBB – Instituto Botânico de Barcelona concluiu que planta da Nova Caledónia tem 50 vezes mais DNA do que os humanos.

O estudo do genoma deste feto, da espécie Tmesipteris oblanceolata, foi agora publicado na revista científica iScience, destronando a anterior recordista que tinha sido descoberta em 2010, a planta japonesa Paris japonica.

Uma nota de imprensa dos Kew Gardens explica que a Tmesipteris oblanceolata é uma espécie rara de feto nativa da ilha da Nova Caledónia, um território francês situado no Pacífico Sudoeste, a cerca de 1200 quilómetros da costa leste da Austrália. O género Tmesipteris, ainda pouco estudado, contém cerca de 15 espécies, quase todas ligadas a ilhas do Pacífico e da Oceania.

Foi em 2023 que Jaume Pellicer e Oriane Hidalgo, ambos primeiros autores do novo estudo, viajaram para a Nova Caledónia em busca de amostras de plantas deste grupo, que foram depois analisadas. “Isso envolveu isolar os núcleos de milhares de células, manchá-los com uma tinta e depois medir quanta dessa tinta se tinha ligado com o DNA em cada núcleo. Quanta mais tinta, maior o genoma”, descrevem os Kew Gardens.

No caso da nova recordista, os cientistas descobriram um genoma gigantesco, com 160,45 giga pares de base (Gbp), sendo que cada giga par de bases corresponde a 1000 milhões de pares de base. Cada um desses pares é composto por dois nucleótidos que se emparelham para formarem a estrutura do DNA.

“Se o desenrolássemos, o DNA de cada célula deste feto seria mas elevado do que a Torre Elizabeth em Westminster, Londres, que tem 96 metros de altura e aloja o famoso sino do Big Ben”, exemplificam. Por sua vez, o genoma humano contém 3,2 Gbp distribuídos por 23 cromossomas. E quando esticado, o DNA de cada célula mede apenas dois metros de comprimento.

Até hoje, por todo o mundo já se estimaram os tamanhos dos genomas de mais de 20.000 organismos, com resultados muito diferentes. Os cientistas perceberam também que essa característica afeta profundamente a anatomia de cada ser vivo, uma vez que um genoma maior necessita de células maiores e demora mais tempo a ser replicado. Além disso, tem efeitos também sobre a forma como cada organismo funciona, evolui e mesmo quando e onde vive, explica a equipa.

Nos animais, tanto o peixe-pulmonado-marmorado como o anfíbio da espécie Necturus lewisi são alguns dos que têm um genoma maior, respetivamente com 129,90 Gbp e 117,47 Gbp.

Há desvantagens

No entanto, ter um grande genoma não costuma ser uma vantagem. Nas plantas, por exemplo, essas espécies “estão limitadas a ser plantas perenes de crescimento lento e menos eficientes na fotossíntese (processo pelo qual as plantas convertem a energia do sol em açúcar) e requerem mais nutrientes (especialmente mais nitrogéneo e fosfatos) para crescerem e competirem com sucesso com os seus vizinhos de genomas mais pequenos.” Estas questões, por seu turno, afetam a capacidase de adaptação às alterações climáticas e o risco de extinção.

“Quem iria pensar que esta planta pequena e discreta, pela qual a maior parte das pessoas passam sem darem por ela, poderia conter um genoma que bateu o recorde do mundo”, comentou outra das autoras do artigo, Ilia Leitch, investigadora dos Kew Gardens.

Além de entrar no Guiness Book como contendo o maior genoma do planeta, a Tmesipteris oblanceolata conquistou ainda outros dois galardões: o da planta e ainda o do feto com o maior genoma a nível mundial.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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