A ave foi libertada esta quarta-feira na Serra da Estrela, depois de recuperar no CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, que fica em Gouveia.
Esta ave de rapina tinha sido encontrada a 17 de Novembro pelo proprietário de uma quinta em Mizarela, concelho da Guarda, no Parque Natural da Serra da Estrela, explicou à Wilder o coordenador do CERVAS, Ricardo Brandão.
“A ave estava presa no arame farpado de uma vedação e o SEPNA/GNR (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente) da Guarda foi ao local e cuidadosamente retirou-a e de imediato a entregou no CERVAS”, indicou este veterinário.
O bufo-real (Bubo bubo) é a maior das aves de rapina portuguesas. São enormes e inconfundíveis, com cerca de 60 centímetros de tamanho, segundo o portal Aves de Portugal. O seu canto pode ouvir-se a quilómetros de distância.
No caso deste bufo, a equipa do centro percebeu que havia uma ferida no pulso da asa que tinha ficado presa no arame farpado, pelo que tratou de a tratar. “Felizmente, e ao contrário do que ocorre nestas situações, não havia lesões do ligamento anterior da asa (propatagium) nem dos ligamentos do ombro e axila”, notou Ricardo Brandão.
Assim, esta ave ficou no centro por um período de tempo “relativamente curto, apenas o necessário para a cicatrização da ferida, e, no período final, treino de voo.”
Nesta quarta-feira, a devolução à natureza aconteceu num local próximo onde tinha sido recolhida, “por ser uma zona relativamente inóspita, rochosa e que seria provavelmente o território deste indivíduo.”
Ainda assim, apesar de ser uma área protegida, no Parque Natural da Serra da Estrela, existem no local diversas ameaças – “desde logo uma extensa vedação pecuária com arame farpado e ainda um parque eólico e linhas eléctricas”, alerta o coordenador do CERVAS. Apesar de tudo, o bufo-real é uma espécie que continua a ocorrer em toda esta área.
No momento da libertação, estavam presentes os padrinhos da ave bem como membros das equipas do CERVAS e do SEPNA – Guarda.
“Num caso em que uma rapina nocturna, por alguma razão, colida com uma vedação, e se houver arame farpado, é provável que fique lá presa”, avisa também Ricardo Brandão. Estas colisões são mais prováveis em noite de nevoeiro, por exemplo, quando a visibilidade está mais reduzida.
Para os bufos-reais, por exemplo, esta acaba por ser uma das principais causas de entrada em centros de recuperação de vida selvagem como o CERVAS. “Principalmente em zonas do interior do país onde haja mais produção de gado e consequentemente utilização de vedações com arame farpado.”
E embora de forma geral seja menos frequente com outras espécies, “esta situação também pode afectar outras aves e até mamíferos, principalmente se o arame farpado estiver em zonas mais baixas da vedação”, acrescenta o mesmo responsável.
Solução? “O ideal seria não usar arame farpado nas vedações”, apela Ricardo Brandão, que lembra que “a legislação obriga a uma altura mínima que tem que ser cumprida”. Ora, isso até pode salvar mamíferos, mas “poderá não ser suficiente como medida de conservação de aves, concretamente de rapinas nocturnas”.
Saiba mais.
Aprenda mais sobre o bufo-real neste artigo publicado pelo projecto STRI – Rapinas Nocturnas de Portugal.
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