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Laverca (Alauda arvensis). Foto: Marton Berntsen/WikiCommons

Cada vez chegam menos aves no inverno a Espanha

22.11.2024

Graças à participação de pessoas voluntárias no Sacin, programa de ciência cidadã da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) para conhecer o estado das populações de aves no inverno, sabe-se que em Espanha há menos 19% de indivíduos em 2023 em relação a 1998, nesta época do ano. A análise aos dados recolhidos de mais de 80 espécies de aves durante 15 temporadas permitiu chegar a esta conclusão.

De Dezembro a Fevereiro, centenas de voluntários recolhem dados sobre as populações de aves invernantes de mais de 80 espécies, como a escrevedeira-amarela (Emberiza citrinella) ou o peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus), espécies que se encontram em declínio.

As espécies de meios agrícolas, como o pintassilgo (Carduelis carduelis) e o verdilhão (Chloris chloris), são as que apresentam as tendências mais desfavoráveis no inverno.

As causas podem ser explicadas pelo facto de as suas populações invernantes estarem a registar declínios em Espanha ou porque as aves deixam de realizar migrações do Centro e Norte da Europa para as regiões mediterrânicas, por causa das alterações no clima no Inverno, como consequência do aquecimento global.

A importância de estudar as aves

O seguimento a longo prazo das populações de aves comuns oferece informação muito valiosa sobre a evolução das suas populações. É um indicador crucial para saber se as espécies têm problemas de conservação e identificar os habitats onde essas populações têm maiores problemas.

Além disso, a análise da informação oferece um excelente indicador biológico das alterações climáticas. O facto de as aves já não precisarem de viajar para o Sul da Europa para escapar aos frios rigorosos do continente é um dos melhores indicadores das alterações climáticas baseado na biodiversidade.

Segundo os dados obtidos por este programa de seguimento, são as espécies dos meios agrícolas que registam as tendências mais desfavoráveis no inverno. “Isto pode dever-se à intensificação do uso dos solos no campo e às transformações que ocorreram nestes últimos anos, nada favoráveis para a maioria destas espécies”, segundo a SEO/Birdlife.

Os resultados obtidos na última campanha mostram que muitas das 20 espécies mais abundantes no inverno estão em situação favorável ou, pelo menos, estável. Mas espécies como o melro (Turdus merula), o pintassilgo e o verdilhão estarão em declínio, sendo cada vez menos abundantes nesta época do ano.

Outras espécies que registam uma diminuição das suas populações invernantes são a petinha-dos-prados (Anthus pratensis), a gralha-preta (Corvus corone), a gralha-de-nuca-cinzenta (Corvus monedula), o pintarroxo (Linaria cannabina) e a estrelinha-real (Regulus ignicapilla). Desde 2008 até 2023 registaram-se também descidas nas populações de perdiz (Alectoris rufa), de peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus), cotovia-de-poupa (Galerida cristata), escrevedeira-de-garganta-cinzenta (Emberiza cia) e de laverca (Alauda arvensis).

O programa Sacin realiza-se durante dois dias de campo no meio do inverno. O primeiro dia, entre meados de Dezembro e meados de Janeiro, e o segundo de meados de Janeiro a meados de Fevereiro. Em cada dia é preciso anotar todas as aves vistas ou ouvidas num passeio de duas horas estabelecido previamente e que se repita todos os anos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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