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Milene Matos ganhou o prémio Terre de Femmes, em três categorias.

Bióloga apaixonada pelo Bussaco vence prémio internacional de natureza

13.04.2015

Aos 32 anos, Milene Matos foi escolhida como a grande vencedora da edição de 2015 do prémio Terre de Femmes que, desde 2001, distinguiu 350 mulheres naturalistas em 15 países. Tudo graças ao seu projecto “Biodiversidade para Todos” na Mata do Bussaco.

Na aldeia onde Milene Matos viveu até aos 10 anos, no Luxemburgo, as brincadeiras faziam-se no quintal, ela e o irmão e irmã mais velhos e… as minhocas.

Passavam os tempos livres também num ribeiro, no meio da lama, a brincar com limos, escorpiões e lagostins, ou então em grandes cercados electrificados onde as vacas pastavam e os “choques” faziam parte da vida.

Essas “aventuras de exploração da natureza” foram fundamentais para Milene se interessar pela conservação da natureza, contou a bióloga à Wilder. Hoje divide o seu tempo entre o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro – onde dá aulas e orienta projectos de investigação – e o serviço educativo da Fundação Mata do Bussaco.

Milene Matos numa acção de educação ambiental. Foto: DR
Milene Matos numa acção de educação ambiental. Foto: DR

 

Aos 32 anos de idade, acabou de ganhar o prémio Terre de Femmes, atribuído todos os anos pela Fundação Yves Rocher a mulheres que lançam e conduzem projectos de salvaguarda do mundo vegetal e melhoria do Ambiente.

Na verdade, Milene ganhou três prémios, “varrendo” o primeiro lugar das categorias disponíveis:  o prémio português e mais recentemente, no dia 2 de Abril, numa cerimónia em Paris, o prémio internacional e o prémio do público, este último atribuído numa votação online. A bióloga portuguesa foi apanhada de surpresa, mas sente que este é “um grande voto de confiança”.

“Com o orgulho de receber estes prémios sinto também o peso da responsabilidade. Portanto ganho ainda mais vontade de trabalhar e fazer o melhor que consiga para honrar as nomeações que me foram atribuídas”, explicou.

O trabalho de Milene está há vários anos ligado à Mata do Bussaco, pela qual se apaixonou no final da licenciatura, em 2003, quando os professores orientadores lhe propuseram estudar as aves daquele lugar.

“Visitei e foi amor à primeira vista. A flora da Mata era relativamente conhecida, mas a fauna nunca tinha sido estudada. Nesse ano fiz não só o estudo das aves, mas de todos os vertebrados”, acrescentou.

Na Mata do Bussaco, com alunos de uma escola. Foto: DR

 

Foi ao longo dos anos seguintes, enquanto continuava os estudos na Mata e na região em volta, que se foi interessando pela organização de acções de educação ambiental. Em 2011 começou o pós-doutoramento em comunicação de ciência na Universidade de Aveiro, que ainda está em curso.

Do trabalho neste pós-doutoramento nasceu a criação de um serviço educativo no Bussaco e a colaboração de Milene na gestão da mata, na estratégia de promoção e na monitorização da biodiversidade. Desta forma surgiu também o projecto “Biodiversidade para Todos”, com o qual a investigadora ganhou agora o prémio Terre de Femmes.

E o que é o “Biodiversidade para Todos”? Segundo Milene, este projecto “é muito complexo e abrange vários públicos-alvo”, mas de uma forma geral foca-se no serviço educativo e dirige-se a pessoas com origens e idades diferentes: idosos, crianças em idade escolar, grupos de visitantes e voluntários, mas também funcionários que trabalham na Mata e reclusos que ali colaboram.

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Com uma salamandra. Foto: DR

 Quem visita ou trabalha na Mata do Bussaco pode contar com oficinas pedagógicas para escolas, acções de formação-acção para voluntários, formação interna de pessoal e acções de educação e sensibilização ambiental para o público em geral, mas também a comemoração de dias especiais, como o Dia dos Avós.

No último sábado, dia 11 de Abril, por exemplo, realizou-se uma acção de controlo de plantas invasoras na Mata, já sob o signo do galardão Terre de Femmes.

O “Biodiversidade para Todos” inclui também parcerias estratégicas com instituições locais ou nacionais, com papel importante a nível económico e social, como a Universidade Sénior CADES (com pólos na Mealhada e Luso) e o grupo Portucel Soporcel, exemplificou Milene.

Quanto ao destino que vai dar aos 10 mil euros do prémio internacional, somados aos 5 mil euros do prémio do público, ainda está em estudo, mas a bióloga aponta alguns caminhos. “Se me for possível, gostaria de criar um programa de bolsas escolares e verdadeiras oportunidades para pessoas motivadas e que infelizmente atravessem um período de carência.”

No futuro, acredita que “é preciso envolver toda a sociedade na protecção do ambiente e não apenas as entidades especificamente mais competentes”. Decisores, empresas, famílias, o público em geral.

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Muitas campanhas passam ao lado dos porquês e perdem eficácia, alerta Milene Matos. Foto: DR

 

Há que explicar-lhes o motivo de fazer de uma maneira e não de outra, porque “as pessoas tendem a agir de uma determinada forma se o porquê lhes for explicado”.

É esse aliás o problema de muitas campanhas ambientais, que “vão directas ao como” e por isso “perdem eficácia”, alertou a bióloga. E é por isso que Milene vai continuar a insistir em explicar os porquês, na Mata do Bussaco.

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se quiser apoiar e conhecer mais sobre o projecto “Biodiversidade para Todos”, pode participar nas actividades do serviço educativo da Mata do Bussaco, nas acções de voluntariado e noutras, divulgadas na página do projecto www.facebook.com/milenebiotodos ou também no site www.milenematos.com.

Milene completa: “Mesmo não estando presentes fisicamente, passar mensagens positivas e assumir atitudes sustentáveis são sempre uma ajuda preciosa. A natureza agradece!”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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