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Jim Fyfe e Tūmai Cassidy caminham ao lado de um espécime de baleia que estava a ser removido de uma praia em Otago. Foto: Departamento de Conservação da Nova Zelândia

Baleia mais rara do mundo terá dado à costa da Nova Zelândia

17.07.2024

Peritos acreditam que a baleia que deu à costa da ilha Sul da Nova Zelândia, perto de Otago, a 4 de Julho passado é uma baleia-bicuda-de-bahamonde (Mesoplodon traversii), revelou o Departamento de Conservação neozelandês. Esta será a mais rara baleia do mundo, com apenas seis espécimes conhecidos para a Ciência.

A 4 de Julho, as equipas do Departamento de Conservação da Nova Zelândia (DOC) foram notificadas do arrojamento de uma baleia-bicuda com cerca de cinco metros de comprimento perto de Taiari Mouth.

Já no local, os técnicos analisaram o animal e consultaram peritos em mamíferos marinhos, tendo chegado à conclusão de que aquele macho pertence à espécie baleia-bicuda-de-bahamonde (Mesoplodon traversii), tão rara que quase nada se sabe sobre ela.

Jim Fyfe e Tūmai Cassidy caminham ao lado de um espécime de baleia que estava a ser removido de uma praia em Otago. Foto: Departamento de Conservação da Nova Zelândia

Gabe Davies, do departamento de Otago para o DOC, disse que se se confirmar, este será um achado muito significativo para a Ciência.

“As baleias-bicudas-de-bahamonde são uma das espécies de grandes mamíferos menos conhecidos dos tempos modernos”, disse Gabe Davies, em comunicado. “Desde os anos 1800, apenas seis indivíduos foram registados em todo o mundo e todos menos um foi encontrado na Nova Zelândia. De um ponto de vista científico e de conservação, isto é brutal.”

O Departamento de Conservação da Nova Zelândia tem estado a trabalhar com outras instituições para estudar este espécime, já que este “oferece a primeira oportunidade de sempre para dissecar uma baleia-bicuda-de-bahamonde”.

Amostras genéticas já foram enviadas para a Universidade de Auckland mas ainda deverá demorar várias semanas ou meses para que o ADN seja processado e que a identificação final seja confirmada.

A baleia já foi removida da praia e está guardada numa câmara frigorífica.

A baleia-bicuda-de-bahamonde foi descrita para a Ciência enquanto espécie em 1874, a partir de uma mandíbula e dois dentes encontrados em Pitt Island, Rēkohu (Chatham Islands), que faz parte de um arquipélago no Oceano Pacífico a 800 quilómetros da ilha Sul da Nova Zelândia.

Essa amostra, juntamente com ossos de outros dois espécimes encontrados em Whakāri/White Island e na ilha Robinson Crusoe (Chile), permitiu aos cientistas confirmar uma nova espécie. Dois achados mais recentes, ambos na Nova Zelândia, ajudaram a descrever o padrão de cores desta espécie pela primeira vez.

Até ao momento não há registos conhecidos de baleias vivas desta espécie.

“Sabemos muito pouco, praticamente nada” sobre estas criaturas, disse Hannah Hendriks, conselheira marinha para o Departamento de Conservação neozelandês, citada pela agência de notícias AP. “Este achado poderá originar informação científica fantástica e inédita.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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