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Abibe (Vanellus vanellus). Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

Aves comuns da Europa registam tendência de declínio, especialmente as de zonas agrícolas

13.12.2024

O Esquema Pan-Europeu para a Monitorização das Aves Comuns analisou dados apresentados por 30 países sobre as aves comuns e concluiu que este grupo regista uma tendência de declínio desde 1980, segundo os resultados conhecidos esta semana.

 

Todos os anos, o objectivo é reunir dados dos censos feitos pelos vários países europeus e analisar os dados a uma escala temporal e espacial alargada, neste caso entre 1980 e 2023, o que permite aferir tendências.

Este ano, o Esquema Pan-Europeu para a Monitorização das Aves Comuns (Pan-European Common Bird Monitoring Scheme, PECBMS) analisou dados para 168 espécies de 30 países e as notícias não são boas.  “A actualização de 2024 dos índices para as aves selvagens mostra um declínio geral nas aves comuns que nidificam na Europa”, segundo o Esquema Pan-Europeu. Especialmente grave é a situação das espécies que vivem em zonas agrícolas.

Segundo os resultados, 25 espécies agrícolas registaram um declínio moderado – como a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), o abibe (Vanellus vanellus) e o estorninho-malhado (Sturnus vulgaris), por exemplo – e uma um declínio grave, o sisão (Tetrax tetrax). Esta ave emblemática das estepes cerealíferas do Alentejo perdeu quase metade da população portuguesa nos últimos 10 anos.

Sete espécies estão estáveis (como a calhandrinha-comum, Calandrella brachydactyla, e a escrevedeira-de-garganta-preta, Emberiza cirlus) e cinco registaram um aumento moderado (como a cegonha-branca, Ciconia ciconia; a gralha-calva, Corvus frugilegus; ou o papa-amoras-comum (Curruca communis).

Quanto às aves florestais, 15 registam um declínio moderado – como a estrelinha-de-poupa (Regulus regulus) e o lugre (Spinus spinus) -, 13 um aumento moderado – como a trepadeira-azul (Sitta europaea) e o gaio-comum (Garrulus glandarius) – e cinco estão estáveis, como o gavião-europeu (Accipiter nisus) e o quebra-nozes (Nucifraga caryocatactes).

Portugal está representado neste esforço europeu pelo Censo de Aves Comuns, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

“É diferente olhar para uma análise nacional ou para uma mais alargada”, disse hoje à Wilder Hany Alonso, técnico de gestão de dados e cartografia da SPEA. “Há espécies em declínio em Portugal e não a nível europeu e vice-versa”, por exemplo.

Hany Alonso destaca o caso das aves agrícolas. “O padrão é óbvio, é manifestamente negativo (…), por causa da intensificação da produção agrícola na Europa.” Este responsável destaca espécies comuns com tendências negativas em Portugal e na Europa a rola-brava, o picanço-barreteiro, a andorinha-das-chaminés, o pardal e o cuco.

Do lado das espécies com tendências positivas, Hany Alonso destaca o pombo-torcaz, a toutinegra-de-barrete, o rabirruivo, as trepadeiras, o pisco-de-peito-ruivo, a carriça e o charneco.

Mas no geral, acrescentou,”é notório que o número de aves tem vindo a decrescer” na Europa, ainda que não se registe uma redução da sua área de distribuição.

Os dados analisados pelo EBCC (European Bird Census Council), entidade responsável por este Esquema Pan-Europeu, são depois disponibilizados à comunidade científica. “Esta é uma grande mais valia destas análises, porque permite aos investigadores cruzarem estes dados com outras variáveis e fazer, por exemplo, análises demográficas”, comentou Hany Alonso.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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