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Ave à beira da extinção reintroduzida em Cabo Verde

24.05.2018

Numa acção de conservação inédita no mundo, 30 calhandras-do-raso foram reintroduzidas numa ilha de Cabo Verde. Esta é uma das espécies de aves mais ameaçadas do planeta. Agora ganhou uma nova casa.

 

Esta é a calhandra-do-raso (Alauda rasae), uma ave pequena, de tons castanhos e beiges. Até agora só a podíamos encontrar num único lugar do mundo, no ilhéu Raso, em Cabo Verde. Toda a população mundial ocorria em apenas sete quilómetros quadrados.

 

 

“Em 2004, após vários anos de seca consecutiva, apenas 50 aves existiam neste ilhéu árido e seco e a espécie estava à beira da extinção”, explicou hoje a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), uma das organizações envolvidas neste projecto.

Em Abril, conservacionistas de vários países, incluindo Portugal, juntaram-se para reintroduzir esta espécie na ilha de Santa Luzia, também em Cabo Verde, onde já houve calhandras.

Depois de cinco anos de preparação, em Abril, 30 calhandras-do-raso foram libertadas em Santa Luzia, onde há habitat adequado para sobrevivência da espécie. Esta foi uma acção de conservação inédita no mundo, salienta a Spea, já que foi a primeira vez “que se translocam calhandras no mundo inteiro”.

A reintrodução, acrescenta a Spea, “ajudará a aumentar a resiliência da população a longos períodos de seca que têm vindo a aumentar com as mudanças climáticas globais”.

Esta operação de conservação da natureza surge após vários anos de preparação. De 2013 a 2015, a Spea, a organização não governamental Biosfera1 e a organização britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) desenvolveram um projeto para criar um plano para a remoção de espécies invasoras de Santa Luzia e estudar a viabilidade para a recuperação de habitats.

Na sequência dos resultados iniciou-se em 2017 o projeto Desertas – Sustainable management of Santa Luzia Marine Reserve, com o apoio da Fundação MAVA, para a recuperação total e proteção sustentável dos habitats e da biodiversidade ameaçada das Áreas Marinhas Protegidas do Ilhéu Raso, Branco e Santa Luzia, um importante hotspot de biodiversidade no Atlântico norte. A ação de translocação da calhandra-do-raso foi um dos principais marcos do projeto Desertas.

Depois destes esforços e de alguns anos de chuva adequada (da qual a calhandra depende para se reproduzir) a população aumentou o suficiente para se mudarem alguns indivíduos para Santa Luzia. “Nesta ilha onde outrora já existiram calhandras, a presença de água e de mais alimento permite que esta pequena ave possa encarar o futuro de forma mais risonha, pois terá melhores hipóteses de resistir a alterações climáticas e outras ameaças.”

A Spea espera que as aves agora translocadas “sejam o primeiro passo para que uma segunda população de calhandra-do-raso se possa futuramente estabelecer na ilha de Santa Luzia”.

Esta ação foi financiada pela MAVA – Fondation pour la Nature e teve como parceiros várias outras instituições ao longo dos últimos anos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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