Espécie encontra-se apenas na bacia hidrográfica do rio Mira, tratando-se por isso de um endemismo lusitano.
Houve um momento de “enorme consternação” quando elementos da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável visitaram a ribeira do Torgal, um afluente do Mira que se situa no concelho de Odemira, e perceberam que a bacia hidrográfica deste rio com cerca de 130 quilómetros “secou quase na sua totalidade”.
É que essa situação “faz temer o pior em relação à sobrevivência do escalo-do-Mira (Squalius torgalensis)”, até porque “o único local que não secou em toda a bacia hidrográfica parece ter sido o pego das Pias”, conta a ONG portuguesa, num comunicado divulgado esta sexta-feira.
É assim no pego das Pias, que pertence à ribeira do Torgal, que reside “a última esperança de que alguns exemplares da espécie possam ter sobrevivido”. No entanto, adverte a associação, nesse pego abundam “espécies exóticas invasoras, como o lagostim-vermelho-da-Louisiana (Procambarus clarkii), a perca-sol (Lepomis gibbosus) ou o temível predador achigã (Micropterus salmoides), que tornam improvável qualquer cenário que não a extinção da espécie.”
De acordo com a associação portuguesa de defesa do ambiente, o escalo-do-Mira terá deixado de ser, “inexplicavelmente”, alvo de um programa de reprodução em cativeiro que tinha como objectivo evitar que sucedessem situações como esta.
“A Zero alertou o senhor ministro do Ambiente para esta tragédia ambiental e solicitou que sejam accionados meios urgentes para o terreno com o objetivo de avaliar se ainda sobreviveram exemplares do escalo-do-Mira”, relata a associação liderada por Francisco Ferreira, frisando que esta espécie “só existe em Portugal” e por isso “recai sobre o país a responsabilidade total quanto à sua conservação”.
A confirmar-se a extinção do escalo-do-Mira “não só estamos perante uma incompreensível inacção das autoridades, em particular o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas”, como por outro lado se trata de algo “sistémico e representativo de algo mais”, acusa.
A mesma ONG considera que está em curso uma política pública que parece “presa por arames”, “onde reina a desatenção completa em relação à conservação dos valores naturais e onde a contínua falta de definição de prioridades só poderá ter como resultado o futuro agravamento do estado de conservação das espécies e dos seus habitats”.