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Abutre-preto (em primeiro plano). Foto: PJeganathan/Wiki Commons

Aprovado plano de acção para conservar 15 espécies de abutres

31.10.2017

Quinze espécies de abutres têm agora um plano de acção global com mais de 100 medidas de conservação. O documento foi aprovado na semana passada na Convenção sobre a Conservação de Espécies Migradoras da Fauna Selvagem (CMS) em Manila (Filipinas).

 

O grande objectivo do plano é travar o grave declínio dos abutres nos 128 países onde ocorrem, desde a Europa à África e à Ásia. Estima-se que hoje, a maioria dos abutres esteja Criticamente em Perigo ou com um elevado risco de extinção na natureza. A principal razão é a morte por envenenamento.

Além do envenenamento, os abutres estão ameaçados pela degradação dos habitats, falta de alimento, fragmentação das populações, perturbações pelos humanos, colisões com turbinas eólicas e linhas eléctricas e electrocussões e alterações climáticas.

Para tentar travar esta tendência, a CMS propôs o plano de acção aprovado na 12ª COP (conferência das partes) da CMS, de 23 a 28 de Outubro. “Precisa ser adoptado por Governos e apoiado por todos, incluindo aqueles que até agora não reconheceram ainda a importância dos abutres”, comentou Bradnee Chambers, secretário-executivo da CMS, em comunicado.

O documento recomenda 124 acções para os países implementarem a fim de recuperar até 2029 as populações de 15 espécies de abutres: quebra-ossos (Gypaetus barbatus), abutre-do-egipto (Neophron percnopterus), abutre-de-cabeça-vermelha (Sarcogyps calvus), abutre-de-cabeça-branca (Trigonoceps occipitalis), abutre-de-capuz (Necrosyrtes monachus), grifo-dos-himalaias (Gyps himalayensis), abutre-indiano-de-dorso-branco (Gyps bengalensis), abutre-africano (Gyps africanos), abutre-de-bico-longo (Gyps indicus), abutre-de-bico-estreito (Gyps tenuirostris), abutre-do-cabo (Gyps coprotheres), grifo-de-ruppell (Gyps rueppelli), grifo (Gyps fulvus), abutre-preto (Aegypius monachus) e abutre-real (Torgos tracheliotos).

As 124 medidas propostas estão organizadas em quatro grandes grupos: investigação e monitorização; educação e sensibilização; conservação directa e legislação e políticas.

Entre as medidas consideradas essenciais está a revisão e o reforço das penas nos casos de envenenamento ilegal de vida selvagem, a formação dos agentes de natureza para responder rapidamente em caso de envenenamento de abutres, a identificação nos territórios destas aves dos maiores perigos (como linhas eléctricas, por exemplo) e proibir ou retirar do mercado o diclofenaco (um anti-inflamatório usado para tratar gado bovino).

Esta substância foi autorizada para uso veterinário na Índia, em 1993, com resultados devastadores para os muitos milhares de abutres que na altura ocorriam naquele país: em pouco tempo, as populações destas aves reduziram-se em 97%. Resultado? O fármaco foi proibido no subcontinente indiano. Na verdade, o uso de diclofenaco já causou a quase extinção de três espécies de abutres na Ásia na década dos anos 90.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) – que trabalha há vários anos na conservação do abutre-preto – já manifestou a sua “satisfação” pela aprovação deste plano de acção, no qual participou nas fases de discussão e preparação.

Mas, salienta, este “é apenas o primeiro passo” para a conservação dos abutres. Para a Liga, o mais importante está por assegurar, referindo-se à “aplicação e sucesso das medidas previstas no Plano nos diferentes países onde ocorrem estas espécies de aves necrófagas”.

Portugal é signatário da Convenção. Por isso, a LPN apela ao Estado português que garanta “os recursos necessários” e se empenhe totalmente na implementação deste Plano de Acção.

A Fundação para a Conservação dos Abutres considera este plano um marco na conservação destas aves. “Depois dos declínios populacionais de 95% em África e na Ásia nas últimas décadas, a maioria das espécies de abutres de África, Ásia e Europa estão agora ameaçadas de extinção”, lembrou, em comunicado. Este plano dá uma nova esperança e “é tempo de celebrar”. Ainda assim, o maior desafio será garantir os recursos para a coordenação e implementação do plano.

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Consulte o Plano de Acção aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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