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Águia-pesqueira. Foto: NASA

Águias-pesqueiras voltam a fazer ninho em Portugal

02.05.2015

Há 13 anos que não se via nada assim. Um casal reprodutor de águias-pesqueiras foi observado recentemente num ninho junto ao mar na Costa Vicentina, depois de a espécie ter sido dada como extinta em Portugal em 1997.

O ninho foi detectado em Setembro e desde logo ficou a suspeita de que fosse de águia-pesqueira (Pandion haliaetus). A confirmação surgiu a 13 de Abril deste ano, quando uma equipa de investigadores do CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos identificou um macho e uma fêmea adultos a ocupar o ninho, segundo um comunicado do centro divulgado a 30 de Abril.

Tempos houve em que este caso dificilmente seria notícia. Em Portugal continental, a águia-pesqueira já nidificou em quase todo o litoral desde, talvez, o Pinhal de Leiria até à zona de Albufeira. No início do século XX existiriam entre 22 e 30 casais mas em finais dos anos 1970 apenas existiriam dois, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. A partir de 1991, a população ficou reduzida a um casal reprodutor, na Costa Vicentina. Em 1997 morreu a fêmea e com ela terminou a reprodução da espécie em Portugal. O macho foi visto pela última vez em 2002.

Desde então, o nosso país tem sido apenas um destino “de férias” para as águias-pesqueiras que escolhem passar aqui o Inverno, para fugir do frio de países como o Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia. Estima-se que, pelo menos, entre 71 e 81 águias-pesqueiras venham passar o Inverno a Portugal, segundo o primeiro censo a esta migração, realizado a 24 de Janeiro.

Agora, este pode ser o início do regresso da espécie a Portugal, a acompanhar o seu regresso a toda a região do Mediterrâneo, graças a projectos de reintrodução a decorrer na Andaluzia (desde 2003), em Itália (desde 2006), Portugal (desde 2011) e País Basco (2013).

Segundo o CIBIO, a tentativa de reconstituir a população ibérica da espécie já libertou 125 águias na Andaluzia (com 13 casais instalados em 2014), 40 em Portugal e 23 no País Basco.

Em Portugal, o projecto está a decorrer na albufeira de Alqueva desde 2011 e é desenvolvido pelo CIBIO com o apoio financeiro da EDP. Segundo o CIBIO, “foram recentemente fotografadas duas aves – machos, aparentemente – libertadas no âmbito do projecto português de reintrodução, uma na barragem de Alqueva e outra na barragem do Pedrógão”. Os investigadores salientam que, “sendo os machos os precursores dos territórios de reprodução, estes dados sugerem a possibilidade de assistirmos brevemente à instalação dos primeiros casais reprodutores”. Segundo o investigador Luís Palma, “estão agendadas para breve novas monitorizações nas duas barragens, com vista a se conseguir identificar os indivíduos observados e verificar se existem tentativas de definição de territórios de reprodução”.

Ainda assim, não foi possível saber de onde vieram as aves observadas no ninho da Costa Vicentina, dado que os animais não estão anilhados. Luís Palma acredita que “a sua capacidade de reocupação do território perdido decorre certamente do fluxo de indivíduos entre as populações mediterrânicas”.

O biólogo pede agora medidas de gestão do litoral para conciliar a presença humana com a recuperação e conservação da avifauna. “Este ordenamento, que não chegou entretanto a existir, é fundamental para permitir a reconstituição de uma população reprodutora de águia-pesqueira ao longo das várias áreas costeiras protegidas, e não deixar que este casal seja apenas mais um efémero episódio da história da espécie em Portugal”, afirma.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais sobre a reprodução da águia-pesqueira:

Os dados sobre a reprodução da espécie em Portugal referem-se ao estudo dos últimos dois casais que nidificaram no país entre 1979 e 1986, segundo o livro “Aves de Portugal”.

As aves ocupavam os ninhos entre final de Fevereiro e início de Março; a postura decorria na primeira quinzena de Abril (com uma dimensão média de 1,9 ovos) e a eclosão na segunda quinzena de Maio. As crias estavam prontas a voar em meados de Julho.

Quanto à alimentação, estas aves comem, sobretudo, carpas, tainhas, robalos e sargos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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