A análise molecular de anelídeos marinhos do Nordeste Atlântico revelou que o que era previamente considerada uma só espécie são afinal nove espécies diferentes com a mesma aparência morfológica, segundo a Universidade de Aveiro.
A descoberta de uma equipa das universidades de Aveiro e do Minho deu origem à descrição de cinco espécies novas para a Ciência, estando as restantes a aguardar colheita de mais exemplares para um estudo mais aprofundado.
Os anelídeos são animais invertebrados com o corpo formado por vários segmentos que lembram uma série de anéis fundidos uns aos outros. Fazem parte dos ecossistemas costeiros e vivem em substratos arenosos e lodosos ou entre algas, até cerca de 50 metros de profundidade.
O crescente recurso a técnicas moleculares para a identificação de organismos tem vindo a revelar uma maior diversidade de espécies do que o pensado anteriormente.
Publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society, um estudo de investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA), da Universidade do Minho e da Universidade de Gotemburgo (Suécia) a 148 exemplares da espécie Eumida sanguinea colhidos ao longo da costa europeia (desde a Noruega à Itália) revelou tratar-se, afinal, de um complexo de nove espécies diferentes.
Estas espécies de anelídeo distinguem-se apenas por variações subtis de coloração corporal e de proporção dos seus apêndices, as quais passam despercebidas até aos olhos mais atentos e experientes.
Com o cada vez maior uso dos testes de ADN poderá haver surpresas com outras espécies. “Na verdade” aponta, em comunicado, a investigadora Ascensão Ravara, do CESAM, “este foi só o primeiro ‘complexo de espécies’ de entre quatro que estamos a estudar”. A equipa – da qual fazem também parte os investigadores Marcos Teixeira, Pedro Vieira, Filipe Costa e Arne Nygren – tem já sinalizadas outras espécies que provavelmente também serão afinal complexos de espécies diferentes. “Certamente existirão mais casos por identificar”, sublinha Ascensão Ravara.
Antigamente, explica Ascensão Ravara, “a descrição das espécies baseava-se unicamente nas características externas dos organismos [morfologia]”. Hoje em dia, “as técnicas moleculares – com obtenção de sequências de ADN – permitem-nos caracterizar e comparar os organismos também ao nível genético. São duas ferramentas [morfologia e genética] que se complementam e nos ajudam a conhecer melhor o mundo que nos rodeia”.
Os organismos estudados neste trabalho estão depositados na CoBI – Coleção Biológica de Investigação da UA, uma coleção que está disponível para estudo pela comunidade científica.