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A história de uma fotografia de abutres que mais parece uma pintura

27.07.2017

Estar perto de um bando com mais de cem grifos é um momento que dificilmente se esquece. Carlos Rio, fotógrafo profissional de natureza e vida selvagem, contou à Wilder a história desta fotografia que mais parece uma pintura.

 

 

A fotografia foi feita em Novembro de 2016, em Buseu, uma pequena aldeia abandonada e agora recuperada no âmbito do Buseu Project, um programa de conservação de aves necrófagas, a cerca de 1200 metros de altitude, nos pré-Pirinéus Catalães. Na zona há um alimentador de abutres e uma estação de anilhagem.

“Nesta fotografia todas as aves são grifos (Gyps fulvus) e seriam, naquele dia, mais de uma centena”, contou Carlos Rio.

O objectivo de Carlos Rio para aquele dia era fotografar os quebra-ossos (Gypaetus barbatus) em voo. A ideia era “completar a série de fotografias que me faltavam para o livro que editei posteriormente, Aves Necrófagas da Península Ibérica”.

Aquele seria um bom local para o conseguir. Ali, diz o fotógrafo de vida selvagem, “é possível também fotografar, e por vezes em simultâneo, o quebra-ossos, o britango (Neophron percnopterus) e o abutre-preto (Aegypius monachus). A Águia-real (Aquila chrysaetos) também é uma visita assídua!”

Acontece que este grande bando de grifos foi o primeiro a chegar ao local. “Como que assustado por algum motivo que eu no momento não consegui perceber, levantou voo acabando por me proporcionar esta fotografia. Uns minutos depois regressaram ao local.”

O grifo é uma ave necrófaga com uma envergadura de asa entre 230 e 265 centímetros. Em Portugal é uma espécie residente pouco comum e, segundo o último censo da espécie (2001) tinha um total de 262-272 casais. Nidifica em saliências ou pequenas cavernas nas escarpas rochosas de grande dimensão, associadas a barrancos fluviais ou cristas montanhosas.

 

[divider type=”thick”]Perfil do fotógrafo Carlos Rio: 

WILDER: O que faz?

Carlos Rio: Sou fotógrafo de natureza e vida selvagem profissional e guia de birdwatching.

W: Onde e quando começou?

Carlos Rio: Sendo natural e vivendo em Fão-Esposende, junto do estuário do Cávado, o coração do Parque Natural do Litoral Norte, chamou-me a atenção a quantidade de espécies de aves que, na altura, desconhecia de todo. Percebendo que mesmo os naturais não tinham a noção da riqueza do seu estuário, achei que devia dar a conhecer toda essa biodiversidade. A fotografia, que até então também me era desconhecida, foi a ferramenta que escolhi para fazer essa divulgação.

W: Como aprendeu a fazer o seu trabalho?

Carlos Rio: A necessidade de fazer melhores fotografias obrigou-me a fazer várias formações quer na área da fotografia, quer na área da ornitologia. Paralelamente, a experiência no campo e os conhecimentos que foram passados por fotógrafos mais experientes, também foram muito importantes neste processo de aprendizagem e evolução que culminou com a profissionalização há cerca de nove anos.

W: Quando começou, o que pensava que queria fazer?

Carlos Rio: Mantenho desde o início, apesar da profissionalização, o mesmo objectivo e lema: “Dar a conhecer para conservar”.

W: O que ainda lhe falta fotografar?

Carlos Rio: No meio de tantas espécies há uma que me vai fascinar sempre: o Guarda-rios (Alcedo Atthis)! As milhares de horas passadas no estuário permitiram-me acompanhar e estudar esta ave em particular possibilitando-me, há dois anos, editar um livro sobre a espécie: “Guarda-rios… o Raio Azul”.
Das 273 espécies de aves que fotografei, há sempre espécies a melhorar e, não sendo uma obsessão, gostaria de tentar fotografar as espécies que ocorrem no nosso território que ainda não consegui fotografar, sem dar prioridade a nenhuma em particular.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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