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Uma proposta para descobrir as aves de Lisboa, junto ao Tejo

16.12.2016

Em Lisboa, à beira do rio Tejo, junta-se uma vez por mês quem gosta de ver aves. Desta vez fomos também e registámos 14 espécies, desde o colhereiro e alfaiate ao milherango e à marrequinha. Os flamingos é que não temos bem a certeza de os termos visto… A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), organizadora do evento “De Olho nas Aves”, garante que sim.

 

 

Montam-se os telescópios e dispõem-se os binóculos na mesa de suporte de frente para o Tejo, no Parque das Nações, perto da ponte Vasco da Gama. São 09h00 de um domingo e há pessoas a correr, sem se aperceber do que está prestes a começar mesmo ali ao lado.

Alexandra Lopes, técnica da SPEA, começa por explicar que estamos ali para observar aves limícolas, ou seja, as que se alimentam no lodo da maré baixa do rio. Por mês são observadas cerca de 30 espécies, explica Alexandra Lopes.

 

 

São distribuídos os binóculos pelos primeiros participantes, atraídos ali pela curiosidade. Pedro Alvito, voluntário da SPEA, posiciona o telescópio em direcção ao Tejo. “Está ali um guincho.” A olho nu pouco se vê além de uma mancha branca ao cimo da água. Os participantes são convidados a espreitar pelo telescópio e eis que o guincho aparece, com a sua cabeça preta e penas brancas acinzentadas no resto do corpo. É uma das 330 espécies de aves que se podem ver em Portugal, especialmente entre Setembro e Abril.

A garça-real que acaba de chegar não precisa de binóculos nem de telescópios para ser notada. Graças ao seu porte maior e elegante, todos a observam com facilidade.

Pedro pega num guia de campo para o ajudar na identificação da espécie e explica quais as diferenças entre as várias garças. Depois de identificada qual a família da ave, o guia demonstra com imagens as diferenças de plumagem ao longo das estações do ano e as diferenças entre macho e fêmea, caso existam.

 

 

Sílvia Nunes é outra voluntária da SPEA. Está a ajudar as crianças que chegaram entretanto ao ponto de observação. Mafalda, de 6 anos, e Raquel, de 9, estão entusiasmadas a ver os “passarinhos” pelos seus binóculos e Sílvia ajuda-as a identificar as espécies com um guia desenhado para os mais pequenos.

Entretanto aparece um colhereiro perto da água, a balançar o bico em forma de colher da esquerda para a direita, varrendo o lodo em busca de alimento. Os colhereiros viajam a partir de países como a Bélgica, Holanda e Luxemburgo para climas mais amenos como o de Portugal, onde passam os meses de Inverno.

Pedro continua a apontar o telescópio para as espécies que os participantes ainda não viram e desafia-os a adivinhar qual a espécie que estão a observar. “Temos de ir aos pormenores”, revela, depois de ninguém ter conseguido descobrir. “Para uma correcta identificação das aves limícolas tem de se ter em conta os seguintes aspectos: a cor, as patas, o bico e o formato do corpo”, ajuda Alexandra Lopes.

Outra ave aproxima-se por baixo de um dos pilares da Ponte Vasco da Gama. É um alfaiate. Tem um bico em forma de agulha, de forma a conseguir capturar o peixe de forma eficiente e rápida. A plumagem é preta e branca, tal como grande parte destas aves limícolas, o que torna a sua identificação ainda mais complexa.

 

 

Às 10h30 observamos um garajau-comum, com a plumagem de tons brancos, pretos e cinzentos. Por esta altura já são cerca de 10 as pessoas que se juntaram ao grupo inicial, muitos motivados pela curiosidade. “É a primeira vez que venho e estou a gostar bastante”, conta Cátia Ribeiro, uma das participantes na actividade. “Já recebo a newsletter da SPEA há algum tempo e finalmente consegui vir a uma observação.”

A conversa é interrompida por um pisco-de-peito-ruivo que aparece a saltitar na vegetação em frente ao ponto de observação. “Este não estava previsto”, diz, entre risos, Pedro Alvito. O pisco torna-se uma companhia constante durante o resto da actividade, chilreando entre a vegetação.

Pedro Alvito vira agora os telescópios para uma pequena reentrância de água junto a um dos pilares da ponte, onde estão cerca de 20 patos-reais. “Os patos-reais são uma espécie onde se verifica dimorfismo sexual, isto é, o macho é diferente da fêmea. Aliás, só os conseguimos identificar a partir de um pequeno triângulo por baixo da asa, que tanto a fêmea como o macho têm da mesma cor verde ou em várias tonalidades de azul” esclarece Pedro. Os participantes tentam agora descortinar o pequeno triângulo que Pedro falou, mas os patos estão demasiado longe.

Vão chegando outras pessoas, algumas vieram de propósito porque tinham conhecimento da realização da actividade, outras estavam só a passear o cão ou a fazer jogging matinal.

Perto dos patos-reais está um corvo-marinho de asas abertas. Os corvos-marinhos não têm asas impermeáveis, têm de vir à superfície secar as asas para que possam continuar a caça de alimento. A sua figura imponente de asas abertas impressiona os participantes na actividade.

À beira da reentrância perto da ponte avistam-se milherangos e as gaivotas são presença constante. Pedro explica que “nesta altura do ano, a plumagem da gaivota permite identificar a espécie mais facilmente, pois é uma altura de mudança em que os juvenis já estão a passar para a plumagem de adulto”.

 

 

O pisco-de-peito-ruivo volta a chilrear bem alto, enquanto se reposicionam os telescópios para agora observar uma marrequinha que passa entre os patos-reais. A marrequinha é o pato mais pequeno da Europa e mesmo com o auxílio do telescópio é difícil distinguir as suas cores, tão longe que está.

Um maçarico-das-rochas mexe a cauda para cima e para baixo, enquanto procura alimento nas águas pouco profundas da margem. Mais à frente, já longe da ponte, vários maçaricos procuram alimento, sem pressas. São agora 11h00 e já se conseguiram avistar oito das espécies que estavam previstas no início da actividade.

Surgem duas garças-brancas-pequenas vindas do pilar da ponte e juntam-se aos patos-reais, às marrequinhas, ao maçarico-das-rochas e ao milherango. Enquanto observamos as recém-chegadas garças, um corvo-marinho mergulha na água durante vários segundos e voltando à superfície. À terceira tentativa apanha o alimento que tanto desejava.

São 11h28 e aparece momentaneamente uma alvéola-branca, que logo voa para longe. “Faltam os flamingos”, diz Pedro Alvito, que prontamente procura os animais com o telescópio. Estão bem longe do Parque das Nações, numa curva do rio mais em cima. Ainda se consegue ver pelo telescópio uma mancha desfocada que Pedro diz serem os flamingos. “Não tivemos sorte, há dias em que os flamingos se aproximam”, diz Pedro.

Arrumam-se os telescópios, os binóculos e os guias de campo. No próximo mês voltam para junto do pilar da Ponte Vasco da Gama. Será no dia 18 de Dezembro, das 10h00 às 13h00.

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