Este projecto financiado pelo Fundo Ambiental está aberto à participação de todos os interessados, através do envio de vídeos de insectos ou testemunhos e de perguntas sobre sobre este grupo de animais.
Em causa está um “um vlog participativo de divulgação científica dedicado aos insectos portugueses e às pessoas que os estudam e são apaixonadas por eles”, explicou à Wilder uma das responsáveis, Eva Monteiro, ligada ao Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, que está envolvido neste projecto em parceria com o cE3C – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.
“Qualquer pessoa pode participar enviando vídeos de insetos ou testemunhos e perguntas sobre insetos para [email protected]”, adiantou a mesma responsável.
Muito importante é que os vídeos enviados estejam na horizontal e que “sejam enviados por e-mail em formato original, com a indicação do nome do autor, data e local do vídeo”, indicou também Eva Monteiro, que deu uma pequena entrevista à Wilder sobre este projecto.
WILDER: Porque surgiu esta vossa ideia?
Eva Monteiro: Há bastante tempo que tínhamos a ideia de criar conteúdos audiovisuais sobre insectos portugueses. Em 2007, altura em que não havia praticamente documentários sobre a vida natural portuguesa, realizámos o primeiro e único, até à data, documentário exclusivamente dedicado a uma espécie de insecto em Portugal: “A flor, a formiga e a borboleta ameaçada”. Felizmente que hoje em dia a situação mudou um pouco e já temos produção nacional que trata sobre as áreas protegidas e sobre alguma fauna de vertebrados, mas como sempre, os insectos continuam a ser os grandes esquecidos. A nossa ideia surgiu numa tentativa de alterar esta realidade.
Os insetos são o grupo de organismos com maior diversidade em Portugal e no mundo e têm uma enorme importância no funcionamento dos ecossistemas, que infelizmente não é reconhecida pela maioria das pessoas. É impossível falar de biodiversidade sem falar de insetos e, numa altura em que se assiste a um declínio sem precedentes destes organismos, é imprescindível dar a conhecê-los.
Por outro lado, quando começamos a reparar nestes pequenos bichos de seis patas, verificamos que são seres fascinantes e fotogénicos, com histórias interessantíssimas para contar, que podem ser descobertas praticamente em qualquer lado.
Aconteceu o mesmo connosco, no Tagis: à medida que o nosso trabalho nos permite ficar saber mais sobre insectos, mais vontade temos de contar o que aprendemos a toda gente. Daí o convite à participação de todos, com o envio quer de vídeos de insetos, quer de perguntas ou respostas a desafios lançados pela equipa do projecto. É um convite à partilha do olhar sobre os insectos e à participação na construção de uma narrativa em que os insectos e a biodiversidade são centrais ao funcionamento da Vida como a conhecemos e ao bem-estar humano.
Quantas contribuições já receberam até agora e de que zonas do país? De mais escolas ou de mais particulares?
Neste projecto há dois tipos de contributos: os contributos na forma de testemunhos do público, investigadores ou figuras públicas sobre insectos portugueses, e os contributos na forma de vídeos de insectos.
Em relação ao primeiro tipo de contributos recolhemos até agora testemunhos de mais de 100 pessoas. A maior parte destas pessoas, incluindo todos os investigadores em entomologia e as figuras públicas, foram contactados pessoalmente e aceitaram o nosso desafio para responderem a perguntas sobre insectos. Recebemos também alguns testemunhos espontâneos como resposta a desafios nas redes sociais sobre os nomes comuns de insectos.
A maior parte destes testemunhos foram enviados por particulares, mas também tivemos a oportunidade de visitar o Agrupamento de Escolas EB 2,3 D. Fernando II em Sintra, onde além de realizarmos entrevistas a alguns alunos recolhemos as bonitas ilustrações de insectos que aparecem nos nossos separadores das Ordens (episódios 3 a 7), contando com a participação de alunos de três turmas do 5º ano.
Em relação aos vídeos de insectos, também recebemos mais contribuições de particulares do que de escolas. E embora sejam menos os participantes no envio de vídeos, cerca de duas dezenas, alguns deles participam com bastante regularidade, tendo enviado vídeos de mais de 60 espécies de insectos pertencentes a 11 ordens. Os mais populares são os insectos pertencentes às Ordens Diptera (moscas), Hymenoptera (abelhas, vespas e formigas) e Lepidoptera (borboletas e mariposas).
Em ambos casos, a maior parte dos contributos recebidos são da área metropolitana de Lisboa, mas também temos contributos do Porto, Aveiro, Vila Nova de Gaia, de vários locais no Algarve e Alentejo e até de locais no estrangeiro, como testemunhos de pessoas que nos seguem desde a Suíça ou Nova Iorque.
Em todos os episódios, estes contributos do público tem sido utilizados e são muito importantes na construção da narrativa.
Foi difícil adaptar o projecto a esta época do ano, em que está mais frio e há menos insectos?
É provável que esta época do ano em que está mais frio e chuva e por isso se vêem menos insectos tenha contribuído para uma mais baixa participação no projecto, principalmente por parte das escolas. A actual situação pandémica também não ajudou, pois impediu que pudéssemos fazer mais visitas às escolas para recolha directa de testemunhos dos alunos, culminando no recentemente no fecho das escolas.
No entanto, embora a participação das escolas tenha ficado aquém do que esperávamos, pensamos que o formato da série com episódios curtos, de aproximadamente 10 minutos, pode constituir um excelente recurso para ser usado nas escolas, como forma de dar a conhecer a importância ecológica dos insectos e a diversidade de espécies comuns no nosso país. Muitas delas poderão mesmo ser encontradas no pátio da escola. Os vídeos vão ficar disponíveis no nosso canal de YouTube e esperamos que os professores de todos os níveis de ensino os usem como recurso educativo.
Em que fase estão neste momento?
Estamos precisamente a meio da série e também na meia-dúzia de episódios. Os primeiros dois foram uma introdução aos insectos e desde então temos vindo a falar das principais ordens. Já falámos de efémeras e libélulas (episódio 3), de baratas, louva-a-deus e bichas-cadela (episódio 4), de grilos, gafanhotos, percevejos e cigarras (episódio 5) e de neurópteros e escaravelhos (episódio 6).
O próximo episódio será sobre as abelhas, as vespas, as borboletas e as moscas. Com esse, terminaremos a apresentação das principais ordens e passaremos a explorar os aspetos ecológicos dos insectos e a sua relação com a sociedade.
Como há sempre tanta coisa para tratar em pouco mais de 10 minutos, além dos episódios temos também os extras, vídeos curtos em que damos destaque a alguns dos testemunhos, ou desenvolvemos ideias que não couberam nos episódios.
Até quando é possível enviar filmes?
Continuaremos a integrar os vídeos do público nos nossos episódios e extras aproximadamente até ao fim de Março. O último episódio – “Doidos por bichos!” – está previsto para o princípio de Abril. Mas mesmo depois disso podem continuar a enviar-nos vídeos de insectos e/ou perguntas sobre eles, que nós continuaremos a partilhar e a responder nas nossas redes sociais no formato de vídeos curtos!
Agora é a sua vez.
Assista neste vídeo curto ao contributo de José Pedro Amorim, que a entomóloga ligada ao Tagis destaca “pelo entusiasmo e fascínio com que partilha connosco uma bonita borboleta-cauda-andorinha”, e inspire-se para recolher e enviar as suas contribuições.
Conheça também o primeiro episódio do Vlog – sobre “As pequenas criaturas que governam o Mundo” – e assista a todos os outros episódios que já têm sido publicados, no canal Youtube do Tagis.
Eva Monteiro convida todos os interessados a enviarem vídeos para o projecto do Vlog Insetos em Rede ([email protected]), seja a nível particular ou no âmbito de uma família ou de um projecto escolar. Saiba mais aqui sobre este projecto e sobre como poderá participar.
Eva Monteiro explica também que “a borboleta-cauda-de-andorinha é a grande estrela do ‘Vlog Insetos em Rede'”: “Vários participantes enviaram-nos vídeos sobre esta borboleta, contribuindo para a documentação desta espécie em todas as fases do seu ciclo-de-vida.”
Já que está aqui…
poie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.
Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.
Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.
O calendário pode ser encomendado aqui.