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Foto: Tiago Ferreira Santos / Vouzelar - Associação de Promoção de Vouzela

Passeio de Primavera: Visitar uma planta relíquia na Reserva Botânica de Cambarinho

18.05.2021

Chamadas de loendros ou adelfeiras, estas plantas estão em flor no mês de Maio e podem ser visitadas no concelho de Vouzela. Fique a conhecer esta rara e deslumbrante espécie relíquia da floresta Laurissilva, com a ajuda de António Gouveia, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.

É na Reserva Botânica de Cambarinho, em Vouzela, no distrito de Viseu, que está a acontecer por estes dias um espectáculo do mundo natural que só acontece algumas semanas por ano: está em flor a maior população em território português de um arbusto conhecido como adelfeira ou loendro, com o nome científico Rhododendron ponticum subsp. baeticum.

Foto: Tiago Ferreira Santos / Vouzelar – Associação de Promoção de Vouzela

António Gouveia, investigador do Centro de Ecologia Funcional (CEF), da Universidade de Coimbra, explicou à Wilder que este arbusto de grandes flores violáceas, que pode chegar aos três metros de altura, pertence à família botânica das ericáceas – a mesma das urzes e do medronheiro, por exemplo.

“É uma espécie endémica rara do sudoeste da Península Ibérica, que em Portugal ocorre quase exclusivamente nas serras do Caramulo e Monchique e em Espanha na serra do Aljibe.”

Aliás, o interesse dos botânicos por esta planta liga-se também à sua longuíssima história, que explica a sua raridade. É que esta é “uma relíquia da Laurissilva, um tipo de floresta húmida subtropical que durante o Terciário cobria grande parte do Sul da Europa e Norte de África”, indicou António Gouveia, referindo-se a um período que teve início com a extinção dos dinossauros.

Muitos milhões de anos mais tarde, “a Laurissilva desapareceu após períodos de glaciação no continente, permanecendo algumas manchas e espécies em refúgios, como é o caso da área abrigada onde os loendros ocorrem ao longo do ribeiro de Cambarinho.”

arbustos com loendros vistos de cima
Foto: Tiago Ferreira Santos / Vouzelar – Associação de Promoção de Vouzela

Esta reserva botânica criada em 1971 tem no total 24 hectares e está também classificada como Sítio de Importância Comunitária, protegido a nível europeu pela Directiva Habitats, no âmbito da Rede Natura 2000. Mas esta protecção de nada valeu quando o concelho de Vouzela foi duramente atingido pelos fogos de Outubro de 2017: “A reserva ardeu na totalidade e o fogo afectou grande parte da população de loendros”, recorda o investigador.

Ainda assim, ao longo destes últimos anos, foi possível avançar com a recuperação destas plantas e da reserva que as abriga. Depois de alguns trabalhos de melhoria da mancha de vegetação e também dos acessos ao local, incluindo um passadiço que acompanha o ribeiro de Cambarinho, António Gouveia garante que “este ano pode ser observada a floração dos loendros mais expressiva desde o incêndio”.

parte da reserva botânica, com o passadiço ao fundo
Foto: Tiago Ferreira Santos / Vouzelar – Associação de Promoção de Vouzela

Actualmente, em colaboração com o CEF, o município de Vouzela tem em curso o projecto “Participação comunitária na construção de uma floresta resiliente e multifuncional”, que vai intervir em vários sítios do concelho, incluindo a Reserva Botânica de Cambarinho.

O objectivo é “promover o envolvimento das populações locais na criação e manutenção de viveiros comunitários de espécies autóctones para apoiar acções futuras de recuperação e reflorestação do concelho”, indicou também o mesmo responsável, que está a coordenar este novo projecto inserido no consórcio F4F – Forest for Future, promovido pelo SerQ – Centro de Inovação e Competências da Floresta e cofinanciado por fundos comunitários, através do Fundo Social Europeu.


Saiba mais.

Assista a este vídeo no qual pode aprender mais sobre os loendros da Reserva Botânica de Cambarinho, pela voz do botânico Jorge Paiva, investigador do Centro de Ecologia Funcional.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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