Chamadas de loendros ou adelfeiras, estas plantas estão em flor no mês de Maio e podem ser visitadas no concelho de Vouzela. Fique a conhecer esta rara e deslumbrante espécie relíquia da floresta Laurissilva, com a ajuda de António Gouveia, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.
É na Reserva Botânica de Cambarinho, em Vouzela, no distrito de Viseu, que está a acontecer por estes dias um espectáculo do mundo natural que só acontece algumas semanas por ano: está em flor a maior população em território português de um arbusto conhecido como adelfeira ou loendro, com o nome científico Rhododendron ponticum subsp. baeticum.
António Gouveia, investigador do Centro de Ecologia Funcional (CEF), da Universidade de Coimbra, explicou à Wilder que este arbusto de grandes flores violáceas, que pode chegar aos três metros de altura, pertence à família botânica das ericáceas – a mesma das urzes e do medronheiro, por exemplo.
“É uma espécie endémica rara do sudoeste da Península Ibérica, que em Portugal ocorre quase exclusivamente nas serras do Caramulo e Monchique e em Espanha na serra do Aljibe.”
Aliás, o interesse dos botânicos por esta planta liga-se também à sua longuíssima história, que explica a sua raridade. É que esta é “uma relíquia da Laurissilva, um tipo de floresta húmida subtropical que durante o Terciário cobria grande parte do Sul da Europa e Norte de África”, indicou António Gouveia, referindo-se a um período que teve início com a extinção dos dinossauros.
Muitos milhões de anos mais tarde, “a Laurissilva desapareceu após períodos de glaciação no continente, permanecendo algumas manchas e espécies em refúgios, como é o caso da área abrigada onde os loendros ocorrem ao longo do ribeiro de Cambarinho.”
Esta reserva botânica criada em 1971 tem no total 24 hectares e está também classificada como Sítio de Importância Comunitária, protegido a nível europeu pela Directiva Habitats, no âmbito da Rede Natura 2000. Mas esta protecção de nada valeu quando o concelho de Vouzela foi duramente atingido pelos fogos de Outubro de 2017: “A reserva ardeu na totalidade e o fogo afectou grande parte da população de loendros”, recorda o investigador.
Ainda assim, ao longo destes últimos anos, foi possível avançar com a recuperação destas plantas e da reserva que as abriga. Depois de alguns trabalhos de melhoria da mancha de vegetação e também dos acessos ao local, incluindo um passadiço que acompanha o ribeiro de Cambarinho, António Gouveia garante que “este ano pode ser observada a floração dos loendros mais expressiva desde o incêndio”.
Actualmente, em colaboração com o CEF, o município de Vouzela tem em curso o projecto “Participação comunitária na construção de uma floresta resiliente e multifuncional”, que vai intervir em vários sítios do concelho, incluindo a Reserva Botânica de Cambarinho.
O objectivo é “promover o envolvimento das populações locais na criação e manutenção de viveiros comunitários de espécies autóctones para apoiar acções futuras de recuperação e reflorestação do concelho”, indicou também o mesmo responsável, que está a coordenar este novo projecto inserido no consórcio F4F – Forest for Future, promovido pelo SerQ – Centro de Inovação e Competências da Floresta e cofinanciado por fundos comunitários, através do Fundo Social Europeu.
Saiba mais.
Assista a este vídeo no qual pode aprender mais sobre os loendros da Reserva Botânica de Cambarinho, pela voz do botânico Jorge Paiva, investigador do Centro de Ecologia Funcional.