Luís Afonso, fotógrafo de natureza apaixonado por orquídeas, desafia-nos a descobrir a bela orquídea que é a última a florir em Portugal Continental, em pleno Outono. É uma espécie que demora 15 anos para dar flor.
Luís Afonso nunca mais vai esquecer a primeira vez que viu uma orquídea espiral (Spiranthes spiralis), depois de a procurar há algumas temporadas.
Este fotógrafo de natureza, apaixonado por orquídeas, desafia-nos agora a procurar esta espécie, “bela e delicada”. E a altura é a ideal.
“Estamos a poucos dias das primeiras chuvas de outono e o feriado de 5 de Outubro revelou-se a altura ideal para ir procurar a última das orquídeas silvestres a florir em Portugal continental: a bela e delicada orquídea espiral, registada com o nome científico Spiranthes spiralis por Francois Chevallier em 1836″, conta Luís Afonso.
O nome desta orquídea tem um significado especial. “O seu nome revela-nos a característica principal da inflorescência: numa única haste floral, as suas pequenas flores brancas e perfumadas (normalmente entre uma a duas dezenas), dispõem-se numa espiral perfeita, tipo espiga.”
Talvez seja por isso, acrescenta, que “os nossos amigos anglo-saxónicos lhe chamam ‘Autumn Lady’s-tresses’ (Tranças-de-dama de outono)”.
Outra curiosidade sobre esta espécie é que é “uma das poucas orquídeas a florir em Portugal cuja parte foliar da planta aparece depois das floração”.
Segundo Luís Afonso, a orquídea espiral “raramente cresce para lá dos 15 centímetros”. “Precisamos de olhos bem atentos para a encontrar. Mas quando encontramos uma, facilmente encontramos várias, pois é abundante nos sítios que coloniza.”
Em Portugal, recorda o fotógrafo, “pode ser encontrada nos calcários do centro, em especial na Serra da Arrábida, Serras de Aire e Candeeiros e Serra de Sicó, em zonas de mato baixo, pobre em vegetação, com boa exposição solar”.
Além de tudo o que a torna tão especial, há algo extraordinário. “A sua germinação demora dezenas de anos, sendo que as primeiras folhas só são produzidas no 11º ano. A floração dá-se normalmente entre os 14º e 15º anos de vida”, explica Luís Afonso. “Algo a ter em conta da próxima vez que estivermos perante a sua frágil aparência.”
“As plantas, embora menos acarinhadas que os animais (talvez pela falta de um coração que palpita e de olhos que nos mirem), são seres vivos que merecem a nossa proteção. Neste caso, a pastorícia é uma atividade que as favorece, limpado os terrenos e ajudando na sua propagação, ao passo que o uso de pesticidas e agricultura intensiva será uma das principais razões por estar quase ausente da zona este do interior do país.”
“Sem estatuto de conservação atribuído, devemos procurá-la entre final de Setembro e inícios de Outubro, sendo que precisa de noites frias para sair cá para fora, razão pela qual pode ser observada no final do verão nos países europeus mais a norte.”
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