Se estivermos atentos, num passeio junto às dunas e arribas da costa portuguesa, iremos ver esta pequena planta a crescer de forma natural e a formar belas, pequenas e compactas moitas de floração abundante e prolongada.
Muitas das plantas ornamentais que conhecemos foram selecionadas a partir da flora silvestre. A beleza e o aroma das suas flores, a exuberância e particularidades da sua folhagem são, muitas vezes, os motivos dessa escolha. Por isso, as plantas silvestres são muitas vezes manipuladas e melhoradas para se obterem variedades específicas, com mais cor, flores maiores, floração prolongada e até maior resistência às condições do clima e a doenças.
A flor-de-mel (Lobularia maritima subsp. maritima) deu origem a novas variedades com o objetivo de serem cultivadas como plantas em jardins.
No entanto, se estivermos atentos, num passeio junto às dunas e arribas da costa portuguesa, iremos ver esta pequena planta a crescer de forma natural e a formar belas, pequenas e compactas moitas de floração abundante e prolongada.
A flor-de-mel
A flor-de-mel pertence à família Brassicaceae, que engloba mais de 345 géneros botânicos e inúmeras plantas herbáceas bem conhecidas, cultivadas em todo o mundo, algumas com elevada importância para a alimentação humana e para a produção de óleos e gorduras vegetais, como por exemplo, a couve, o repolho, o nabo, o rabanete, a mostarda, o agrião, entre outras.
O género Lobularia está representado apenas por quatro espécies, todas elas nativas da região mediterrânica e da Macaronésia. Destas, apenas a Lobularia maritima subsp. maritima pode ser vista de forma espontânea no território nacional.
A flor-de-mel é uma planta perene, herbácea e rasteira. O seu caule é ligeiramente lenhoso, ramificado desde a base, e pode crescer em média 20 cm de altura.
As folhas são simples, lineares e estreitas, com cerca de 5 cm de comprimento. As folhas mais velhas possuem uma forma lanceolada a espatulada, são esverdeadas e pouco peludas. Já as folhas mais jovens e mais estreitas estão cobertas por uma densa camada de pequenos pêlos esbranquiçados, o que lhe confere uma cor verde-prateado.
As folhas dispõem-se de forma alternada ao longo dos caules e são geralmente providas de um pecíolo longo e estreito.
As flores são pequenas, hermafroditas, e formam-se no ápice dos ramos florais, reunidas em inflorescências frondosas e densas, com numerosas flores, que tapam completamente as folhas. Cada flor possui quatro pétalas arredondadas, tipicamente brancas, mas ocasionalmente também podem assumir tons de branco-amarelado, rosa ou lavanda. As flores são levemente perfumadas, libertando um agradável aroma a mel, daí o seu nome comum.
A flor-de-mel é também conhecida como escudinha, açafate-de-prata, açafate-de-praia, doce-álisso, alisso, aliso-doce ou tomelos. Já os ingleses dão-lhe um nome popular muito interessante e sugestivo “carpet of snow” que de forma direta significa “tapete de neve”, muito devido às suas flores brancas.
Esta planta floresce durante todo o ano, mesmo em locais com temperaturas relativamente baixas, sendo a floração mais intensa nos meses de janeiro a março.
Os frutos são pequenas síliquas esféricas, geralmente de cor amarelada ou avermelhada que contém, no seu interior, duas sementes achatadas, de cor castanho-avermelhado.
As hastes florais, mesmo após a libertação das sementes, permanecem na planta por muito tempo.
Espécie que cresce perto do mar
A flor-de-mel é uma planta nativa da região do Mediterrâneo, mas encontra-se naturalizada noutras regiões e continentes.
A origem científica do nome desta espécie deve-se em particular ao seu habitat natural. O nome do género Lobularia deriva do nome em latim globulus, diminutivo globus (globo, esfera), que significa “globo pequeno”, devido à forma arredondada das inflorescências, que caracterizam este género botânico. Já o restritivo específico maritima deriva de mare = “marítima, marinho, que cresce perto do mar”, referindo-se ao seu habitat natural tipicamente costeiro.
Em Portugal, cresce ao longo de toda a costa, ainda que seja rara no noroeste. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, também é possível encontrar esta espécie, apesar de que aí tenha sido introduzida pelo homem, não sendo portanto uma espécie nativa dessas regiões.
Esta planta é comum em dunas e arribas do litoral, clareiras de pinhais, zimbrais e matagais em solo arenoso, e em taludes e fendas de rochas calcárias, geralmente muito pouco afastadas da costa.
A flor-de-mel prefere o clima ameno e exposições solares plenas, para ter um bom desenvolvimento e florações mais abundantes, ainda que seja tolerante a locais com sombra parcial.
A nível edáfico, prefere terrenos calcários ou rochosos, com boa drenagem e preferencialmente ricos em matéria orgânica.
A flor-de-mel resiste bem ao calor e à seca e também é tolerante ao frio e às geadas.
Flores de jardim
A floração contínua e prolongada e o perfume doce das suas flores tornam esta planta muito interessante para fins ornamentais.
É uma planta espetacular em maciços e bordaduras no jardim, combinado com outras plantas floridas ou isolada. Também pode ser plantada em floreiras, jardins verticais e até em vasos suspensos, para que fique um pouco pendente.
É perfeita para cobertura do solo, uma vez que se expande rapidamente devido à facilidade de germinação das sementes, formando revestimentos floridos e perfumados extensos, ideal em jardins rochosos, escarpados e em jardins de pedra.
A diversidade de variedades e cultivares proporcionam ainda flores com cores muito mais atraentes, que vão do rosa ao roxo, salmão, amarelo e vermelho e folhagens variegadas.
Outras variedades desenvolveram plantas mais resistentes e robustas, com flores mais perfumadas e extra grandes. Em alguns casos, as plantas podem chegar aos 30 a 40 cm de altura e ter uma floração mais precoce. As diversas variedades e cultivares também têm mais aptidão a outras condições de clima e de solo, podendo adaptar-se mais facilmente em habitats mais continentais.
Tanto as plantas espontâneas, como as variedades obtidas dos cruzamentos de flor-de-mel, são muito procuradas por inúmeros insectos, os principais responsáveis pela polinização desta planta. As pequenas flores atraem abelhas e borboletas, que se deliciam com os seus minúsculos nectários. As formigas e algumas aves também contribuem para a polinização.
Alguns estudos indicam que a flor-de-mel é uma planta benéfica para a agricultura e um importante agente de controlo biológico, pois pode contribuir para atrair inúmeros inimigos naturais, incluindo parasitoides, sirfídeos e percevejos predadores, evitando que estes afetem as culturas agrícolas.
A dispersão das sementes desta planta ocorre por anemocoria, ou seja pela ação do vento.
Do jardim ao prato
Além de ornamental, a flor-de-mel é conhecida por alguns usos medicinais tradicionais. Em Portugal, são escassas as referências relativamente à fitoterapia, embora seja apontada como tendo sido utilizada no tratamento do escorbuto, doenças venéreas, e do trato urinário.
Alguns registos apontam ainda para a sua utilização por facilitar a digestão, por ajudar a emagrecer, por atuar na redução da febre e na eliminação dos cálculos renais.
Em Espanha, por exemplo, é comummente usada como diurética, antiescorbútica e adstringente, no tratamento da gonorreia.
A flor-de-mel também é utilizada na cozinha em diversos tipos de pratos, doces ou salgados, pelo aroma intenso a mel e um sabor que se assemelha à couve. As folhas e os rebentos jovens podem ser comidos crus, misturados em saladas ou cozinhadas em sopas. As flores também são comestíveis e possuem um sabor picante, o que permite a sua utilização como condimento em saladas ou em pratos particulares ou, simplesmente, para decoração.
Pequenina, delicada e perfumada, a flor-de-mel é uma “valiosa” espécie para qualquer jardim. Se gosta de borboletas e as quer ter no seu jardim, aposte nesta espécie de floração prolongada e de fácil capacidade de reprodução e propagação.
Dicionário informal do mundo vegetal:
Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos.
Lanceolada – folha com forma de lança.
Espatulada – folha em forma de espátula, isto é, ápice mais largo e arredondado e parte inferior mais atenuada.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.
Síliqua – fruto seco, longo, estreito e deiscente, constituído por um falso-septo, no qual se inserem as sementes.
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.
Falso-septo – divisória interna do ovário que não resulta da fusão das paredes dos carpelos.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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