Divirta-se na exposição dedicada a mais de 50 anos de selos de natureza em Aveiro

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Selos que retratam mais de 700 espécies, algumas delas já extintas, criados ao longo de 55 anos estão expostos até 30 de Junho na Universidade de Aveiro, numa iniciativa do ilustrador científico e biólogo Fernando Correia.

É uma súmula de pequenos retratos da natureza que têm viajado por todo o mundo nos últimos 55 anos, os selos de natureza. São um alerta para as maravilhas do mundo natural e para o tanto que temos a perder com a sua extinção. 

A exposição “Selos Postais – 55 anos de alertas contra a extinção e a perda da biodiversidade” está à sua espera na Sala Hélène de Beauvoir, na Biblioteca da Universidade de Aveiro até 30 de Junho.

Foto: Fernando Correia

São mais de 700 espécies de Portugal e do planeta. 

Além dos selos postais, distribuídos por vários painéis estão também blocos filatélicos, etiquetas autoadesivas, carimbos comemorativos, envelopes de 1º dia e pagelas anunciadoras, criados para os CTT e para a Organização das Nações Unidas (ONU). Há ainda um painel infográfico com cerca de 12 metros, onde o visitante pode viajar no tempo e identificar todas as espécies já representadas em selos postais portugueses. 

“No painel principal, com quase 12 metros de comprimento, muitas das espécies foram assinaladas e o visitante pode encontrar espécies que, por exemplo, quando foram retratadas em selo ainda existiam e hoje são já dadas como extintas, factos balizados entre apenas algumas dezenas de anos…”, explicou à Wilder Fernando Correia, docente do Departamento de Biologia (DBio) da Universidade de Aveiro (UA) e diretor do Laboratório de Ilustração Científica, que idealizou, criou e produziu a exposição.

Mas há mais. Nesta exposição, podemos entrar nos bastidores da ilustração e entender as várias etapas de criação de um selo postal, desde a ideia até à arte final.

Segundo Fernando Correia, a mostra quer que “os visitantes saiam com uma nova perceção sobre o nosso rico e diversificado património natural” e o “papel que a biodiversidade desempenha na manutenção do delicado equilíbrio da Vida que habita este planeta, bem como do bem-estar humano”. E que fiquem a pensar nesta questão: “será que estamos a criar as suficientes iniciativas e a dar passos necessários para efetivamente contribuirmos para mantermos a atual biodiversidade e, de caminho, garantirmos uma vida sustentável no planeta para nós e gerações vindouras?”

Foto: D.R.

Além disso, quer chamar a atenção para a importância dos selos postais para promover e divulgar natureza. Estes “podem contribuem para mudar percepções, principalmente porque fazem parte de uma ‘campanha’ continuada que já tem mais de cinco décadas operando no campo da sensibilização”.

A exposição está organizada em dois blocos. O primeiro é dedicado aos selos portugueses. Aqui podemos ver como se faz um selo, onde Fernando Correia mostra exemplos de planeamento e execução das ilustrações que criou e todas as espécies que já foram retratadas em selos postais e etiquetas autoadesivas emitidas em Portugal. São cerca de 600 emitidas durante os últimos 55 anos pelos CTT Correios de Portugal (1968-2023).

O primeiro selo postal editado em Portugal representando uma espécie selvagem, lançado em 1968, representa a múchia-dourada ou tangerão-bravo (Musschia aurea), espécie herbácea de um género que compreende só três espécies e que, em todo o mundo, apenas se pode encontrar no arquipélago da Madeira.

O segundo bloco é dedicado à série Endangered Species emitida pela ONU, com 360 selos, 16 dos quais são da sua autoria. “Estas emissões filatélicas têm como objetivo maior a divulgação da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES)”, explicou Fernando Correia.

Foto: Fernando Correia

“Nesta exposição, a ocupação da parede é feita tal e qual como se ela mesma fosse uma tela, o que acaba por criar uma unidade de comunicação que literalmente invade, submerge e domina o olhar do visitante, segundo uma abordagem infográfica. De facto, dimensões generosas permitem a imersividade e o observador deixa-se arrebatar pelo pormenor curioso, exaltado através da representação atenta, cuidada, rigorosa e cientificamente honesta, daquele animal ou planta, por meio da ilustração científica ou naturalista que cada selo de exibe.”

Como nascem os selos de natureza

Pelas mãos de Fernando Correia, ilustrador há 35 anos, já passaram dezenas de selos que representam espécies portuguesas, como o lince-ibérico (Lynx pardinus), e outras que não existem no nosso país, como o lémur-mangusto (Eulemur mongoz) e muitos outros.

O ilustrador começa pelas possíveis abordagens ao  tema: o que fazer, onde e como? Depois, recolhe informação e estuda, para “eliminar o supérfluo e irrelevante”. A seguir faz vários esboços, geralmente a lápis ou directamente num canvas digital. “São momentos despreocupados, de materialização de ideias a que chamo as minhas hipóteses gráficas”, explicou. “Só depois avanço para a cor, em técnica digital e utilizando uma aplicação em que já trabalho desde a versão 2.0, na década de 90 do século XX – o Photoshop (atualmente na versão 24.1). Cada uma destas ilustrações em arte-final constituem a súmula da minha discussão e conclusões e, tal como é useiro em ciência e apesar de ser biólogo de formação, procuro sempre a validação final externa, por especialistas conceituados na área.”

A obra final implica o equilíbrio “entre correção, rigor e objetividade científica e a estética necessária para criar um produto com leituras multinível: que informe e, simultaneamente, fascine e crie empatia”.

Foto: Fernando Correia

“A última série de selos que acabei de ilustrar e que será lançada em meados deste Julho, foi disso apanágio. Concluída em tempo recorde, a ilustração de quatro espécies endémicas insulares, verdadeiramente particulares e que apenas subsistem num muito reduzido número de exemplares, representou uma responsabilidade bastante acrescida e pesada pois é preciso chamar a atenção para essa realidade gritante de quase extinção.”

Fernando Correia acredita que estas peças postais “poderão ser positivamente contributivas, mesmo que de forma algo residual, para o reforçar do apelo e da necessidade de mais cuidar, preservar e conservar aquilo que pode desaparecer para sempre, que é insubstituível e que mesmo que, nem sempre seja reconhecida como tal, nos é tão cara e absolutamente necessária – a Biodiversidade”.


Conheça melhor Fernando Correia numa pequena entrevista que pode ler aqui.

Recorde algumas séries que os CTT dedicaram à natureza, como a dos Peixes do Mediterrâneo, a das Lebres-do-mar, a dos Carnívoros e a das Árvores do Mediterrâneo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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