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Aves do mês: o que ver em Setembro

02.09.2024

Cinco aves a não perder em Setembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Setembro é um mês muito importante para as aves migratórias. Muitas espécies deixaram os seus territórios de reprodução e dirigem-se para as zonas de invernada. Em Portugal, este é um período em que é possível encontrar uma boa diversidade de espécies: por um lado, aparecem cá muitas aves que estão de passagem para África; há outras que chegam para cá passarem a estação fria; há as estivais que estão de partida; e, claro, temos também as espécies residentes, que estão por cá todo o ano. Este é, sem dúvida, um dos meses mais interessantes para observar aves.

Pilrito-das-praias (Calidris alba)

    Foto: José Frade

    O que está a fazer em Setembro: Se visitar uma das nossas praias durante o mês de Setembro, por altura da baixa-mar, é possível que veja umas pequenas aves de tons claros a correr para trás e para diante junto à linha de água: são os pilritos-das-praias. Oriundos do Árctico, muitos estão agora de passagem para África, enquanto outros ficarão por cá ao longo do Inverno.

    O pilrito-das-praias tem um tamanho semelhante ao pilrito-comum, distinguindo-se deste pela plumagem predominantemente branca e cinzento-clara. O bico é preto, sendo mais curto e direito que o do pilrito-comum. As patas também são pretas. Nos juvenis, é visível uma mancha preta na álula. Em plumagem nupcial, adquire uma tonalidade alaranjada.

    É uma ave típica de praias abertas e amplas (onde geralmente se move junto à rebentação), por vezes frequentando também lajes de rocha nas imediações da areia. Ocorre ainda em sectores arenosos de estuários e, com menor frequência, em áreas de vasa arenosa, salinas e lagoas costeiras.

    Uma das curiosidades acerca desta espécie está no facto de, ao contrário das restantes limícolas, ter apenas três dedos, faltando-lhe o dedo posterior (hálux). Pensa-se que esta ausência do quarto dedo poderá ser uma questão evolutiva – dado que esta ave corre muito para se alimentar, o quarto dedo poderia prejudicar o desempenho da corrida e, por isso, ao longo do tempo terá desaparecido.

    Onde ver: costa do Estoril, foz do Douro, praias do Algarve.

    Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata)

      Foto: José Frade

      O que está a fazer em Setembro: No final do Verão, o país enche-se de papa-moscas-cinzentos em passagem, sendo relativamente fácil encontrar uma ave desta espécie, geralmente pousada num ramo de árvore, num poste ou numa vedação, enquanto aguarda pela passagem de um insecto voador, que tentará capturar.

      Este papa-moscas tem a plumagem castanha, o bico fino e estrias finas na coroa e no peito. A curta distância, é possível ver que as terciárias são orladas por uma estreita linha branca, menos marcada que a do papa-moscas-preto. À semelhança deste, pousa em lugares expostos, de onde detecta insectos que captura em voo.

      Pode ser observado em qualquer sítio arborizado, desde pomares e jardins até grandes parques urbanos e florestas de todo o tipo; ocorre igualmente em áreas sem árvores, como por exemplo em sebes nas lezírias, ou em zonas cobertas por matos, quer junto à costa, quer em montanha.

      Embora seja conhecido sobretudo como ave de passagem, o papa-moscas-cinzento também nidifica em Portugal. A principal zona de ocorrência como nidificante situa-se na metade sul do Ribatejo e nos montados mais densos do Alentejo. Contudo, como a espécie ocorre em densidades baixas e tem um comportamento discreto, nessa época pode passar facilmente despercebida.

      Onde ver: em Setembro pode ser visto por todo o país, em qualquer local arborizado.

      Cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra)

        Foto: José Frade

        O que está a fazer em Setembro: Tal como acontece com outras espécies migradoras, o cartaxo-nortenho aparece em Portugal sobretudo durante a passagem outonal. Tem um comportamento semelhante ao do cartaxo-comum, sendo habitual vermos esta ave empoleirada, de forma bem visível, num pequeno arbusto ou numa vedação de arame.

        Bastante parecido com o cartaxo-comum, com o qual pode facilmente ser confundido, o cartaxo-nortenho identifica-se sobretudo pela lista supraciliar branca, que está presente em todas as plumagens, sendo mais marcada no macho, e também pela base branca das rectrizes exteriores (não no uropígio), sendo esta característica mais visível em voo.

        Surge sobretudo em pastagens secas, terrenos incultos, restolhos e outros locais abertos, com vedações ou pequenos arbustos que sirvam de poisos. Também pode ser visto, com alguma frequência, na orla de zonas húmidas ou de bosques, em montados abertos, em vinhas e em matos de altitude.

        Até há poucos anos era conhecida uma pequena população reprodutora nas terras altas do norte do país, em especial na serra do Gerês. Todavia, em anos recentes não tem havido observações regulares na época dos ninhos, pelo que é possível que esta população nidificante tenha desaparecido.

        Onde ver: Lezíria de Vila Franca de Xira, cabo Espichel, Sagres

        Colhereiro (Platalea leucorodia)

          Foto: José Frade

          O que está a fazer em Setembro: Bandos de colhereiros chegam este mês ao nosso país, vindos de outros países mais a norte, juntando-se assim às aves que nidificam em Portugal e que por cá ficam durante todo o ano; algumas destas aves vindas do norte migram pelo interior da península, parando para se alimentar em albufeiras na Beira Baixa ou no Alentejo.

          O colhereiro é uma grande ave pernalta, com a plumagem branca e um longo bico em forma de espátula, que usa para varrer as lamas em busca de alimento. As patas são escuras e, na época de reprodução, exibe um penacho na nuca e uma mancha amarelada no peito. Voa com o pescoço esticado.

          Pode ver-se em estuários, salinas, aquaculturas, pauis, lagoas costeiras, arrozais e açudes. Está presente durante todo o ano, mas é a partir do final do Verão que a espécie se torna mais numerosa, pois começam a chegar ao nosso país muitas aves vindas de outros países europeus, observando-se então bandos com muitas dezenas de aves.

          Existem algumas colónias em Portugal, tanto em zonas costeiras como mais no interior e a população portuguesa poderá contar com 100 casais ou mais. No entanto, a presença da espécie como reprodutora no nosso país é relativamente recente, tendo sido registada pela primeira vez no final da década de 1980.

          Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Tejo, lagoa dos Salgados (Silves).

          Mainá-de-crista (Acridotheres cristatellus)

            Foto: José Frade

            O que está a fazer em Setembro: Embora a época de nidificação desta espécie não tenha sido estudada em detalhe em Portugal, pensa-se que aconteça na Primavera. Assim, em Setembro a maioria das aves já terá terminado a reprodução. Contudo, não consta que estes mainás façam movimentos importantes, pelo que devem permanecer nas mesmas áreas durante todo o ano.

            De tamanho médio e com a plumagem preta e o bico amarelado, o mainá-de-crista pode confundir-se com um melro-preto. Distingue-se desta espécie pelo tufo de plumas que ostenta sobre a base do bico, pelas patas amarelas e pelas manchas brancas nas asas (estas visíveis sobretudo em voo).

            Pode ver-se em habitats variados, que incluem áreas de sapal, pomares, cultivos, sebes e até áreas urbanizadas. Na zona da Costa da Caparica nidifica na Arriba Fóssil. Ocorre também na Costa do Estoril, onde frequenta edifícios, terrenos incultos e até áreas urbanizadas.

            Esta espécie foi introduzida na região de Lisboa, tendo os primeiros registos em liberdade sido efectuados na zona do Seixal no final dos anos 1990. De então para cá, a população tem vindo a aumentar e a espalhar-se e a área de distribuição actual estende-se de Sintra até Setúbal, passando por Lisboa, Almada, Barreiro e Alcochete, entre outros locais. Desde 2019 está classificada como espécie invasora.

            Onde ver: Belém (Lisboa), Costa da Caparica (Almada), São Julião da Barra (Cascais).


            Agora é a sua vez.

            Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!

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