Foto: José Frade

Aves do mês: o que ver em Dezembro

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Cinco aves a não perder em Dezembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Dezembro é um mês de excelência para observar aves invernantes, isto é, as espécies que vêm cá passar o Inverno, e entre as quais encontramos um vasto elenco de espécies terrestres e aquáticas. Para além destas, também podemos ver várias espécies residentes, incluindo aves florestais, que são agora um pouco mais fáceis de observar, dado que muitas árvores estão sem folhas.

Rola-do-mar (Arenaria interpres)

Foto: José Frade

O que está a fazer em Dezembro: Os locais de eleição da rola-do-mar no período de Inverno são as praias rochosas, os quebra-mares e até alguns portos de pesca. Por ser uma ave bastante confiante, permite frequentemente grandes aproximações, proporcionando excelentes oportunidades fotográficas.

Trata-se de uma limícola relativamente pequena, embora um pouco maior que um pilrito. É globalmente escura nas partes superiores e com colar escuro no peito, sendo branca no ventre. As patas são cor de laranja. Na plumagem de Verão adquire tons mais alaranjados por cima, e na cabeça fica com um padrão preto e branco. Exibe um padrão bem marcado em voo.

Frequenta tanto as zonas estuarinas e lagunares costeiras como o litoral marinho aberto, directamente exposto ao oceano. Nas “rias” e nos estuários de Portugal surge geralmente associada a zonas mais arenosas ou com ostreiras. Na frente de mar é mais comum nas zonas rochosas, onde existam lajes e rochedos expostos pela maré baixa.

As rolas-do-mar nidificam em regiões árcticas e as que aparecem em Portugal deverão ser oriundas da Rússia, da Fino-Escandinávia, da Gronelândia; contudo, graças à anilhagem, sabe-se que também ocorrem por cá indivíduos oriundos do árctico canadiano, ou seja, há algumas aves que fazem uma migração transatlântica.

Onde ver: foz do Douro, costa do Estoril, porto de Sagres.

Alfaiate (Recurvirostra avosetta)

Foto: José Frade

O que está a fazer em Dezembro: Grandes bandos de alfaiates ocorrem nesta época nos grandes estuários, particularmente no do Tejo e no do Sado. Estas aves alimentam-se nos lodos estuarinos durante a maré baixa, refugiando-se depois em salinas quando esta sobe.

Esta grande limícola de plumagem preta e branca é fácil de identificar à distância, seja pousada ou em voo. Apresenta um longo bico preto, fortemente recurvado para cima, que usa para varrer os lodos. As patas são azuladas.

É uma espécie típica dos grandes estuários e sistemas lagunares costeiros, sendo muito rara noutros habitats. Os alfaiates são especialmente numerosos nos estuários do Tejo e do Sado – nestes dois estuários, eles preferem áreas vasosas das zonas entre-marés, com sedimentos moles. Também se alimentam com alguma frequência em salinas, principalmente no Algarve.

No final da década de 1970, Portugal era o principal destino de invernada dos alfaiates europeus, em especial o estuário do Tejo onde, segundo estimativas da época, se concentrava 75% da população. Hoje a situação é um pouco diferente, havendo uma parte importante da população que passa o Inverno em países mais a norte, contudo os estuários do Tejo e do Sado continuam a ser muito importantes para a espécie.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, salinas de Olhão.

Pica-pau-malhado (Dendrocopos major)

Foto: José Frade

O que está a fazer em Dezembro: Sendo uma ave residente, o pica-pau-malhado pode ser visto durante todo o ano nos nossos bosques. No Inverno, muitas árvores estão sem folhas, o que facilita um pouco a observação desta ave, quando pousa no tronco de uma árvore, à procura dos insectos xilófagos, que lhe servem de alimento.

De tamanho médio, o pica-pau-malhado identifica-se pela plumagem preta e branca, onde se destacam duas grandes ovais brancas nas partes superiores. O ventre é de um tom vermelho intenso. Os adultos apresentam a coroa preta, mas o macho tem uma pequena mancha vermelha na nuca. O juvenil tem a coroa vermelha. O voo é ondulante, tal como o dos restantes pica-paus.

Frequenta zonas florestais de todos os tipos, sendo mais comum em montados de sobro ou azinho, pinhais adultos, carvalhais e certas matas ripícolas; prefere zonas densamente arborizadas, embora por vezes ocorra em áreas mais abertas, nomeadamente zonas de matos com árvores dispersas e pinhais queimados.

Tal como outras espécies de pica-paus, usa o seu potente bico para picar na madeira, seja para abrir buracos, seja para tamborilar, o que constitui uma forma de comunicação e marcação de território.

Onde ver: bosques variados de norte a sul do país.

Laverca (Alauda arvensis)

Foto: José Frade

O que está a fazer em Dezembro: No Outono e no Inverno, a laverca é uma espécie gregária e por isso nesta época podemos encontrar bandos, os quais podem congregar muitas dezenas de indivíduos. Quando pousam por entre as ervas, estas cotovias nem sempre são fáceis de ver, mas quando levantam voo identificam-se facilmente através do seu chamamento enrolado. 

A laverca é uma grande cotovia de plumagem castanha e padrão riscado. Tem uma pequena poupa, que nem sempre é visível, e, em voo, exibe a orla posterior clara nas asas. O canto dos machos, ouvido na Primavera, pode ser emitido continuamente durante longos períodos em voo.

Na Primavera e no Verão ocorre sobretudo em zonas de altitude, acima dos 800 metros, mas também está presente na lezíria do Tejo e, localmente, na costa vicentina. No Outono e no Inverno pode ser observada praticamente em todo o país, tornando-se então comum nos terrenos agrícolas situados a cotas mais baixas; nesta época, torna-se especialmente numerosa nas planícies alentejanas.

As populações de lavercas têm diminuído por toda a Europa, o mesmo sucedendo com muitas outras espécies que nidificam em habitats agrícolas. Esta diminuição parece ser uma consequência da intensificação da agricultura, que tem afectado de forma adversa as aves que frequentam estes meios.

Onde ver: lezíria grande de Vila Franca de Xira, planícies de Castro Verde, cabo de São Vicente.

Estorninho-malhado (Sturnus vulgaris)

Foto: José Frade

O que está a fazer em Dezembro: Sendo esta uma espécie muito gregária fora da época dos ninhos, é habitual, nesta altura do ano, encontrar grandes bandos de estorninhos-malhados, seja em alimentação, seja pousados nos cabos aéreos, seja até formando grandes bandos que se preparam para passar a noite, geralmente em parques com árvores frondosas.

Tem o mesmo tamanho do estorninho-preto, ao qual se associa com frequência. Distingue-se, porém, desta espécie pelas inúmeras pintas brancas grandes que apresenta na plumagem. Sob boas condições de luminosidade, são visíveis reflexos esverdeados e púrpura na plumagem. Note-se que o estorninho-preto também pode apresentar pequenas pintas brancas no início do Outono, mas estas são muito mais pequenas e além disso essa espécie não tem os reflexos esverdeados.

Os locais onde mais vezes é observado compreendem terrenos agrícolas, incultos, montados abertos e pastagens, por vezes associada ao gado ou a bandos de abibes. No Outono, frequenta também olivais, onde se alimenta de azeitonas.

Este estorninho também ocorre nos Açores, estando presente em todas as ilhas do arquipélago. As populações açorianas são residentes e pertencem a uma subespécie distinta, S. v. granti – este nome subespecífico homenageia William Robert Ogilvie-Grant, ornitólogo escocês que fez pesquisas na região da Madeira e nas ilhas Canárias.

Onde ver: jardins do Porto, jardins de Lisboa, todas as ilhas dos Açores.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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