Cinco aves a não perder em Agosto, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.
No mês de Agosto, muitas aves estão a preparar-se para a migração outonal e algumas até já a iniciaram, outras fazem movimentos dispersivos e outras ainda, sobretudo aquáticas, juntam-se em grandes bandos para efectuarem a muda da plumagem. Este é um mês em que podemos esperar encontrar uma boa diversidade de espécies.
Gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii)
O que está a fazer em Agosto: Este é, sem dúvida, o melhor mês para encontrar a gaivota-de-audouin, que aparece em grandes números no litoral algarvio e, em menor quantidade, no resto do litoral português. Muitas destas aves estão em dispersão pós-reprodutora, enquanto outras se encontram de passagem para África.
De tamanho médio, esta gaivota é identificada pela combinação do dorso cinza muito claro, do bico vermelho e das patas cinzentas. Em voo, nota-se a ponta das asas preta. Os juvenis são castanhos, distinguindo-se das restantes espécies pela mancha branca do uropígio em forma de «U».
A espécie pode ver-se tanto na costa rochosa como em zonas de areal, salinas, estuários e lagoas costeiras, normalmente em áreas com forte influência marinha. Ao contrário do que sucede com outras espécies de gaivotas, em geral não se alimenta em zonas húmidas mas sim no mar, a alguma distância da costa.
Na década de 1960, a gaivota-de-audouin era considerada a gaivota mais rara da Europa e uma das mais raras do mundo, com uma população total de cerca de 1000 casais. De então para cá, a população aumentou consideravelmente e, embora a espécie continue a ser pouco abundante, a sua situação global é menos preocupante. Uma das colónias mais importantes do mundo situa-se actualmente no Algarve.
Onde ver: Salinas de Tavira, salinas de Olhão, lagoa dos Salgados (Silves).
Garajau-comum (Thalasseus sandvicensis)
O que está a fazer em Agosto: Este mês é particularmente propício para encontrar grandes bandos deste garajau. De facto, embora a espécie seja muitas vezes classificada como invernante, ela é mais numerosa durante as passagens migratórias, havendo vários milhares de indivíduos que passam pelo nosso território mas que não ficam por cá e vão invernar nas costas africanas.
O garajau-comum identifica-se pela plumagem essencialmente branca e cinzento-clara, contrastando com o barrete preto, e pelo bico preto, comprido e pontiagudo, com a ponta amarela. O seu voo é rápido e frequentemente mergulha para capturar presas.
Aparece sobretudo no mar, ao longo da orla costeira, entrando também em estuários e zonas lagunares. Para repousar, dá preferência a praias arenosas ou salinas, ocasionalmente descansando também em sapais ou praias rochosas.
Nos últimos anos, especialmente em 2022 e 2023, registou-se um enorme surto de gripe aviária na Europa que afectou inúmeras aves selvagens, com especial incidência nas colónias de aves marinhas. Várias colónias de garajaus-comuns foram fortemente atingidas, tendo morrido centenas ou milhares de indivíduos.
Onde ver: Ria de Aveiro, praias da costa do Estoril (Cascais), ria de Alvor.
Toutinegra-de-cabeça-preta (Curruca melanocephala)
O que está a fazer em Agosto: Esta toutinegra permanece durante todo o ano nos locais de reprodução. Contudo, durante o Verão o seu canto não se faz ouvir e a maioria dos contactos com esta espécie dá-se por meio da sua vocalização, “trac-trac-trac-trac”.
O macho é fácil de identificar pela cabeça preta, com anel orbital vermelho, pelo corpo cinzento e pela garganta branca. A fêmea e o juvenil têm a plumagem mais acastanhada, mas a fêmea adulta apresenta a cabeça cinzenta. A cauda é relativamente longa, notando-se as rectrizes exteriores mais claras. O chamamento é um matraqueado característico.
Encontra-se em áreas com vegetação densa e bem desenvolvida, como sejam matagais, sebes, matas ripícolas, sapais e também em bosques com estrato arbustivo. Pode ver-se de norte a sul do país, mas é menos frequente nas terras altas.
Embora esta espécie seja referida como sendo essencialmente residente e sedentária, sabe-se que alguns indivíduos podem efectuar longas migrações, pois existem observações invernais na África subsariana, nomeadamente no Senegal. Estes registos mostram que ainda há muito para descobrir acerca das migrações das aves.
Onde ver: Por todo o país, em zonas de matagal.
Andorinhão-real (Tachymarptis melba)
O que está a fazer em Agosto: Ao longo deste mês, podemos assistir a uma forte dispersão destes andorinhões, sendo frequentes os avistamentos em locais onde a espécie não nidifica; assim, se vir um bando de andorinhões em Agosto, não deixe de olhar para cima e de escrutinar o bando com atenção, à procura de barrigas brancas, que são a “imagem de marca” do andorinhão-real.
Esta é a maior espécie de andorinhão, com uma estrutura semelhante à dos outros membros da família, distinguindo-se, sobretudo, pelo ventre branco, que é facilmente visível ao longe. Mistura-se frequentemente com outras espécies de andorinhões, formando bandos mistos em alimentação.
Durante a época de nidificação, os andorinhões-reais surgem geralmente ligados a zonas escarpadas, seja em falésias costeiras, seja em vales profundos e alcantilados no Interior. No entanto, estas aves deslocam-se diariamente a distâncias consideráveis do ninho para se alimentarem, podendo então aparecer noutro tipo de ambientes.
Nos últimos anos têm sido registados vários casos de nidificação em construções, nomeadamente em pontes ou viadutos, tanto no vale do Douro como na região de Lisboa. Estas situações mostram que o andorinhão-real, tal como os outros andorinhões, tem vindo a conseguir adaptar-se às alterações introduzidas pelo ser humano, tirando partido destas para se reproduzir.
Onde ver: Miranda do Douro, Nazaré, Sagres.
Viúva-bico-de-lacre (Vidua macroura)
O que está a fazer em Agosto: A época de reprodução está em curso e os machos podem agora ser detectados facilmente, graças à sua plumagem exuberante. Os voos nupciais dão muito nas vistas. A viúva-bico-de-lacre parasita os ninhos dos bicos-de-lacre e por isso é provável que apareça em locais frequentados por esta espécie.
O macho nupcial desta espécie africana é muito vistoso, graças à longuíssima cauda, que lhe dá um comprimento total de 33 centímetros. Tem as partes superiores pretas, o ventre branco e o bico vermelho. A fêmea e o macho invernal são acastanhados, com uma lista supraciliar clara e com o bico vermelho (no caso da fêmea, este pode ficar preto na época dos ninhos).
A época de reprodução é bastante tardia e dá-se geralmente nos meses de Verão, podendo prolongar-se pelo Outono. Assim, é possível encontrar machos nupciais desde Junho até Novembro. Fora desse período, a espécie tem um comportamento discreto, sendo muito escassos os registos invernais.
Esta espécie, de origem africana, foi detectada inicialmente na região de Mira, no ano 2000. Nos anos que se seguiram registou-se uma expansão acentuada e, actualmente, a viúva ocorre desde o Minho até ao baixo Tejo. Não tem ainda o estatuto de invasora, contudo é possível que isso venha a suceder num futuro próximo, atendendo à rapidez com que se expandiu.
Onde ver: Mira, ria de Aveiro, arrozais de Benavente.
Agora é a sua vez.
Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!