Aves do mês: O que ver em Julho

01.07.2024

Cinco aves a não perder em Julho, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Com a chegada do Verão, a maioria das aves terminou a sua época de reprodução e, devido ao calor, é agora mais difícil encontrar aves selvagens. Assim, recomenda-se que a observação seja feita às primeiras horas da manhã, quando ainda está fresco. Os melhores locais para ver aves em Julho situam-se perto de água ou em zonas de altitude. Aqui ficam cinco sugestões de espécies que poderá procurar este mês.

Picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio):

Foto: José Frade

    O que está a fazer em Julho: Este picanço tem uma época de reprodução bastante tardia. No início do mês de Julho há crias nos ninhos mas na segunda quinzena já se observam juvenis voadores. Este é, pois, um dos melhores meses para procurar esta espécie.

    O macho adulto tem a cabeça cinzenta, a máscara preta e o dorso ruivo. A fêmea é parecida, mas com tons menos intensos e o peito levemente barrado. O juvenil pode ser confundido com o de um picanço-barreteiro, distinguindo-se pelos tons mais avermelhados e pela ausência de orlas brancas nas coberturas das asas e nas primárias.

    O picanço-de-dorso-ruivo nidifica apenas nas terras altas do norte do país. Os principais locais de ocorrência situam-se na serra da Peneda e no leste da serra do Gerês, sendo esta a zona onde é mais numeroso. Aparece também, em menor número, na serra de Montesinho e, localmente, na região de Vila Real e na serra de Montemuro.

    Esta é uma ave migradora que chega bastante tarde, sendo raras as observações antes de meados de Maio. A sua migração é um loop, efectuando-se primeiro para leste e virando depois para sul na zona do Mediterrâneo Oriental. Devido a esta trajectória singular, a espécie não é habitualmente vista em Portugal fora dos seus locais de reprodução.

    Onde ver: Pitões das Júnias (Montalegre), Castro Laboreiro (Melgaço), Serra de Montesinho (Bragança).

    Borrelho-pequeno-de-coleira (Charadrius dubius):

      Foto: José Frade

      O que está a fazer em Julho: Não se sabe muito bem quando termina a época de reprodução deste borrelho, mas em Julho já é possível observar pequenos bandos junto a massas de água doce, geralmente ao longo das margens; tratam-se provavelmente, de aves que se estão a preparar para a migração.

      É um pouco menor que o borrelho-grande-de-coleira, com o qual pode facilmente ser confundido. Distingue-se deste pelas patas amareladas ou rosadas, pela ausência de risca alar, pelo bico mais fino, pelo chamamento monossilábico e, no caso dos adultos nupciais, pelo anel ocular amarelo.

      Este borrelho gosta de margens de cursos de água de corrente lenta, lagoas, albufeiras e açudes. Nidifica em praias fluviais arenosas, barrentas ou com cascalho, fazendo o ninho directamente no solo. Fora da época dos ninhos, surge com maior frequência noutro tipo de locais, mas é bastante escasso na metade litoral.

      Muitos guias de campo indicam esta limícola como sendo de presença estival em Portugal. Contudo, sabe-se hoje que no sul do país a espécie pode ser vista ao longo de todo ano, sendo habitual encontrar pequenos bandos, em particular junto a pequenas albufeiras.

      Onde ver: ribeira do Divor (Coruche), ribeira de Odeleite (Alcoutim), albufeiras e açudes do Alentejo.

      Noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficollis):

        Foto: José Frade

        O que está a fazer em Julho: A época de reprodução deste noitibó estende-se pelo Verão e assim, em Julho, ainda é possível ouvir o seu canto característico – a melhor hora para escutar estas vocalizações é ao anoitecer ou então de madrugada, aos primeiros alvores, embora muitas aves também vocalizem a meio da noite.

        Sendo ligeiramente maior que o noitibó-europeu, distingue-se desta espécie pelos tons mais quentes e, em particular, pela mancha ruiva que apresenta no pescoço, bem como pelos tons mais acastanhados na garganta. O seu característico canto repetitivo «kawak‑kawak-…» é inconfundível.

        Este noitibó frequenta locais com algumas árvores, mas na proximidade de zonas mais abertas, bem como áreas de matos, vinhas e plantações jovens de pinheiros ou eucaliptos.

        Uma das melhores formas de encontrar noitibós consiste em percorrer estradas pouco transitadas, à noite, a baixa velocidade, pois estas aves gostam muito de pousar no asfalto, sendo os seus olhos visíveis à distância. Infelizmente, este hábito de pousar em estradas faz com que os noitibós sejam vítimas frequentes de atropelamentos.

        Onde ver: Pancas (Benavente), interior alentejano, litoral do Algarve.

        Tecelão-de-cabeça-preta (Ploceus melanocephalus):

          Foto: José Frade

          O que está a fazer em Julho: Este tecelão apresenta duas plumagens: a nupcial, mais garrida, é usada para a época de reprodução, que acontece nesta altura do ano; assim, durante este mês é possível encontrar machos com esta plumagem vistosa, o que torna mais fácil a sua identificação.

          Esta ave exótica, de origem africana, tem uma dimensão semelhante a um pardal-comum, podendo ser confundida com este, nomeadamente no caso das fêmeas e dos machos não-nupciais, mas apresenta tons mais amarelados. Já o macho nupcial é fácil de identificar pela combinação de cabeça preta, partes inferiores amarelas e dorso esverdeado.

          No nosso país, este tecelão aparece junto a zonas húmidas com vegetação emergente, nomeadamente pauis, caniçais, valas e lagoas costeiras. São conhecidos pelo menos, três núcleos de ocorrência: o mais importante situa-se na bacia do Tejo, desde a zona de Torres Novas até Alcochete; o segundo no paul de Tornada (Caldas da Rainha); e o terceiro no litoral do Algarve, em especial na parte central.

          O nome tecelão deriva do facto de esta ave, bem como outras do mesmo género, conseguirem “tecer” os seus ninhos com muita mestria, criando estruturas muito elaboradas. No caso desta espécie, o ninho é amarrado aos caniços, ficando suspenso sobre a água.

          Onde ver: Paul da Barroca (Alcochete), Lagoa dos Salgados (Silves), Quinta do Lago (Loulé).

          Goraz (Nycticorax nycticorax):

            Foto: José Frade

            O que está a fazer em Julho: Por esta altura os juvenis já nasceram e a maioria já deixou os ninhos. Isto significa que é possível encontrar adultos e juvenis voadores. No entanto, devido aos seus hábitos crepusculares, estas aves são muitas vezes vistas em repouso, geralmente pousadas em árvores.

            Também conhecida como garça-nocturna, esta espécie tem um tamanho médio e um pescoço curto, o que lhe dá um aspecto algo atarracado. Apresenta o barrete e o dorso pretos, as asas cinzentas e as partes inferiores brancas. As patas são amarelas. Os juvenis são riscados e acastanhados, podendo confundir-se com os juvenis do papa-ratos.

            O goraz encontra-se normalmente em zonas com vegetação ripícola, em cursos de água, pauis, açudes, barragens e em lagoas costeiras. As colónias são muitas vezes instaladas em ilhas ou em árvores semi-submersas. As aves deslocam-se para os locais de alimentação ao crepúsculo, pescando durante a noite, sendo por isso de difícil detecção.

            Alguns gorazes nidificam em liberdade no Jardim Zoológico de Lisboa desde, pelo menos, a década de 1980. Em 2000, esta colónia contava com mais de uma dezena de casais. As aves provenientes deste núcleo de nidificação são vistas, com regularidade, noutros locais da cidade, nomeadamente lagos de jardins públicos, em especial nos meses de Verão.

            Onde ver: Sete Rios (Lisboa), Escaroupim (Salvaterra de Magos), Paul do Boquilobo (Golegã).


            Agora é a sua vez.

            Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!

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