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Aves do mês: O que ver em Novembro

04.11.2024

Cinco aves a não perder em Novembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Novembro marca o final da passagem outonal e o início do período de invernada. Ao longo deste mês aparecem entre nós várias espécies, oriundas de latitudes mais setentrionais, que vêm cá passar a estação fria. A escolha dos locais por parte das aves irá, naturalmente, ter em conta as condições que oferecem – estas, por sua vez, dependem do estado do tempo e do alimento disponível em cada local.

Garça-branca-grande (Ardea alba):

    Fotos: José Frade

    O que está a fazer em Novembro: Nesta época do ano a garça-branca-grande pode ser vista com relativa facilidade, em especial nas terras baixas do litoral; os encontros mais frequentes com esta espécie dizem respeito a aves pousadas junto a massas de água pouco profundas, deslocando-se lentamente enquanto procuram alimento.

    Trata-se de uma garça de grande porte, com um longo pescoço, do mesmo tamanho que uma garça-real, distinguindo-se desta última pela plumagem totalmente branca. No Inverno, apresenta o bico amarelo e as patas pretas, mas, na época de reprodução, o bico escurece e as patas adquirem tons amarelados.

    Frequenta locais próximos de água, geralmente com pouca profundidade, como sejam arrozais, pauis, lagoas, valas de drenagem e estuários. Também pode aparecer junto a barragens e açudes.

    Até há pouco mais de 30 anos, a garça-branca-grande era muito rara em Portugal e o primeiro registo de que há notícia teve lugar em Novembro de 1988. Contudo, nos anos seguintes, a população europeia expandiu-se e esta espécie passou a ser vista regularmente no nosso país, sendo hoje bastante numerosa nalgumas zonas húmidas do litoral, em especial na estação fria.

    Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Mondego, lezíria grande de Vila Franca de Xira.

    Narceja-comum (Gallinago gallinago):

      Foto: José Frade

      O que está a fazer em Novembro: A narceja é uma ave discreta, que passa muito tempo imóvel no solo, tentando passar despercebida. Nesta altura do ano encontra-se em terrenos inundados, mas confunde-se facilmente com o meio envolvente. A maioria dos avistamentos dá-se quando as aves levantam voo, em fuga.

      A narceja é uma limícola de tamanho médio, com um bico longo e rectilíneo. A plumagem é dominada por tons acastanhados, nomeadamente na cabeça e nas partes superiores, ao passo que o ventre é branco. O seu voo é característico e consiste numa sucessão de ziguezagues.

      Aparece em todo o tipo de zonas húmidas de água doce, sendo comum em restolhos de arroz ou noutros terrenos agrícolas alagados, bem como em pastagens encharcadas. Também é frequente em ETAR, açudes e ribeiras ou rios de curso lento, desde que bordejados por margens lamacentas ou prados húmidos, pauis, juncais e áreas de erva curta e lama.

      Embora esta ave seja essencialmente invernante, é conhecida uma pequena população reprodutora nas terras altas do norte do país, em especial na serra do Gerês. Contudo, essa população tem vindo a diminuir e é hoje muito reduzida, podendo estar em vias de desaparecer.

      Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Tejo, estuário do Sado.

      Corvo (Corvus corax):

      Foto: José Frade

      O que está a fazer em Novembro: O corvo é uma espécie residente que, em geral, não se afasta muito dos territórios de reprodução; assim, no Outono, é habitual encontrar a espécie nas mesmas zonas onde ocorre na Primavera, muitas vezes mantendo-se juntos ambos os membros do casal.

      Este é o maior dos nossos corvídeos, sendo do tamanho de uma ave de rapina média. A plumagem é totalmente preta, sendo de notar a cauda longa e cuneiforme, assim como o bico muito espesso. Realiza frequentemente voo planado, por vezes, em círculos e com acrobacias. A sua vocalização mais grave, «kro-kro», permite distingui-lo da gralha-preta.

      Sendo uma ave muito tímida, o corvo é encontrado sobretudo em zonas pouco visitadas por pessoas e com um povoamento humano disperso. É escasso onde existem povoamentos florestais extensos e densos, de pinheiros ou eucaliptos. É mais frequente em zonas relativamente desarborizadas do Alentejo, em certas áreas onde os montados alternam com pastagens, ou nas partes altas das serras do norte do país.

      Tal como a maioria dos corvídeos, foi muito perseguido no passado; hoje em dia esta espécie está protegida e isso tem contribuído para a sua recuperação. Segundo a Lista Vermelha mais recente, o corvo foi colocado na categoria “Pouco Preocupante”.

      Onde ver: Douro Internacional, Serra da Estrela, Tejo Internacional.

      Estrelinha-real (Regulus ignicapilla):

        Foto: José Frade

        O que está a fazer em Novembro: No Outono as estrelinhas podem ser vistas em todo o país, raramente cantam, emitindo apenas um chamamento agudo e pouco audível. Além disso, passam a maior parte do tempo nas copas das árvores, escondendo-se entre a folhagem. Por estes motivos, é fácil não dar por elas. 

        Esta é uma das aves mais pequenas da nossa avifauna nidificante. Identifica-se sobretudo pelo característico padrão listado na cabeça, que inclui uma lista supraciliar branca e, na coroa, uma lista central cor de fogo no macho e amarela na fêmea, orlada de preto. As partes superiores são esverdeadas e o ventre é cinzento.

        Nidifica em bosques frondosos, preferindo zonas sombrias e húmidas, frequentando tanto matas de caducifólias como bosques de coníferas; ocorre ainda em matas ribeirinhas (que são o habitat mais utilizado no sul), em matagais mediterrânicos altos, em bosquetes de áreas agrícolas, em áreas com mimosas, em parques e em zonas verdes de espaços urbanos.

        Na ilha da Madeira ocorre uma pequena ave muito semelhante, que é a estrelinha-da-madeira, localmente conhecida como bis-bis e com o nome científico Regulus madeirensis. Até há poucos anos, era considerada subespécie da estrelinha-real, mas actualmente é-lhe reconhecido o estatuto de espécie distinta.

        Onde ver: jardins do Porto, serra da Estrela, jardins de Lisboa.

        Pintarroxo-europeu (Linaria cannabina):

        Foto: José Frade

        O que está a fazer em Novembro: Tal como sucede com a maioria dos granívoros, no Outono os pintarroxos juntam-se em grandes bandos que patrulham os campos em busca de alimento. Formam frequentemente bandos mistos com outros fringilídeos, particularmente chamarizes, pintassilgos e verdilhões.

        Esta ave granívora caracteriza-se pela cabeça cinzenta, contrastando com o dorso acastanhado, sendo o bico escuro e relativamente espesso. Em voo, mostra branco nas asas e na cauda. Na Primavera, os machos envergam a plumagem nupcial tendo, então, a testa e o peito vermelhos, o que facilita a sua identificação.

        Ocorre tanto em terras baixas pouco acidentadas, por exemplo em dunas, salinas e terrenos agrícolas, como em zonas de montanha, frequentando neste caso formações arbustivas, por exemplo de giesta, tojo e urze, e também áreas cultivadas. É abundante em áreas amplas com agricultura pouco intensiva, ricas em incultos com matos, pousios e pastagens, como sejam as lezírias do Tejo, ou as vastas áreas escassamente arborizadas do Alentejo, da Beira interior e de Trás-os-Montes.

        O pintarroxo ocorre também no arquipélago da Madeira, mas a situação taxonómica das aves da Madeira é algo confusa. A subespécie L. c. nana, descrita pelo ornitólogo austríaco Tschusi em 1901 para as aves da região, é reconhecida pela lista de Clements, mas não pelo IOC (International Ornithological Committee) nem pela BirdLife International, que consideram esse nome inválido e atribuem a estas aves a designação L. c. guentheri.

        Onde ver: lagoa de Óbidos, lezíria grande de Vila Franca de Xira, cabo de São Vicente.

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